Erro do banco provoca o fim de um casamento de 35 anos
O Jornal Nacional de 29 de maio mostrou uma história exemplar da fragilidade do cidadão comum num mundo cada vez mais automatizado e complicado. É a história do erro de um banco. E de uma família destruída.
Foram 35 anos de casamento. Seu Luiz e dona Maria Salete tiveram quatro filhos e seis netos.
"Eu era uma pessoa feliz, num bom casamento", conta o vigilante, Luiz Gonzaga Rodrigues.
"Tinha desavenças como qualquer casal, mas era um bom casamento", concorda a servente, Maria Salete Rodrigues.
Mas há cinco anos, um erro do banco do Estado de Santa Catarina acabou com o sossego do casal. Dona Maria Salete, como costumava fazer, pegou o cartão magnético do marido para sacar o salário dele. Foi quando ela notou que no cartão do banco havia o nome de outra mulher.
"No banco eles me disseram que eu não era esposa do meu marido e até chegaram a me mostraram no computador o nome do meu marido com o nome de outra pessoa, de uma mulher", conta.
Um documento da época mostra o erro do banco. No extrato da conta conjunta do seu Luiz o nome que aparece não é o de dona Maria Salete e sim o de outra mulher: Diodete Garcia. O estrago estava feito.
"O que eu poderia pensar? Que ele tinha outra mulher, outra pessoa", diz dona Maria Salete.
"Depois disso tudo ela nunca mais acreditou na minha palavra", lamenta seu Luiz.
Dona Maria Salete pediu a separação. Seu Luiz procurou um advogado.
"Ele estava desesperado, no início não acreditei na história. Depois acabei me convencendo. Primeiro caso na minha vida profissional de um divórcio magnético", conta o advogado Cezar Cim.
A justiça condenou o banco a pagar uma indenização por danos morais, sentença confirmada em segunda instância.
"O banco errou na confecção do cartão. Mas entende que disso não decorre a separação do casal e por essa razão vai recorrer da decisão judicial", argumenta a advogada do banco, Sandra Krieger.
Dona Diodete, a mulher do cartão, tem 73 anos e só soube do caso quando foi chamada a depor. "Eu nunca o vi na minha vida e não conheço ele e o banco errou de por o meu nome na conta dele", afirma.
Mas nem a palavra de dona Diodete, nem a condenação da justiça, fizeram dona Maria Salete voltar atrás. "Só o tempo vai dizer se vou ou não perdoar o meu marido", diz.
Depois de 35 anos de casamento talvez fique só a indenização de 100 salários mínimos para cada um.
"Mas e o meu casamento, o senhor acha que isso paga? A minha vida? E a minha família? Não paga", emociona-se seu Luiz.