MANDANDO O DIREITO PARA O INFERNO
A despeito de sua utilidade e das possibilidades de ascensão social, estudar você, direito, é na maioria das vezes algo de muito, muito, mais uma vez, muito enfadonho.
E eu não sou, de forma alguma, suspeito para falar sobre isso.
Sim, senhoras e senhores, sou mais um dos milhões de brasileiros que aderiram à pretensiosa carreira jurídica. Um sonho. Talvez um sonho tolo de alguém ainda muito mais tolo que aderiu às ideologias fluidas e predominantes de nosso tempo.
É claro que tenho que dizer que nosso tempo é muito pobre no que refere à ideologia. Não há ideologias predominantes, elas estão extremamente dissolvidas pela sociedade.
Mas é certo que o programa mental mais presente nas mentes brasileiras é o de se dar bem a qualquer preço. A ideologia do levar vantagem em tudo, certo? Velho e saudoso Gerson, como haveríamos de saber que suas palavras resumiriam tão bem nossa pátria querida! E ainda ressoariam por tanto tempo!
Gerson a parte, essa história de estudá-lo, direito, a mim soa como se estivesse me traindo, traindo a mim mesmo, como o Raul disse sobre o casamento. Quando me matriculei neste curso acredito ter dado um golpe de peixeira na minha cabeça. É isso aí, peixeira, pois sou bem brasileiro, punhais é coisa de europeu.
Somente alguém que quer se dar bem na vida para estudar uma pretensa ciência como tu, ó direito. Tudo é escorregadio em você, os ritos, as regras, as milhares de leis, a memorização punheteira, os formalismos ridículos, as tentativas frustradas de ser civilizado pela abstração da lei e, o pior, a aceitação cretina de um cinqüenta milhões de dogmas.
Eu estudando algo dogmático como você, direito? Acho que estou muito perto da insânia.
Está me fazendo mal toda essa cadeia legal, toda essa teia burocrática do caralho, os três poderes, os porrecídas chatérrimos e pentelhaços do MP, toda essa canalhada pretensa, gorda e bisonha de abstrações de conceitos inquestionáveis, logo logo, direito, enviarei você também para o inferno!
Residindo uma temporada com Satanás, direito, talvez você se torne menos chato, menos burocrático, ria mais... Misture-se lá, no inferno, com a arte. É, ela mora lá. Talvez com a convivência você fique um pouco torto e pare de me importunar. Seu porra!