A escaramuça e a Placidez!

Muito antigamente quando as mulas tracionavam os ricos pelas cidades, política era coisa de bacana; pobre não se envolvia em política, porque não tinha aprendizado necessário para poder exporem-se diante de uma multidão; sim, porque naquela época, quando meu avô ainda usava fraldas, para ser político precisava ser doutor; raramente se via alguém com o ensino médio completo se arriscar pelos caminhos que conduziam aos palácios.

Ou se tinha prestígio acadêmico ou tradição familiar; sobrenomes tradicionais eram os preferidos do povão, principalmente os que também penavam pela sobrevivência. O povo, a massa maior, geralmente falida, sofrida e massacrada, adorava votar nos coronéis e seus filhos, para que estes os representassem no Governo; mal sabiam eles que aqueles cartolas somente estavam a fim de aumentarem seus domínios políticos para fazerem fortunas incontáveis.

O que aqueles políticos têm de diferente dos de hoje? Nada! Nada mudou; não fosse o crescente índice de analfabetos no Poder, nada teria mudado mesmo. Pelo menos, antigamente, os políticos precisavam ser doutores para ingressarem no ofício público; hoje em dia, nem isso é preciso, pelo menos na prática, porque em tese, a Lei diz que é preciso pelo menos assinarem o nome.

A ideologia política de servir ao país em prol da maioria, isso já morreu, foi enterrada e depois os ossos foram queimados até as cinzas; raríssimas são as exceções em que notamos circunspecção e veridicidade na face dos que discursam em palanques políticos em público. O tom de convencimento perante o povo, eleitor, é o mesmo desde os tempos de Cristo; é um tal de “eu fiz” para lá e “eu vou fazer mais” para cá, que dificilmente alguém consiga dizer quem é que esteja praticando o escárnio ou quem permaneça praticando o embuste; pior ainda são os que perpetram a emboscada pública; são destes que eu tenho mais medo!

Hoje eu ouvi de um candidato a Deputado, que graças a deus não se elegeu, que sua estratégia deu certo; segundo as palavras de quem pretendia chegar ao Congresso, mas que ficou com 3 mil votos; o pleito não foi grande coisa, mas seus 3 mil votos lhe renderá algum cargo no próximo Governo.

Confesso que fiquei curioso para saber quem era aquele aspirante a deputado federal que comemorou uma situação onde não houve vitória; o deputado não vitorioso pertence a um partido governista na esfera federal; é sindicalista e funcionário público e segundo ele próprio, poderá ocupar um cargo no próximo ano, caso sua candidata se eleja ao planalto.

A conversa durou pouco com o miúdo de congressista, apenas o tempo necessário para que eu soubesse o que muita gente já sabe; que os atuais candidatos estão mais preocupados com suas próprias peles do que outra coisa. Ninguém mais quer entrar para a política para desempenhar seus verdadeiros papéis constitucionais e neste caso, faço um desafio público, para que aponte um único nome, que tenha se elegido, para qualquer cargo público e que tenha plena consciência de sua atribuição ou ainda que tenha desempenhado com probidade irretorquível a sua função.

Num país onde quem tem dinheiro é pecador e quem não o possui é excluído, restam poucas chances para fazermos um juízo mais completo de quem exerce ou ocupa um cargo público obtido por meio de eleição popular. Com raras exceções o candidato raramente declara aquilo que possui para a Justiça; após eleito, muito desviam logo no primeiro dia o seu caráter e trai seu próprio discurso, quando se aliam antes mesmo da posse com quem vence e que está acima de seu limite de poder.

Nestas eleições, a que todos votarão no próximo dia 31 de outubro, vejo claramente que não há seriedade de ninguém; observem que já estão declarando que trabalharão com maioria do Congresso (Câmara e Senado), sem antes mesmo haver a posse. Ter maioria e contar com esta pluralidade é declarar que haverá controle pleno de pelo menos dois poderes e isso é inconstitucional, caso ninguém saiba!

A função histórica e constitucional do legislativo é fiscalizar os atos do Executivo e fazer leis e quem julga é o Judiciário; se o Executivo possui pluralidade no Legislativo e passa a contar com ele para tudo, resta-nos apenas confiar na justiça; que no Brasil, onde quase sempre Ministros e Desembargadores jamais foram juízes e são indicados pelo Executivo e passam pelo crivo do Legislativo antes de serem empossados, fica difícil esperarmos algo probo, sério e justo!

Tudo se resume a quem se elege nas eleições majoritárias dos Estados e da União; são os Governadores e o Presidente que na verdade manda em (quase) tudo. Se o Presidente ou o Governador possuir pelo menos um pouco de paciência e jogo político, dificilmente ocorrerá o mesmo que com Collor. Deputados e Senadores que deveriam ser o equilíbrio entre o mandatário e o povo, estes são desinformados, mal educados, analfabetos, alguns são literalmente palhaços e muitos são quadrilheiros respondendo a processos duríssimos na justiça, mas estão lá pela primeira vez ou retornando, porque o povo quis e o povo é quem manda.

Eu só lamento discernir que o povo elege o seu semelhante para representá-lo, assim como poeticamente somos a face de Deus, quando escrituras dizem que somos semelhantes; a massa popular manda para ocuparem as cadeiras do Poder todos os que eles acham serem iguais a si próprios em pensamentos e atos.

Sumariamente eu aponto 30% das cadeiras da Câmara sendo ocupadas por pessoas que querem apenas um salário; gente que não possui ideologia alguma e que não sabe sequer o que fazer no primeiro dia de trabalho; 50% do restante estão lá porque não conseguem viver longe das decisões; são pessoas que nasceram e cresceram vendo a política entrar em casa através da família; outros estão porque alguém os quis lá e não foi primordialmente o povão; já a menor porção está lá porque lutam muito por uma voz ativa, mas que titubeia sempre em algum momento crucial, seja na hora de vender-se, seja na hora de ausentar-se.

Nas câmaras de vereadores a coisa é ainda mais absurda; chega a ser agnóstica a causa popular em eleger pessoas tão indiferentes aos cargos municipais. Nenhum cientista político, analista público ou doutor em psiquiatria pode explicar o motivo de vermos tantas pessoas alheias a verdade sendo vereadores eleitos. Quem quiser ter uma breve idéia do que são os edis brasileiros, por favor, pelo menos uma vez na vida, visitem uma seção ordinária de uma Câmara de uma cidade do interior; é lamentável, vergonhoso, indigno, imoral e infame podermos ver alguns destes eleitos discursando. Fica claro, aliás, mais do que claro, que estas pessoas estão ali apenas por causa dos salários ou de uma oportunidade urgente de corrupção.

A escaramuça e a placidez emergem de todos os lados (ou submerge, pois não se sabe bem qual termo usar), dos neurônios destas pessoas que se dizem idealistas e se rotulam os paladinos da verdade e ingressam na política. Quando eu era criança e passei a estudar em colégio público; no ginásio, enfrentei algumas crises da educação e reiteradas vezes vi meus professores lutando por salários mais dignos; em algumas ocasiões ouvi os docentes dizendo que “do jeito que estava; eles fingiam que estavam ensinando e nós fingíamos que estávamos aprendendo”; praticamente a mesma frase pode ser atribuída aos políticos atuais; eles fingem que estão trabalhando e o povo finge que é verdade e tudo permanece como dantes no quartel de Abrantes!

Meu estimado amigo, Wellington Peres Barbosa, homem virtuoso e catedrático das ciências criminais, que ocupa cargo público através de concurso, costuma dizer que o homem que busca a excelência deveria ler sempre “A arte da Guerra” de Sun Tzu; eu reafirmo e digo que todo político deveria ler, compreender e tentar discernir “O Príncipe” de Maquiavel; somente após leituras como as exemplificadas é que alguém consegue contrabalancear entre o judicioso e o censurável, para que fuja da prática do inconveniente e ilícito; não só para que tente por seu nome no rol da história mais cristalina da humanidade, mas também para que consiga deixar um legado de coisas boas para suas futuras proles; mas se tentarmos agraciar muitos dos atuais eleitos; e isso inclui muita gente graúda, com qualquer obra literária, que pode ser de Machado de Assis à Monteiro Lobato; estaremos cometendo um atentado violento à capacidade de pensar, quiçá entupindo mais uma lixeira pública!

Nesta última eleição eu não me surpreendi ao ver Tiririca eleito; porque como já afirmei, o povo quer ver no Poder pessoas de sua iguala ética; minha maior surpresa foi ver o Senador pelo Distrito Federal, o intelectual Cristóvão Buarque pedir voto para alguém que ele tanto combateu no passado. É crível saber que ele já apoiou a mesma gente antes, mas depois que ele foi candidato a presidência no último pleito de 2006, ficou claro seu descontentamento e sua indignação; agora, pedir voto, quatro anos depois, é como afirmar que Jesus Cristo fechou pacto com as forças ocultas!

Ética não existe mais; ideologia morreu; candidatos sérios jamais existiram; os que respondem a processos criminais, muito por desvio de dinheiro público são muitos; os que sabem ler e escrever são raros; então o que nos resta? Tiririca, Paulo Maluf, Garotinho?

Eu não sou partidário; não sou filiado a nenhum partido, muito menos visto camisa de qualquer candidato, mas observo pelo menos o conteúdo de cada um, ou tento observar o que soa como verdadeiro. Dos dois atuais candidatos a presidência, Dilma e Serra, no primeiro turno houve uma calmaria tão grande entre ambos, que ficou impossível de saber quem era mais sarcástico e dissimulado dos dois. Eles evitaram ataques até o último dia e raramente se ouviu falar em “mensalões” do PT ou do DEM; parecia até que era um pacto de cavalheiros, do tipo: não atire pedras se tens telhado de vidro!

Mas neste segundo turno eles se revelaram como são; Dilma está atacando com ferocidade o Governo que dista 8 anos do atual, culpando o mesmo pelas desgraças do passado e se rotulando a mecânica do presente, além de, é claro, se auto denominando a grande mãe dos miseráveis. Já o seu oponente, que foi Ministro do Governo passado, tenta não atacar Lula, para não dar tiro no pé, mas insufla Dilma a revelar por ela mesma a sua identidade de guerrilheira e assaltante de bancos, conforme cita os anais policiais da época. No meio desta guerra de dejetos e plumas o povão se divide entre discutir o anódino ou ocultar a desgraça. Concluindo: eu não sei exatamente qual dos dois é o pior!

Parafraseando o Presidente do Uruguai Jose Mujica, que conheci pessoalmente nas minhas andanças; ele que também foi guerrilheiro, preso e humilhado em nome de um ideal completamente em desuso, costuma dizer que quando se é atacado em campanha, não se pode reagir; tem que olhar para o outro lado e agüentar firme e permanecer falando aquilo que interessa as pessoas para que se tenha a obtenção de êxito. Mujica, ou Pepe, como é conhecido pelos amigos, ainda diz que cada um, com subjetividade, deve interpretar as informações que viu, leu ou ouviu e quanto mais educada e qualificada for a população, mais diversidade haverá de opiniões. - O problema do Brasil é justamente a educação e a qualidade desta população, que ora mostra-se ingênua, ora mostra-se omissa e em muitos momentos, cúmplice!

Mas então, o que as pessoas querem? Generalizando, as pessoas querem salvar suas peles da desgraça; pouco importa se quem estará no comando da nação seja Serra ou Dilma, se sobrar um cargo para se escorar ou um pão para alimentar, que vença aquele que me propiciar; o resto do povo, este o próprio povo desconhece e tem cólera de quem admite; sempre foi assim e dificilmente deixará de ser!

Coeva e erroneamente, a maioria dos ofícios tem o seu próprio código de ética profissional; os políticos também o têm; que é um conjunto de normas de verificação obrigatória, provenientes da ética, e que por ser um código escrito e freqüentemente congregado à lei pública não deveria se chamar de "código de ética" e sim "Legislação da Profissão". Nesses casos, os princípios éticos passam a ter força de lei; note-se que, mesmo nos casos em que esses códigos não estão incorporados à lei, seu estudo tem alta probabilidade de exercer influência, por exemplo, em julgamentos nos quais se discutam fatos relativos à conduta profissional.

Ademais, o seu não cumprimento pode resultar em sanções executadas pela sociedade de seus pares, como censura pública e suspensão temporária ou definitiva do direito de exercer a profissão, situações essas algumas vezes revertidas pela justiça comum, principalmente quando os "códigos de ética" de certas profissões apresentam obliqüidade que contraria a lei ordinária. Maravilhosa retórica, porém, pouco prático!

Ética e moral são coisas completamente dessemelhantes e incondicionais para o histórico de um povo civilizado, sério, honesto e promissor; se o povo não as pratica e sequer sabem o que é, fica difícil esperarmos isso dos eleitos, pois poeticamente eles também são povo, vieram do povo e deveriam servir ao povo; mas como eu afirmei; isso está somente na poesia do cotidiano, porque pelo pretexto dos olhos práticos, são meras palavras esquecidas num dicionário qualquer. – Dicionário? – O que é isso mesmo?

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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Enviado por CHaMP Brasil em 13/10/2010
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