Extinção do exame de Ordem; o MNBD e o tiro no próprio pé

Alguém já ouviu falar sobre o MNBD?

O Movimento Nacional dos Bacharéis em Direito?

A maior luta do MNBD é pela extinção do exame de Ordem que segundo eles, barra injustamente o acesso à profissão de advogado, para a qual foram preparados pelas faculdades.

Eles alegam ainda ser o exame de Ordem inconstitucional.

Já conseguiram movimentar diversos parlamentares em prol da sua causa e também alguns juízes, promotores e até mesmo advogados compactuam com a possibilidade da extinção do exame de Ordem.

Entendo perfeitamente que o interesse do movimento é legítimo, que eles possuem bons argumentos sobre a inconstitucionalidade do exame e que muita gente é prejudicada por não conseguir aprovação e começar a exercer sua profissão de advogado.

Tudo inteligível e muito legítimo. Contudo, os bacharéis estão dando um tiro no próprio pé, e um tiro com calibre 12 que é para não sobrar nada.

Segundo algumas estimativas, há entre dois e quatro milhões de bacharéis em direito formados no Brasil que ainda não conseguiram aprovação no exame, ou seja, estão sem a carteira da Ordem dos Advogados, são bacharéis em direito, mas não advogados e, portanto, não podem exercer a profissão.

Todos nós sabemos que há um contingente enorme de advogados no país, algo em torno de 600 mil e somente em São Paulo há quase metade desse batalhão de gravata.

Havendo esses quatro milhões de bacharéis, ou dois milhões como queiram, se essas pessoas vierem a se tornar advogados de fato, o que irá acontecer com a profissão?

Certamente haverá um sucateamento da profissão que já está por demais saturada. A invasão de advogados no mercado será tão grande que vai ser difícil, mesmo com toda essa gente com carteira da OAB na mão, conseguir trabalho.

E quando conseguir algum trabalho o novel causídico terá que cobrar preços irrisórios, pois a concorrência será algo de asfixiante.

Acabar com o exame de Ordem pode resolver o problema dos bacharéis num curto prazo, mas a médio e longo prazo a liberação do exame se revelará uma péssima decisão para os próprios defensores e beneficiários dela.

Por isso digo que é um tiro no pé. E ainda é injusto com os mais preparados e estudiosos, que conseguem passar no exame, que tenham o seu mercado de trabalho assim tão saturado.

A profissão de advogado não é, infelizmente, para qualquer pessoa.

É necessário ter uma fluência lingüística tanto oral como escrita, além de grande bagagem cultural e experiência de vida.

Sabemos muito bem que os estudantes de forma geral não possuem estas qualidades. A maioria mal sabe escrever, quando não são analfabetos funcionais. Como essas pessoas vão ser advogados?

O MNBD na verdade está defendendo mal o bacharel, o bom bacharel.

Pois o bom bacharel, o estudante zeloso, irá conseguir a aprovação no exame facilmente.

A extinção do exame de Ordem beneficiará somente os preguiçosos e relapsos, e em longo prazo se revelará uma catástrofe para os advogados e para a sociedade.

Defender o interesse de alguém não é apenas uma defesa que prevê os efeitos imediatos da vitória, mas também aquela que antecipa o futuro, que assegura o interesse do cliente por um longo período.

Isso é uma boa defesa.

Se os bacharéis em direito conseguem ver apenas o momento presente, se têm apenas uma visão extremamente imediatista de seus próprios interesses, como podem postular pelos interesses de outrem?

Convido os líderes do MNBD a pensar de forma mais profunda na questão da extinção do exame, não porque eu seja um defensor da OAB ou do seu corporativismo, mas por pensar neles mesmos como advogados do futuro, com carteira na mão, mas com um mercado de trabalho extremamente saturado e sem perspectivas.

O tiro poderá aleijar o pé, definitivamente.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 18/06/2010
Reeditado em 18/06/2010
Código do texto: T2326946
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.