IMPLICAÇÕES JURÍDICAS DO RELATO DE KURT SONNENFELD
Creio que o Livro “EL PERSEGUIDO” – publicado pela Editora Planeta de Buenos Aires – ainda não foi traduzido para o português , mas tive a felicidade de ler a obra, que é um relato do próprio autor Kurt Sonnenfeld, envolvendo sua participação nos episódios imediatamente posteriores ao atentado das Torres Gêmeas , em Nova York.
Kurt Sonnenfeld , cidadão americano , era agente da FEMA , (Federal Emergency Management Agency), uma agência do governo dos EUA que age em situações de catástrofes , documentando e investigando os eventos causados por ação da natureza ou mesmo humana . Os agentes da FEMA, portanto, convivem com as demais instituições do estado, tais como o FBI e a CIA no cenário pós sinistros.
Foi nessa condição de agente estatal que Kurt Sonnenfeld documentou todo o cenário de destruição do World Trade Center, e foi justamente devido a essa sua participação nos acontecimentos que foram deflagradas uma série de situações que literalmente implodiram sua vida , inclusive privando-o da liberdade e culminando com sua atual condição de asilado político , refugiado em Buenos Aires onde vive com sua a esposa argentina que conheceu após sair dos EUA.
Mas o que chama a atenção no relato do livro “EL PERSEGUIDO” é a fragilidade institucional em que se viu jogado esse cidadão que após o suicídio de sua primeira esposa também americana, foi acusado de homicídio contra todas as evidências de prova que apontavam cabalmente para suicídio. Mesmo tratando-se de um importante agente da FEMA, estranhamente conta o autor que foi abandonado ao cárcere e só conseguiu a liberdade depois que seus advogados provaram perante um Juiz americano a fragilidade das acusações que desprezavam, entre outras provas, o exame residual de pólvora na mão da própria vítima além de uma carta de despedida, onde anunciava a intenção suicida.
Revogada a prisão, emocionalmente liquidado, o homem viajou para a Argentina onde lhe foi oferecido descanso num imóvel no famoso balneário de Mar del Plata , propriedade de pessoas alinhadas à família, a fim de que pudesse se recuperar dos traumas da prisão injusta e reencontrar o equilíbrio que lhe fora subtraído.
Já em solo argentino conheceu e se apaixonou por uma jovem portenha , com a qual resolveu casar e não mais retornar para os EUA , tamanho o trauma que lhe restou do contexto. Contudo, mesmo depois de ter sido liberado pela Justiça de seu próprio País, foi um dia detido pela Interpol e jogado ao cárcere na Argentina por solicitação do governo dos EUA que pedia sua extradição, como que rasgando todas as provas que sua defesa já havia logrado produzir.
Numa trama de espionagem e de conspiração que deixa o leitor perplexo, Kurt Sonnenfeld teve de se submeter a mais alguns meses de desgastante prisão na Argentina, até que um Juiz Federal de Buenos Aires resistindo a toda a pressão e barganha dos EUA negou o pedido de extradição , reconhecendo que o homem corria até mesmo sério e iminente risco de morte.
A motivação para toda a perseguição é revelada no Livro EL PERSEGUIDO e deixa o leitor perplexo, pois induz à conclusões claras de que muita informação foi sonegada ou manipulada à opinião pública no episódio do atentado contra as torres gêmeas e , pior do que isso , acena para a possibilidade de que arquivos secretos depositados em escritórios governamentais situados no complexo haviam sido esvaziados antes dos ataques, o que foi documentado por Kurt Sonnenfeld, inaugurando uma implacável caça ao ex-agente.
Muito mais que um relato cinematográfico e traumático, o livro “EL PERSEGUIDO” revela uma fragilidade jurídica monumental , posto que no País que se intitula como a maior democracia do mundo e detentora de um Judiciário confiável e eficaz , a narrativa de Kurt Sonnenfeld permite a qualquer operador do direito sentir calafrios diante da intolerável interferência do “estado” num processo criminal , forjando indiciamento injusto e prisão arbitrária , além de uma perseguição internacional a um inocente. Recomendo a leitura – realmente bombástica !