A nudez da ética

Despir a ética contemporânea dos valores liberais e burgueses não é tarefa fácil. A igualdade a qual nos acostumamos é a meramente formal, burocrática e tão imaginada que chega ser não palpável.

Hoje contratar é algo assim tão simples e simplificado que um mero “sim” faz surgir poderosos vínculos para correntistas, clientes, e consumidores em geral, mas as regras estão claras. A letra é legível e a linguagem é acessível?

Pois é, chegamos ao absurdo de existir uma lei que expressamente imponha coisas banais como o tamanho da letra dos contratos, bem como dispõe sobre a clareza da linguagem.

A maioria dos princípios éticos ocidentais engrossam o individualismo e o egoísmo e montam um embuste de igualdade. Pretendem instituir uma competição justa mas sabemos que algumas criaturas estão ab ovo condenadas a subnutrição, a falta de educação básica, a falta de higiene e condições mínimas de sobrevivência. Afora isso, a ditadura genética embutida no genoma humano já esboça a arquitetura primordial desses entes vivos e racionais.

De sorte que concorrência justa é em verdade um jogo de cartas marcadas, seja pela teoria cíclica da história, seja pelo o percentual mínimo dos oprimidos e massacrados por uma realidade social brasileira repleta de cruéis desigualdades e de abismos sócio-culturais.

Despir e desconstruir a ética praticada e inquirir o fundamento do certo e do errado, do justo e do injusto, do equânime e do desequilíbrio que só faz aumentar não só a criminalidade mas um caminho sem volta, e ainda circundado pelo fosso da indiferença e da corrupção política que assola o país.

É um desafio não só para os filósofos, pensadores, mas principalmente para os educadores que possuem a missão primacial de acordar hordas de jovens e estudantes da sonolenta alienação que é fartamente disseminada pela televisão, pelos jornais, pela publicidade e, sobretudo, pelas ideologias das classes dominantes.

Que sempre arrumam um jeito não só de se justificarem, mas de se perpetuarem no poder.

Mesmo sob as vestes mais humildes e sob as figuras mais caricatas colocadas a bem de um proselitismo e um populismo que ainda nos dias de hoje galgam êxito exuberante.

É preciso, senhores, despir a ética, vê-la nua, em sua crua natureza, e pesquisando seus valores e bens protegidos, descobrirmos bem mais do que apenas sobreviver. Mas viver finalmente com alguma dignidade, a esperar um futuro que ainda possa ser construído pela vontade de cada um de nós, ou pelo menos, menos passivo pela ausência de tanta omissão e servilismo.

Precisamos acreditar num futuro possível para nossos descendentes, e não morrer de pena de tê-los, e ainda lamentarmos nostalgicamente os tempos idos que jamais retornarão. A roda da história não pára, e o tempo rege não só os homens, mas as ciências humanas, a tecnologia e, sobretudo a razão de viver.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 11/12/2008
Reeditado em 21/02/2010
Código do texto: T1330288
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.