FOOTING

Dezessete anos eu tinha quando nos conhecemos,

Já dono de meu nariz, me encantei, por seus modos meigos.

Ela com dezesseis e divinamente donairosa, venusta e bela.

Idos dos anos sessenta o jardim de minha cidade natal,

Era o point aos sábados e domingos, em footing, nos divertíamos.

Cada volta um reencontro e possibilidade de confirmar interesse...

Na próxima volta tomo coragem e falo com ela,

Treinava as palavras, queria causar boa impressão,

Mas ela não passou, duas voltas a mais e nada.

Pensei, tontão, demorou e ela se foi, que vazio...

Dei mais uma volta como que chutando pedras na rua,

Uma tristeza ruim, machucava minhas vontades.

Na parte de baixo do jardim ficavam os namorados,

Passei absorto pelo coreto e fui procurar o que não queria encontrar,

Aliviado constatei, lá ela não estava, que alívio.

Sai do jardim e fui rumo ao bar do Chiquito, tomar uma caçulinha,

No trajeto encontrei amigos que me convidaram para um bailinho de garagem,

Fui, pois, me sentia tão-só e sempre puxava minhas orelhas...

Diziam ter emprestado uma vitrolinha e tinham três discos compactos

Gianni Morandi, Earl Grant e a música Aline com Christophe, eram suficientes.

Gostávamos muito de dançar, e mais ainda de arroz com frango caipira...

Subimos a pé e conversando animadamente sobre paquerinhas.

Na esquina já ouvimos a música, apressamos o passo, ansiosos.

Turma boa que sempre se reunia, sempre tinha violão e sorrisos.

Poucos casais dançavam, os que namoravam a algum tempo.

Ali me sentei e ouvia as músicas, essas que ouviria muita, vezes.

Eis que de repente ela chega, que alegria de alívio mútuo...

Fomos apresentados, não disse uma palavra das ensaiadas, mas deu certo.

Ela não era daqui, e nunca fora a bailinho de garagem, mas logo se adaptou.

Fomos dançar, segurar em sua mão foi como tocar um ser divino.

Sentir de perto seu rosto, seu hálito seu calor seu cheiro sua boca...

Nossos movimentos eram de tal entrosamento que a inércia do prazer, nos levou.

Comemos, conversamos e a levei para casa de mãos dadas, inefável e inesquecível!

Namoramos uns meses, mas pela distância e outras desafinidades, separamos.

Ontem fiz sozinho, ao anoitecer, o caminho do saudoso do footing...

Ontem me fiz sozinho em minhas lembranças, em minhas doces saudades

Cesar de Paula
Enviado por Cesar de Paula em 07/07/2022
Reeditado em 28/09/2022
Código do texto: T7554832
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