Espectros

Os passos nos levam adiante

Por puro rito da vida

Que obriga a caminhada.

Mas inconsciente, manada

Que segue pro matadouro

Sem forças para um estouro

Fiéis de uma fé vazia

Que abençoa a não ação

A vida no ostracismo

À servidão, condenados

Sem rumo, pão e cuidados

Humilhados pelo cão

Nossos passos tolerantes

Nada mudam, só adiam

Ser a oferenda da vez...

Olhamos sem mais remorsos

Nossos filhos, companheiros

Os mais fracos, devorados

E aliviados respiramos

Caso chegue a nossa vez

Que o lobo esteja saciado.

E mais, achamos ser benção

De um deus, que é seletivo

Ter nos livrado do mal.

Mas por tudo a covardia

Que nos impede a porfia

E a morte com honradez

Bota brio em nosso espectro

Que com esse ar patético

Louva a própria insensatez.