Acidente de percurso

Mal chegou, tirou a roupa,
na justa cota profissional...
Só lhe interessava o vil metal...

Não esperou abraçá-la,
nem esperou um carinho:
ficou nua, calada, nada vassala...

Sua nudez me acendeu o desejo,
me fez esquecer que a vida é dura...
Dedilhei seu nome nas suas curvaturas...

Doce, ela sempre me acolhia primeiro;
atrevida, abria as pernas sorrindo,
num sorriso enigmático e trigueiro...

Éramos um dueto visceral:
se a beijava, ela sorria um preço;
se a tocava, murmurava em real...

Era sem exagero: um belo animal...
Expus meu coração ao seu gosto,
rastejei na lama em seu nome...

Humilhado, explorado, cego de amor,
fui alvo de sua gana insana... Fui dor!
Mas uma força me arrastava dela!

Fui puro pecado e me aproveitei...
E me vi cliente dela, que nunca fui,
e, abalado, perdi o amor que dei...

Rasgado ao meio, meu tempo acabara,
num trágico adeus ao duro cabaré
e fiquei ao deus-dará, como começara...