As dores de Maria (II)
QUADRIVIUM
A fúria vegetal do tronco morto
Pesa no ombro em que depus a lágrima
E com seu peso confirma a dor do Horto.
Depus a lágrima; e o mundo, sua lástima:
Essa alga profusa e exorbitante
Galgando o peito em negra numismática
Com a qual Satã gozou seu montante
De almas que se riem de meu Rei;
Ele, porém, as roubará do guante
Do senhor das potestades que temeis.
E entre ladrões na cruz suspenso
Levanta-me dores que não sei
Como não levaram as asas de meu senso
Para longe, deixando comigo (eu tão escassa)
Sobre o colo doloroso corpo. O lenço
De Verônica tem um rosto que não passa
A luz que vi em ti, Jesus, meu filho
Quando me disseram: Ave, cheia de Graça.
E nesta gruta escura em que o fio
Da vida balança e se perde entre nuvens
Eu vejo os dias como se visse um rio
Que só levasse a maldade dos homens.