As dores de Maria (I)
TRIVIUM
Dizem que o madeiro foi a estrela densa
A queimar na mãe sua pulsão de mármore;
É engano, mais um, porque quem pensa
Cresce qual ramo de obtusa árvore
Cujo fruto se dissolve mal o colhemos
Ramo da razão coberta de azinhavre.
A cruz foi sim a última estação;
A dor primeira veio após a alegria
Na grata língua do velho Simeão
Que entre as pedras do templo entrevia
A salvação das almas e em paz morreu
Enquanto eu começava com meu filho a via
Repleta de chacais e abutres; o meu
Silêncio se prolongaria, esse livro
Com arabescos da agonia que o tempo leu
Lento, tempo, com seus sete distritos
Começados na luminosa escuridão do templo
E continuados na vermelha trilha para o Egito
Formada pelo sangue que contemplo
Alagadas dores de mães e o silêncio
Da espada nos meninos cujo exemplo
Meu filho em poucos sóis será o pênsil
Seguidor, por redimi-los, e aos soldados
Que os roubaram às mães e me deram extenso
Motivo de dores, asas de agravos
Demônios voadores cegando o céu
Que todo em minha alma cresce igual a um cravo.
A dor de o perder também a senti
Quando com José em Jerusalém
Junto aos doutos a falar de Deus o vi.
Isso, depois de três dias pânicos
Como os três em que Ele, enterrado
Furtou-se do meu olho e de meu ânimo.
* * *
Interação com o poeta Jacó Filho, sempre gentil e inspirado:
CHAMAM-NA MARIA
Aquela que recebe a luz e gera Cristos,
De Apolo a Moisés, de Crishna a Jesus...
Tal a mãe natureza a fertilidade traduz,
Perpetuando vivo o belo a olhos vistos...
Doando-se em vida ao proteger a prole,
Porta do universo sua grandeza infinita...
Apenas na mulher a semente multiplica,
E chamam-na Maria, se o céu a escolhe...
Carregando nos seios alimento e curas,
Transfere imunidade pro recém-nascido...
E escreve na ciência o jamais traduzido...
Com os olhos no céu, ela ainda procura,
O poema em estrelas, onde está escrito,
Que serão do mundo, o regente remido...
JACÓ FILHO
(Forte abraço, poeta! Muito obrigado!)