Diante da Virgem

Senhora minha, um escritor cansado

Revê a vida e tenta alçar uma prece

Para além do teto, para à luz dos prados

No Céu alcancem vossa mão que tece

Um sudário para os dias meus já mortos

E o desfaz quando meu corpo oferece

Um movimento para os sutis portos

De vosso manto, azul ancoradouro

Esse descanso para quem por tortos

Caminhos e por terras de desdouro

Com mãos e pés desnudos palmilhou

Detendo-se em frontões de falso ouro.

Odisseu sem glória e sem astúcia

Sou eu a Troia que às chamas se entregou.

Buscando a Ti, Sagrada Mãe, ó núncia

Do Mistério maior que me engendrou

Espero detenha-se de uma vez a faina

De esfazer o lenço em que a morte estampou

Os dias meus de muito lodo e paina

E eu possa enfim evaporar os vinhos

Que este tempo de ilusão me inoculou.

Rodrigo C Pereira
Enviado por Rodrigo C Pereira em 14/08/2019
Código do texto: T6720333
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