O BREVE LIVRE VOO DOS VERSOS
O BREVE LIVRE VOO DOS VERSOS
O livro se abre pelo vento
e permite que os versos nele contidos,
voem pelos ares frescos do dia.
Voam esses versos por instantes,
mas pousam logo sobre
as frondes das árvores dispersas.
O livro continua aberto
pela ação do vento afoito,
que ri com a fuga dos versos.
A ação do vento se amplia
e leva os versos para mais longe,
que já pousam sobre as aves
que passam voando apressadas,
levando alimento aos ninhos
feitos nos cimos das árvores serranas.
Os versos, bem alegres, se divertem
sob a luz do sol morno do dia,
cujo vento lhes refresca as letras.
Por enquanto, sofre tão triste,
da solidão tão amada por Rilke,
o livro ainda aberto sem os versos.
De súbito, o vento cessa e o livro
se fecha. O sol agora é apenas
um ocaso rubro no final da tarde.
Ouve-se o canto do rouxinol,
que chega para a alma do livro,
como um lamento de algo vazio.
Mas, qual porta fechada que se abre,
o livro recebe do bico da ave canora,
os versos exaustos do breve livre voar.
Escritor Adilson Fontoura