SEVERA ESPERANÇA
Não sou mais sólido tampouco complexo...
Agora caminho translúcido em espirais descendentes
Sou um viajante das memórias desprovidas de nexo
Fui aspirante e loquaz em tempos idos
Chamavam-me de formador de opiniões
Hoje apenas concluo poemas doídos
Já tive as qualidades do cidadão completo
Quando era físico e não espectral...
Nesses dias porém só sinto um retorno ao feto
Quando me perguntam algo não mais discurso...
Fico naquela zona cinza onde são gerados os vácuos
Permaneço em suspensão numa linha sem curso
A clareza continua mas não mais viceja
Os fatos já não trazem novidades e as causas tampouco...
Enquanto a fronte encara o infinito e mareja...
Resta o aguardo e a temperança
Compostos mais de água do que fogo
No cultivo silencioso de uma severa esperança.