SEVERA ESPERANÇA

Não sou mais sólido tampouco complexo...

Agora caminho translúcido em espirais descendentes

Sou um viajante das memórias desprovidas de nexo

Fui aspirante e loquaz em tempos idos

Chamavam-me de formador de opiniões

Hoje apenas concluo poemas doídos

Já tive as qualidades do cidadão completo

Quando era físico e não espectral...

Nesses dias porém só sinto um retorno ao feto

Quando me perguntam algo não mais discurso...

Fico naquela zona cinza onde são gerados os vácuos

Permaneço em suspensão numa linha sem curso

A clareza continua mas não mais viceja

Os fatos já não trazem novidades e as causas tampouco...

Enquanto a fronte encara o infinito e mareja...

Resta o aguardo e a temperança

Compostos mais de água do que fogo

No cultivo silencioso de uma severa esperança.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 03/06/2017
Código do texto: T6017374
Classificação de conteúdo: seguro