Tercetos Confessos
Solitude, louca vaidade quimérica.
Por que tu me pedes ascéticos amores
De cunho simbólico e angústia homérica?
Solitude, mitologema satírico.
Teu solipsismo ideal invejo os valores,
Restituídos do rasgo deste sofrer lírico.
Solitude, reminiscente quasimatéria.
Teu bramido só ouvem os aduladores,
Em mim, alimenta-se a triste comiséria.
Solitude, antiparoxismo metafórico.
Quem há de vir a ti sossegar as dores?
Nostalgiar-me parece último verso córico.
Solitude, inacontecida memória.
Se a hiância do antigo calar-se fores,
Não encontrarás-me tua fenda compulsória.
Solitude, impenetrável mistério.
Dá-me o antídoto para as epífanas dores,
Alforria-me deste claustro cautério!
Solitude, controversa retórica.
Não me inventes gesto às mortas flores,
Resguarda-me desta paixão eufórica.
Solitude, antiga chaga coronária.
Não quero mais reclamar meus horrores;
Invade-me, tira-me desta senda ordinária!