HARPEJOS * Cantares... (16)
Soletro, em cada verso, harpejos de inocência,
na pálida cadência
do vago anoitecer...
*
E vou, de verso em verso, ousando o meu poema,
silvestre, de alfazema,
num vago conceber...
*
Os ritmos são de acaso, arfando ou suspirando,
assim, sem onde ou quando,
num vago acontecer...
*
As rimas, sem matiz, são vãs sonoridades,
num manto de ansiedades
de vago entretecer...
*
Escrevo devagar. De dia ou a desoras.
Meu tempo tem por horas
um vago discorrer...
*
Na folha de papel, que branca me seduz,
revérberos de luz
num vago entontecer...
*
Meus olhos semicerro à luz que me encandeia.
No verso que tacteia,
um vago debater...
*
No peito, o coração, aos poucos, esmorece
e o verso desfalece,
num vago adormecer...
*
O verso derradeiro, o verbo imperecível,
extingue-se, impossível,
num vago emudecer...
*
*
José-Augusto de Carvalho
Viana * Évora * Portugal
Do livro a publicar: Harpejos crepusculares