TEMPO
Aquele que corrói como uma traça;
como um cupim sequioso num madeiro;
aquele que, voraz, tudo ameaça.
Com os olhos espreitando o mundo inteiro,
não há nenhum lugar que o não conheça
e o sinta caminhar lento ou ligeiro.
Ele faz que, da vida, o enigma cresça
e, mudo, incontestável, a vai mudando,
fazendo que no ar desapareça.
Aquilo mais viçoso vai murchando,
aquilo que era forte enfraquecendo;
no tempo, tudo vai se contrastando.
(Veja a cabeça ali enlouquecendo,
por só votar ao tempo uma moeda
que ele mesmo pagou ao mundo horrendo!)
Não sei se mal ou bem que ao mundo, em queda,
chegou um dia pelas mãos de Deus,
mas sei que ao Deus grandioso ele arremeda,
pois, se castigo lança sobre os seus,
no mesmo passo faz curar feridas,
mostrando piedade como Deus.
Também as mãos que fez enfraquecidas,
passando, em seu cadenciado passo,
torna de novo, então, fortalecidas.
Ele, que traz a noite e seu cansaço,
também do sol que brilha é responsável
e tudo que ele torna um embaraço
se nos confia muito mais maleável.