Me fitas deslumbrante e distraída

Me fitas deslumbrante e distraída

Como se fosse a folha, que caída

Perfuma o passo ao viajor tristonho.

Mas em meus passos, cada flor deponho

Um beijo d'inocência e de carinho,

Qual pássaro que forma o próprio ninho.

Meu seio inda é tão triste, mas sofria...

Sangrava como o sol do meio-dia

Que aos poucos no horizonte desmaiava.

Teu canto à minha lira soluçava

Co'as notas duma escala do oriente,

Ao som dum violino transcendente.

O teu andar lembrava-me a gazela

Que pela mata densa inda é tão bela,

Matando a sede longa num orvalho.

Eu era o meigo inseto que no galho

Lançava-se veloz e destemido

Nos lábios teus... morrendo sem gemido.

Me fitas -, mas somente em pensamento;

Na pulcra eternidade dum momento,

Nas minhas orações dominicais.

Mas sinto que perdi; que nunca mais

Irei rever-te; bela, pura e firme.

Um anjo, que ao meu seio em dor, redime.

22 de Março de 2013