IV - GETSÉMANI - O estigma da solidão
Foram dali finalmente
Daquela festiva ceia
Com seu aspecto dolente.
Andaram p´la noite feia
À luz duma tocha ardente
Trazida da Galileia.
Pararam nas pedreneiras
Daquele horto solitário
Do Jardim das Oliveiras.
O bom Mestre sem horário
Ousou subir as ladeiras
Com alento temerário.
- Sentai aqui e vigiai
Nesta hora de loucura
Que o Rabi para além vai.
- Minha solidão perdura
Pela noite que s’ esvai
Penando eu de amargura.
- Meu Pai, onde está a graça
Que tanto me faz sofrer?
Não quereis beber a Taça?
Foi com seus amigos ter
Mas, ó ´spanto, ó desgraça,
´Stavam quase a adormecer.
- Simão, Tiago, João,
Não pudestes vigiar
Aquando desta aflição?
- Dormi sim, mas sem parar,
Não há outra solução,
Pois a hora ´stá a chegar.
Regressou, então, à gruta
E de novo sobre as fráguas
Ficou só naquela luta.
- Meu Pai, arred’ estas águas
E comigo faz permuta
Aliviando minhas mágoas.
Olhou, enfim, pelo umbral
E uma fúria aconteceu
Numa tristeza brutal.
- Ó filhos de Zebedeu,
Será que estou vendo mal
Quem tal sono vos teceu?
- Dormi, finalmente, agora
Pois chegou a minha hora!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA