IV - GETSÉMANI - O estigma da solidão

Foram dali finalmente

Daquela festiva ceia

Com seu aspecto dolente.

Andaram p´la noite feia

À luz duma tocha ardente

Trazida da Galileia.

Pararam nas pedreneiras

Daquele horto solitário

Do Jardim das Oliveiras.

O bom Mestre sem horário

Ousou subir as ladeiras

Com alento temerário.

- Sentai aqui e vigiai

Nesta hora de loucura

Que o Rabi para além vai.

- Minha solidão perdura

Pela noite que s’ esvai

Penando eu de amargura.

- Meu Pai, onde está a graça

Que tanto me faz sofrer?

Não quereis beber a Taça?

Foi com seus amigos ter

Mas, ó ´spanto, ó desgraça,

´Stavam quase a adormecer.

- Simão, Tiago, João,

Não pudestes vigiar

Aquando desta aflição?

- Dormi sim, mas sem parar,

Não há outra solução,

Pois a hora ´stá a chegar.

Regressou, então, à gruta

E de novo sobre as fráguas

Ficou só naquela luta.

- Meu Pai, arred’ estas águas

E comigo faz permuta

Aliviando minhas mágoas.

Olhou, enfim, pelo umbral

E uma fúria aconteceu

Numa tristeza brutal.

- Ó filhos de Zebedeu,

Será que estou vendo mal

Quem tal sono vos teceu?

- Dormi, finalmente, agora

Pois chegou a minha hora!

Frassino Machado

In JANELAS DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 08/04/2012
Reeditado em 12/04/2012
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