Desabafo
Ando pelas ruas desligada,para meu emprego vou calada,
sem vontade de falar.
Chega a noite enluarada,
no silêncio da calçada,
eu estou a caminhar.
Olho o movimento na avenida,
e me lembro da despedida,
parece-me que o mundo vai acabar.
Entro em casa perturbada,
pelo destino desventurada,
não sei por onde começar.
Na penumbra do meu quarto fico parada,
a lembrança de novo daquela estrada,
que a vida do meu amado foi tirar.
Em meio aos pensamentos fico perdida,
com a saudade entristecida,
e começo a soluçar.
E me lembro daquela tarde colorida,
eu como sempre bem vestida,
na pracinha fui passear.
Sentei num banco despreocupada,
ele me viu e deu uma piscada,
depois ao meu lado veio sentar.
Envolvo-me em pensamentos até de madrugada,
e me deito amargurada,
tenho vontade de chorar.
Acordo em meu leito torturada,
por uma dor desesperada,
mas eu tenho que levantar.
Saio de casa apressada,
e pego o mesmo ônibus da manhã passada,
a velha rotina irei enfrentar.
Desço em meu ponto atrasada,
e escuto o vozerio da multidão alvoroçada,
mas continuo a andar.
De repente caio em mim, e vejo que estou acordada,
até me sinto envergonhada,
pela vida que estou a desprezar.
Entro no escritório animada,
para minha mesa em disparada,
inspirada até para cantar.
Sinto-me pelo mundo agitada,
pelo trabalho ocupada,
não tenho tempo de pensar.
E assim vou vivendo conformada,
nesta minha vida rimada,
que eu nem posso processar.
( Esta poesia é uma obra de ficção )