Desabafo

 Ando pelas ruas desligada,
para meu emprego vou calada,
sem vontade de falar.
 
Chega a noite enluarada,
no silêncio da calçada,
eu estou a caminhar.
 
Olho o movimento na avenida,
e me lembro da despedida,
parece-me que o mundo vai acabar.
 
Entro em casa perturbada,
pelo destino desventurada,
não sei por onde começar.
 
Na penumbra do meu quarto fico parada,
a lembrança de novo daquela estrada,
que a vida do meu amado foi tirar.
 
Em meio aos pensamentos fico perdida,
com a saudade entristecida,
e começo a soluçar.

E me lembro daquela tarde colorida,
eu como sempre bem vestida,
na pracinha fui passear.
 
Sentei num banco despreocupada,
ele me viu e deu uma piscada,
depois ao meu lado veio sentar.
 
Envolvo-me em pensamentos até de madrugada,
e me deito amargurada,
tenho vontade de chorar.
 
Acordo em meu leito torturada,
por uma dor desesperada,
mas eu tenho que levantar.
 
Saio de casa apressada,
e pego o mesmo ônibus da manhã passada,
a velha rotina irei enfrentar.
 
Desço em meu ponto atrasada,
e escuto o vozerio da multidão alvoroçada,
mas continuo a andar.
 
 De repente caio em mim, e vejo que estou acordada,
até me sinto envergonhada,
pela vida que estou a desprezar.
 
Entro no escritório animada,
para minha mesa em disparada,
inspirada até para cantar.
 
Sinto-me pelo mundo agitada,
pelo trabalho ocupada,
não tenho tempo de pensar.
 
E assim vou vivendo conformada,
nesta minha vida rimada,

que eu nem posso processar.

( Esta poesia é uma obra de ficção )
Fernanda Goucher
Enviado por Fernanda Goucher em 06/04/2012
Reeditado em 22/03/2016
Código do texto: T3596891
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