ANTES DO FIM

Eu quero fugir para o fim

do mundo, sem caminho

reto para não desviar,

antes da noite chegarei

além dos limites cegos,

os olhos da mente a tropeçar

no mundo distante, alcançarei

pela arte do olho mágico

a porta da entrada triunfal.

Antes de ver os filhos da

rua na réstia das flores

aromáticas em perfume de papel,

quero fazer a réstia nos

galhos verdes das árvores

frondosas do mundo natural.

Antes do dia raiar o sol já

é meu, alcancei a ilha no

fim do começo da proclamação,

na busca da razão em flor

viva a ofuscar o ser, homem-verbo

na margem livre do temporal.

Eu quero voltar ao começo,

ao berço do homem novo

dormindo na cantiga de louvação

cantar em versos de trovas

lançar a história nova

armar a rede na lentidão

e fugir para o fim do

mundo, abrindo a porta da

graça para o triunfo da

raça nobre, do riso frouxo

na chegada ao ancoradouro

da verdade viva da humanização.

Antes do fim viajarei ao

meio tempo das palavras

gastas nas estradas cruas

cantarei as horas da lua

em passos firmes e vozes alegres

trocarei o verbo pelas ruas

livres e sentarei na esquina:

ali passam dias e vidas findas

no começo da proliferação.

Abrirei a porta da alegria,

matarei o fim como guia

darei a voz da libertação.

Fugirei do fim, da esquina,

da porta: seria pisado na

garganta e enterrado na horta

a matar a fome da nação.

Antes do fim fugirei à

rede na brisa do começo...

morreria de frio na solidão.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 28/03/2011
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