ANTES DO FIM
Eu quero fugir para o fim
do mundo, sem caminho
reto para não desviar,
antes da noite chegarei
além dos limites cegos,
os olhos da mente a tropeçar
no mundo distante, alcançarei
pela arte do olho mágico
a porta da entrada triunfal.
Antes de ver os filhos da
rua na réstia das flores
aromáticas em perfume de papel,
quero fazer a réstia nos
galhos verdes das árvores
frondosas do mundo natural.
Antes do dia raiar o sol já
é meu, alcancei a ilha no
fim do começo da proclamação,
na busca da razão em flor
viva a ofuscar o ser, homem-verbo
na margem livre do temporal.
Eu quero voltar ao começo,
ao berço do homem novo
dormindo na cantiga de louvação
cantar em versos de trovas
lançar a história nova
armar a rede na lentidão
e fugir para o fim do
mundo, abrindo a porta da
graça para o triunfo da
raça nobre, do riso frouxo
na chegada ao ancoradouro
da verdade viva da humanização.
Antes do fim viajarei ao
meio tempo das palavras
gastas nas estradas cruas
cantarei as horas da lua
em passos firmes e vozes alegres
trocarei o verbo pelas ruas
livres e sentarei na esquina:
ali passam dias e vidas findas
no começo da proliferação.
Abrirei a porta da alegria,
matarei o fim como guia
darei a voz da libertação.
Fugirei do fim, da esquina,
da porta: seria pisado na
garganta e enterrado na horta
a matar a fome da nação.
Antes do fim fugirei à
rede na brisa do começo...
morreria de frio na solidão.