Da Forma
O poema sempre teve uma beleza em sua forma. A forma fixa de uma sextina, de um soneto, trova sempre foi de mística e ritmo incontestáveis. E por muito tempo a forma fixa, metrificada e rimada foi pré-requisito de todo poema. Mas com o tempo surgiram linhas que desestruturaram essa forma. Versos livres, sem métrica e sem rima ou qualquer estruturação de estrofes. E ainda mais tarde aparece o poema gráfico, onde as letras formam desenhos ou dão idéia de algo concreto pela simples disposição das letras. Ainda muitos consideram isso uma aberração e refutam totalmente a idéia da forma livre. Assim como muitos adeptos da forma livre repugnam a forma fixa. Portanto, qual será a forma mais adequada ao poema?
O discurso do lado fixo prima a beleza e o trabalho árduo na construção do poema. Prezam a métrica como determinante do ritmo e a rima como suavidade fonética. Tem no soneto sua bandeira, a primazia de beleza do poema português configurado em catorze versos.
O discurso do lado livre prima também a beleza e o trabalho. Refutam a métrica por vê-la como prisão ao processo criativo e a rima como algo monótono. Tem em Drummond sua mais bela corrente, o gênio das palavras.
Ambos os lados são belos. Ambos os lado tem ritmo, não somente a métrica que o dá. Ambos os lados são iguais. Não importa quais artifícios se utilize para construir um poema, não deixará de sê-lo por conta da falta de uma sílaba poética.
Mas ainda a discussão é grande. Há uma tendência dos poetas livres em nomear seus poemas de sonetos. Comparam o ato com nomear um cachorro de papagaio. É claro que se pode nomear um cachorro de papagaio, mas isso não fará com que ele crie penas e saia voando. Não é o nome soneto que o dá sua mística, sua beleza, é a sua forma, sempre foi. Não há por que alterar isso, não há necessidade de chamar um cachorro de papagaio.
Essa confusão é gerada por uma pergunta que todo escritor tem consigo: “Escrever na forma fixa ou na livre?”. O porquê fazer um poema branco ou fixo. Por que fazer um soneto ou um poema qualquer. A forma fixa traz consigo a metrificação e a rima. São dois elementos que naturalmente marcam o ritmo do poema. Trazem uma uniformidade aos versos, o deixa conciso. Não que a forma livre não possua um ritmo, há algum motivo para o escritor fazer seus versos, não é um texto quebrado aleatoriamente para se formar um poema, mas a forma fixa traz uma certeza que ampara o escritor em seu fim na mensagem.
Escolher entre uma forma ou outra depende exclusivamente de como o escritor quer que o leitor leia e compreenda seu poema. Quando faz um soneto, quer usar do impacto literário do soneto para auxiliar em sua mensagem, quer utilizar da metrificação, da rima para o que quer que seja. Quando faz um poema livre, também se quer usar da forma livre para algum motivo, a disposição das letras e dos versos, versos corridos intercalados com monossilábicos, etc. Depende exclusivamente de como o escritor quer que o leitor leia e compreenda seu poema. A escolha deve primar o bem da mensagem assim como a escolha de tudo o mais na linguagem, não sendo questão de forma certa ou errada, de forma bela ou feia, de forma ritmada ou não.