Da Licença Poética
Todo escritor deve entender sua arte como uma forma de linguagem, assim como qualquer outra. Sendo uma forma de linguagem, respeita-se a sua função e suas características. Quando um escritor escreve algo, deve ter em mente a quem está escrevendo, por que está escrevendo, o que quer passar a quem lerá, como fará que o escrito chegue ao leitor e qual código usará para isso. Recomenda-se sempre o uso mais correto da Norma Culta ou Padrão para não haver maus compreendidos, mas o escritor deve priorizar a mensagem em detrimento de qualquer norma. Como ele irá convencer o leitor depende de sua forma de escrita. Levando em conta as características de seu leitor, ele irá modificar qualquer regra para fazer valer o que quer passar a ele. Essa liberdade do escritor é o que se denomina Licença Poética.
Utilizar uma gíria, usar um neologismo, dar significado diverso à palavra, modificar normas técnicas e culturais, ignorar normas gramaticais ou até modificá-las são alguns exemplos da Licença Poética. Tudo depende de como o escritor irá passar sua mensagem ao público ou do próprio público. Utilizar uma gíria tipicamente mineira em um texto pode ter diversas interpretações, mas as mais comuns são direcionar o texto a mineiros ou usar o estigma do mineiro para o texto. Assim como escrever de trás para frente ou dar múltiplas leituras a uma mesma palavra. Seja como for, essa liberdade sempre foi um recurso utilizado por escritores.
Mas nem sempre se pode invocar essa liberdade. Em textos formais ou oficiais, não é bom usá-las, pois esses textos devem ser lidos literalmente sem qualquer espaço para diferentes interpretações. A Licença cria justamente esse espaço e é por isso que deve ser usada com cuidado. Usa-la a esmo pode converter seu benefício de ajudar a mensagem em malefício de torná-la completamente confusa. Entender a norma, a gramática e a forma é ideal, pois com o conhecimento do paradigma é que se pode contestá-lo e modificá-lo.
Fora o cuidado e em textos formais ou oficiais, a Licença Poética é livre a todos, seja na poesia seja na prosa. Pois sempre há uma forma melhor de se escrever algo para que determinado leitor entenda ou para que a mensagem seja compreendida como o remetente quer ou até para que a mensagem fique mais bela e entretenha melhor o leitor. A Licença Poética não é nada mais que uma liberdade que todo escritor, ou até em qualquer tipo de linguagem, tem para idealizar sua mensagem.