A democracia do conhecimento

Prof. Edson Gonçalves Ferreira (Ms)

Muito já falamos sobre a necessidade de aliar o novo ao mais vivido nos artigos anteriores e, hoje, queremos enfocar o fenômeno da transdisciplinaridade e da transversalidade. Palavras que podem parecer difíceis para quem não participa do universo escolar, mas indicam algo que, de certa forma, nós todos, professores ou não, fazemos no nosso dia a dia. E, nesse momento, queremos salientar que o novo assusta mesmo e mudanças provocam medo. Por isso temos medo da morte, embora sejamos cristãos.

No contexto atual, as palavras transdisciplinaridade, transversalidade parecem ainda difíceis, mas não são. Transdiciplinaridade é o diálogo entre as várias e distintas áreas e disciplinas que existem. Quando há, de fato, entrelaçamentos verdadeiros de certos conceitos, o diálogo entre as ciências torna-se mais profundo. Já a palavra transversalidade significa que as várias disciplinas que são estudadas na escola se atravessam.Sim, é vital lembrar a palavra transversal significa aquilo que passa de uma matéria para a outra.

Pena que essas palavras sejam usadas, muitas vezes, para dificultar. Na verdade, se fossem estudadas de modo mais direto, sem a pretensão de dificultar a compreensão tanto de professores e alunos, poderiam mudar mais rápido o processo de educar. Dessa maneira, com certeza, causariam menos rebuliço dentro de nossas escolas, faculdades e universidades. Nelas, muitas vezes, existem modismos que vêm e vão como é o caso da contratação de gente que só tem títulos e nenhuma bagagem vivencial de sala de aula e, ainda, a preferência por candidatos de fora, como se “santo de casa não fizesse milagre”.

No caso do estudo da transdisciplinaridade, transversalidade não existe nada de modismo. Na vida, nenhum conhecimento é construído sem que, mesmo de forma imperceptível, aconteça transdisciplinaridade e transversalidade. Afinal, são molas mestras, propulsoras do desenvolvimento do ser humano. Antes de continuar a falar sobre elas, contudo, vamos problematizar a distinção que se faz entre área Ciências Humanas e Ciências Exatas. Às vezes, surgem polêmicas sobre a importância de uma área sobre a outra. Na verdade, toda ciência é essencial e se existe alguma exatidão em alguma coisa humana é que todos nascemos e todos morremos.

Nesse aspecto, citamos Paulo Freire que afirmou: “(...) A ação pedagógica através da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade aponta para a construção de uma nova escola participativa e decisiva na formação do sujeito social.” Salientamos, para finalizar este artigo, que o conceito de transdisciplinaridade envolve algo mais de que a mera intensificação do necessário diálogo entre as disciplinas científicas, porque a questão que precisa ser explicitada é a da mudança do modo de ensinar. O professor precisa ajudar o aluno a construir o seu conhecimento. E essa mudança no modo de ensinar visa determinar os fundamentos lógicos, o valor e o alcance objetivo das ciências que são ensinadas nas escolas. Aqui, de modo bem claro, existem, com certeza, “educadores” que ainda estão agarrados, enterrados, presos ao “poder” do “conhecimento” do qual se acham donos, doutores, e não querem abrir caminhos para uma nova escola.

Ora, a nova escola, queiramos ou não, já está aí com o advento das ciências da computação. O professor precisa, para dar conta de interagir com seu aluno, de estar sempre aberto para as mudanças, sem contudo se esquecer de que é dele que se espera a ação de fazer a ponte entre a Cultura Clássica e a Cultura Moderna e, para isso, ele precisa também da abertura democrática da escola que deve, com certeza, extrapolar os limites da sala-de-aula. Toda verdadeira sabedoria é compartilhada.

Divinópolis, outubro de 2003

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 28/03/2008
Reeditado em 28/03/2008
Código do texto: T920207
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