INTERTEXTUALIDADE: O Ciclista ( (Dalton Trevisan) e Aladim e a Lámpada Maravilhosa
O presente trabalho pretende classificar e analisar as obras literárias: O CICLISTA, (Dalton Trevisan) e ALADIM E A LÂMPADA MARAVILHOSA, apanhado de “As mil e uma noites”; tomando-se por base as características estruturais que nortearam sua produção. Há de se considerar, no entanto, que nossa análise, pode arranhar pressupostos teóricos - até mesmo os mais modernos - e, tropeçar na classificação dos gêneros, por causa da semelhança entre eles, da complexidade da criação artística e da mesclagem dos gêneros admitida em função do processo evolutivo do homem e do mundo.
O CICLISTA descrito por Trevisan pertence ao gênero narrativo em prosa, assim classificado, em virtude da continuidade das linhas e da ausência de rima. Sua narrativa curta, descreve o flagrante, até certo ponto, pitoresco, do cotidiano de um operrário, lutando na arena contra a fera dos tempos modernos – o trânsito -, a priori, essas características estruturais indicariam sua pertença ao subgrupo crônica, até porque, o chrónos (tempo) está presente, implícito no ofício diário do entregador de sorvetes. Mas para sermos fiéis ao autor, ficamos com a nomeação de conto, por ele atribuído à obra, e apresentamos elementos textuais que justificam sua classificação como conto. O conto de Trevisan apresenta narrativa pouco extensa, um flagrante ou um flash de um entregador de sorvetes, apressado a pedalar sua bicicleta, por entre veículos, numa rua de trânsito intenso, avançando sinal fechado e esfregando-se em transeuntes, a fim de cumprir com eficácia a missão de fazer entregas. Há um narrador observador, em 3ª pessoa, que apresenta o personagem, inicialmente, apenas como o ciclista, e mais adiante, José. “Curvado no guidão lá vai ele numa chispa” [...] “persegue a morte com o trim-trim da campainha: entrega sem derreter o sorvete a domicílio”....
Delimita o espaço, a rua. “Na esquina dá com o sinal vermelho...”
O tempo está implícito no ofício diário de entregar sorvetes e ainda: “Ao fim da tarde, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem”.
ALADIM E A LÂMPADA MARVILHOSA, na Antigüidade clássica, provavelmente, seria classificado no gênero épico, ou mais precisamente, como poema heróico, porque, há nesta obra a narração de feitos heróicos, embora de ficção, e uma personagem notável, Aladim, que, justificaria a inclusão do texto como poema heróico. No entanto, o exame do conteúdo e estrutura permite sua classificação no gênero narrativo em prosa, e espécie literária, conto, considerando-se os elementos narrativos encontrados: um narrador que relata, em terceira pessoa a história dos personagens, Aladim, sua mãe, o mago, o gênio, o sultão e a princesa, delimitando o tempo, (passado) e espaço:
“Aladim era filho de um pobre alfaiate que vivia (tempo passado) numa cidade da China” (espaço). “Quando seu pai morreu, ele era muito jovem” (delimitação de tempo). “Um dia, quando tinha mais ou menos quinze anos, (tempo) estava brincando na rua” (espaço). Apareceu-lhe um mago africano, dizendo ser seu parente...
Comparando-se os textos, O ciclista, e, Aladim e a lâmpada maravilhosa, depreendemos a interrelação entre a China, conhecida pelo hábito de seu povo em ter a bicicleta como principal meio de transporte, e nosso ciclista, que se esgueira entre postes, ônibus e caminhões, com seu pássaro de viagem, a bicileta. A bicicleta para o entregador de sorvetes é sua lâmpada maravilhosa, o gênio e o engenho que lhe propicia comida à mesa. O gênio acorrentado espera sair da garrafa e ser liberto por um herói. O pedal (da bicicleta), também espera um herói para tirá-lo do canto da casa. Para Aladim, encostar nas paredes da caverna seria fatal. Para o ciclista, esfregar-se nos ônibus, ou avançar o sinal vermelho, pode ser fatal. Os veículos (guerreiros inimigos) dos quais o ciclista se esquiva são os monstros que Aladim enfrentaria se encostasse nalguma parede da caverna.
Percebe-se, no desenvolver da história, o surgimento de dificuldades como: o mago apoderou-se da lâmpada maravilhosa e levou o castelo de Aladim com a princesa para a África. Aladim esfrega as mãos e o gênio do anel o leva até o castelo onde está sua esposa. Com o poder do gênio da lâmpada maravilhosa recuperada do mago, Aladim leva o castelo de volta para a China. “Aladim e a esposa viveram felizes pelo resto da vida...”
Na concepção de Khéde (1986), os personagens dos contos de fada e das fábulas, são do tipo superficial. As soluções fáceis para problemas difícieis, os personagens maravilhosos que só precisam usar a fórmuila mágica, para que tudo seja resolvido num instante, e, o final feliz comum no desfecho dos enredos, permitem classificar a obra como literatura infanto-juvenil.
A mesma coisa não se pode dizer de nosso Ciclista, embora ele tenha algo em comum ou em oposição a Aladim.Tanto Aladim, quanto o ciclista José, eram pobres. Mas enquanto José enfrentava o trânsito pesado da cidade, para ganhar o sustento, Aladim, apenas esfregava uma lâmpada velha e eis a mesa farta. O comum entre eles, no entanto, é o perfil psicológico: o ciclista, “indefeso, frágil, impávido, desvia de fininho o poste e o caminhão.” Aladim, “era um menino quando seu pai morreu”, portanto, indefeso e frágil. Destemido (impávido) enfrenta os perigos de explorar a caverna, para pegar a lâmpada maravilhosa, esgueirando-se para não encostar nas paredes.
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Adalberto Antônio de Lima
Referências
CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 16 ed. São Paulo: Ática: 2006, 103 p
KHÉDE, Sonia Salomão. Personagens dos contos tradicionais. In. Personagens da literatura infanto-junenil.São Paulo: Ática: 1986, p. 17-39.
KHÉDE, Sonia Salomão. Personagens da literatura infanto-juvenil conrtemporâ- nea no Brasil. In. Personagens da literatura infanto-junenil.São Paulo: Ática: 1986, p.57-79.
SIQUEIRA, Ana Márcia.Teoria dos Gêneros Literários. Disponível em < http://www2.unopar.br/bibdigi/biblioteca_digital. html. Acesso em: 17 e 21 out. 2007
SOARES, Angélica. Gêneros literários, 6 ed. São Paulo: Ática: 2006, 85 p.