Há hoje um movimento, em todo lugar, que tem tornado a poesia tão "livre" a ponto de descaracterizá-la, é sobre isso que quero falar aqui: A poesia não é e nunca pode ser óbvia: Dizer a coisa mais óbvia possível do jeito mais óbvio possível nunca poderá ser considerado poesia, mesmo que se distribua em versos.
Exemplo:
Deus!
Que
Calor
Está
Fazendo
Hoje!
O exemplo dado não apresenta as sutilezas características de uma aldrávia. Falta o emprego de figura de linguagem, não possui rima — não obrigatória, mas enriquecedora — e não induz à reflexão. Em essência, é apenas uma observação evidente, dispersa em "versos".
Para ser poeta é preciso melhorar a técnica e trabalhar os versos com um pouco mais de esmero, não é preciso métrica nem rima, mas quando os versos livres se tornam livres demais a ponto de serem evidentemente empobrecidos, encontramos a completa esculhambação do que deveria ser poesia.
Aqui uma alternativa a aldravaria sobre calor:
Com
Inquisidores
Raios
Tu
Castiga-nos
Sol!
Vejamos os elementos dessa segunda aldrávia:
Usa de metáfora, tem um tom emotivo, evoca com uma palavra a história como efeito de comparação de forma forte e fazendo também uma hipérbole, com o evidente exagero empregado, ao mesmo tempo dá-nos a ideia que na visão da autora o sol está muito intenso, causando muito calor. Pra resumir, é a diferença de evocar muito significado com poucas palavras ou apenas dizer o que se diz.
Para concluir, existem diversos poetas modernos que podem nos servir de inspiração, não deixemos a poesia morrer chafurdando no mar de palavras jogadas ao vento que estamos cultivando hoje em dia, com as redes sociais.