FIGURAS DE LINGUAGEM APLICADA AO POETRIX
Por Dirce Carneiro
As Figuras de Linguagem são recursos da Língua Portuguesa que criam novos significados para as expressões escritas no sentido literal (denotativo), empregadas na linguagem figurativa ou sentido conotativo do texto.
Importante ter bem claro as definições de:
Denotação – sentido literal (o mesmo do dicionário)
Conotação – sentido figurado (novo significado no contexto da escrita)
As principais Figuras de Linguagem são Metáfora, Símile, Analogia, *Metonímia, Perífrase, Sinestesia, Hipérbole, Elipse (ou Zeugma), Silepse, Hipérbato (ou Inversão), Polissíndeto, Antítese, Paradoxo, Gradação (ou Clímax) e Personificação (ou Prosopopeia).
As figuras de linguagem se classificam em:
- semânticas, sintáticas ou de construção, pensamento e sonoras.
- Figuras de palavras ou semânticas: estão associadas ao significado das palavras. Exemplos: metáfora, comparação, metonímia, catacrese, sinestesia e perífrase.
1. Metáfora
A metáfora é figura de linguagem muito utilizada na escrita e no dia a dia.
Na escrita, é um recurso usado para valorizar o texto e se expressar, saindo do lugar comum.
Na metáfora há uma comparação implícita, conceitual, mas sem os elementos comparativos, porque se dá uma perfeita e direta identificação entre o que o escritor tem em mente e a metáfora empregada.
Por exemplo, na frase “Presenciei a luta dos dois homens, eram leões em combate”
Exemplo em poetrix:
HUMANO HERÓI
Dirce Carneiro
Luta cotidiana
vida arena e pouso
leão de dia, à noite paz
2. Símile ou Comparação
A símile, assim como a metáfora, traz em si uma comparação — mas, desta vez, explícita.
A metáfora é mais subjetiva, pois sugere diretamente uma identidade entre dois seres ou entidades diferentes a partir de uma característica em comum, enquanto a símile apenas aponta que existe uma semelhança específica e objetiva entre os dois elementos comparados, processo que se dá como uso de conectivos.
Como a símile é mais objetiva que a metáfora, ela é uma opção mais segura para ser utilizada em textos com uma linguagem mais técnica.
Exemplo na frase: Ela é bela como uma flor.
Exemplo em Poetrix:
FEMININA
Dirce Carneiro
ela desabrochou
de menina a mulher
tal qual botão de flor
3. Analogia
A analogia também é uma espécie de comparação, mas, nesse caso, feita por meio de uma correspondência entre duas entidades distintas. O termo também é utilizado em algumas disciplinas, como o Direito e a Biologia.
Usar analogias pode ser eficiente para simplificar o assunto abordado, caso ele seja muito complexo, então faz-se uma analogia com algo mais simples ou conhecido, para o leitor ou o ouvinte entender mais facilmente, também enriquece o texto.
Exemplo no período: A Penélope moderna, como a Rainha do reino de Ulisses, espera o tempo certo, para a chegada daquele que será sua cara metade.
Exemplo em Poetrix:
ESPERA
Dirce Carneiro
Ato e desato nós
engano as horas
eu, Penélope 2022
4. Metonímia*
A metonímia* também tem a ver com semelhanças, mas é a transposição de significados considerando parte pelo todo, autor pela obra e outros aspectos.
Trataremos da *Metonímia, de maneira mais completa, num tópico à parte, para finalizar este trabalho
No dia a dia usamos a metonímia sem nos darmos conta disso.
Exemplo: Durex substituindo fita adesiva, Gillette por lâmina, Xerox por cópia, Maisena por amido de milho (emprego da marca pelo produto) cabeça de gado (a parte pelo todo)
Exemplo na frase: Adoro ler Machado (adoro ler a obra de Machado de Assis)
Exemplo em Poetrix:
SOS ASSIS
Dirce Carneiro
As horas se arrastam
ligo a luz do dia
leio Machado.
5. Perífrase e/ou antonomásia
A perífrase e/ou antonomásia, é a substituição de uma ou mais palavras por outra que a identifique.
Ocorre quando empregamos um nome ou termo consagrado para outro bastante conhecido e de fácil identificação. Seria um tipo de apelido ou cognome.
Há autores que distinguem perífrase para se referir a coisas, lugares ou animais e antonomásia quando se refere a pessoas.
Exemplo de perífrase: ouro de tolo (ouro falso), rei da selva (leão), Velho Chico (Rio São Francisco), Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro), Cidade Luz (Paris)
Exemplos de antonomásia:
O Águia de Haia foi aplaudido após o discurso.
Quando falamos Águia de Haia, sabemos tratar-se de Rui Barbosa, pelo seu desempenho diplomático na Holanda.
Outros exemplos: Rei do Futebol, Dama de Ferro, Princesa do Povo, Velho Guerreiro, O Bruxo de Cosme Velho.
A perífrase e antonomásia são utilizadas para eliminar repetições e tornar o texto mais rico e diferem da metáfora por trazerem termos que são conhecidos pelo leitor, facilmente identificáveis, não precisam de interpretação, quando muito, explicação.
Exemplo na frase: O navio chegou de manhã, aos poucos a Cidade Maravilhosa foi se mostrando em todo seu esplendor.
Exemplo em Poetrix:
LUZ CÂMERA AÇÃO
Dirce Carneiro
A manhã descerra a cortina
à vista, cenário de cinema
Cidade Maravilhosa, rio...
HABITAT DE INVENTOR
Dirce Carneiro
Casa do Pai da Aviação
escada inusitada
será que sobe ou desce
6. Sinestesia
A sinestesia acontece pela associação de sensações por órgãos de sentidos diferentes.
É uma figura de linguagem relacionada aos cinco sentidos, bastante utilizada na arte, principalmente em Música e Poesia, uma vez que ela trabalha com a mistura de dois ou mais sentidos humanos (olfato, paladar, audição, visão e tato).
Muito empregada no simbolismo, ainda hoje é recurso que valoriza o texto literário.
A sinestesia é um termo utilizado também na área da medicina. Trata-se de uma condição neurológica (não é doença), geralmente de causa genética (hereditária), em que um estímulo neurológico cognitivo ou sensorial provoca uma resposta numa outra via cognitiva ou sensorial. Assim, um estímulo num determinado sentido provoca reações em outro, criando uma combinação entre os cinco sentidos.
Pessoas que tem essa condição neurológica, por exemplo, ouvem cores e sentem sons.
Exemplo na frase: “Esta chuvinha de água viva esperneando luz e ainda com gosto de mato longe, meio baunilha, meio manacá, meio alfazema.” (Mário de Andrade)
Exemplo de Poetrix:
SENTIDOS
Dirce Carneiro
Chuva fria, fina, leve
traz gosto de pão de queijo
cheiro de horta e canções
7. Eufemismo
Eufemismo é a figura de linguagem que consiste em suavizar, amenizar uma expressão, o discurso, uma situação ou fato. É o contrário da hipérbole, a figura do exagero.
Exemplo nas frases: Ele não está mais entre nós; Ele faleceu; Infelizmente ele não logrou vitória; Descansou; Força, Deus dá a vida, ele mesmo a tira.
Exemplo em poetrix:
PASSAGEM
Dirce Carneiro
Medicina se esgotou
entrou na eternidade
descansou
8 - Litote
A litote representa uma forma de suavizar uma ideia, representa a negação de uma ideia contrária. Neste sentido, assemelha-se ao eufemismo, também é a oposição da hipérbole.
Exemplo na frase: O seu poema não está mau, só precisa de mais estudo e técnica
Exemplo em Poetrix:
ESTATURA DE POETA
Dirce Carneiro
Situação delicada
poema descartado
Não estava à altura do poeta
9. Hipérbole
Ao contrário do eufemismo, a hipérbole serve para exaltar uma ideia, com o objetivo de causar maior impacto e entusiasmo, através do exagero. Ela é muito usada em nosso cotidiano, como nas expressões “Morri de rir”, “Rios de dinheiro”
Exemplo na frase: “Eu já disse mil vezes e não vou repetir”
Exemplo em Poetrix:
O QUE AMAR NOS FAZ
Dirce Carneiro
quisera ser um peixe no anzol
descamado, filetado, frito
não sofrer assim, morrer de amor
10. Catacrese
A catacrese representa o emprego aleatório de uma palavra por não existir outra mais específica.
Maçã do rosto, pé da mesa e asa da xícara são alguns dos exemplos de catacrese muito utilizados no dia a dia.
Exemplo nas frases: Descansou o livro no braço da poltrona; Embarcou no voo das 5 (embarcar é entrar em barco, aqui o emprego para avião, por não haver um verbo específico para avião)
Exemplo em poetrix:
IMPOSSÍVEL NÃO EXISTE
Dirce Carneiro
Nas asas do vento vou
busco versos no arco-íris
volto no nariz d’um avião
11. Pleonasmo
O pleonasmo ocorre quando se repete uma palavra ou expressão na mesma frase com o mesmo significado.
Existem dois tipos de pleonasmo: o literário e o vicioso.
O pleonasmo literário dá ênfase ao texto: Chovia uma triste chuva de resignação (Manuel Bandeira). "E ali dançaram tanta dança,(Chico Buarque e Vinicius de Moraes)
O pleonasmo vicioso é a repetição desnecessária de termo que não agrega nenhum valor ao que está sendo dito.
Exemplo nas expressões: Entrou para dentro. Foi dividido em duas metades iguais. Encare seus problemas de frente.
Exemplo de poetrix, pleonasmo literário:
O QUE É JUSTO?
Dirce Carneiro
Sonhar o sonho do outro
sorrir o riso das manhãs
tudo é bom, na boa medida
12. Anáfora
É a repetição de palavras. Anáfora acontece de forma regular, no começo das frases, versos ou períodos.
Exemplo na frase: É sempre uma desculpa, é sempre um pretexto, é sempre um motivo para voltar.
Exemplo em poetrix:
PALAVRAS JÁ NÃO DIZEM
Dirce Carneiro
Mesmo que eu ouça - vai
mesmo que eu ouça - fique
mesmo assim - o que fazer
13. Ambiguidade ou Anfibologia
Ambiguidade é uma figura de linguagem muito utilizada no meio artístico, de forma poética e literária. Porém, em textos técnicos e redações ela é considerada um vício (e deve ser evitada). Ela ocorre quando uma frase fica de duplo sentido ou de confusa compreensão.
Exemplo na frase: Marcou encontro perto do rio. Disse que a situação é via dupla.
Exemplo em poetrix:
DR COMPLICADA
Dirce Carneiro
Disse que ama
Sentimento tem mão dupla
No meio, os atalhos
14. Alegoria
Alegoria é usada na retórica, a fim de ampliar o significado de uma palavra (ou oração). Ela ajuda a transmitir um (ou mais) sentidos do texto, além do literal (denotativo)
Uma alegoria não precisa necessariamente ser expressa no texto escrito, estando presente em outras formas de manifestação, como a tradição oral, artística, a pintura, o desenho, a escultura, etc.
A alegoria é bem abrangente e envolve outras figuras de linguagem.
Também é usada em vários ramos do conhecimento, como a Filosofia e a Religião. Sabemos que os Evangelhos fazem largo uso de alegorias.
Na Filosofia, entre as alegorias mais conhecidas está a do Mito da Caverna.
Na alegoria, sobretudo, está patente a relação do sentido literal (função denotativa) e o sentido figurado (função conotativa)
Há uma lição oculta, algo a ser aprendido nos textos alegóricos.
A diferença entre a alegoria e simbolismo e que a alegoria se dá numa narrativa, um poema, uma história. Já o simbolismo representa um objeto, coisa, conceito, pessoa.
Exemplo na frase: Dizem que existe um lugar - parece que no Brasil - onde há um homem feliz. (Maiakowsky)
Exemplo em poetrix:
PONTO DE PARTIDA
Dirce Carneiro
Ano novo – recomeço
mesmo leito de rio
as águas, nunca as mesmas
15. Simbologia
O conceito é bem simples: trata-se do uso de símbolos para indicar alguma coisa.
Na iconografia, uma caveira sobre ossos, representa a pirataria.
Vejam no item acima a diferença entre simbolismo e alegoria.
Exemplo nas frases: Acenaram bandeiras brancas, pedindo trégua. O jogador vestia no braço a faixa de capitão do time.
Exemplo em poetrix:
A BELA DO AMOR
Dirce Carneiro
Bem me quer, mal me quer
oráculo responde
sobre a mesa, rosa vermelha
Figuras sintáticas (ou de construção)
• Figuras de sintaxe ou construção: interferem na estrutura gramatical da frase. São elas: elipse, zeugma, hipérbato, polissíndeto, assíndeto, anacoluto, pleonasmo, silepse e anáfora.
De modo geral, esses recursos são utilizados em textos para dar maior fluidez ao texto, ao mesmo tempo que realçam a informação passada, deixando a escrita levemente mais rebuscada, mas sem perder a espontaneidade.
16. Elipse
A elipse consiste na omissão de um termo que não foi mencionado anteriormente, contudo, a frase é facilmente compreendida.
Exemplo na frase: Quero respeito (Eu quero respeito)
Exemplo em poetrix:
SORTILÉGIO
Dirce Carneiro
Joguei moeda na fonte
Lancei à sorte desejo
Pelas águas espalhadas, feito
- Eu joguei moeda na fonte / eu lancei à sorte desejo / pelas águas espalhadas, está feito
17. Zeugma
Zeugma é basicamente o mesmo que a elipse, com a diferença de que é específico para omitir nomes ou verbos citados anteriormente.
Exemplo na frase: “Eu amo caminhar, ela, correr.”
Exemplo em poetrix:
PAPÉIS INVERTIDOS
Dirce Carneiro
Eu respondi - estou pronta
Ele - espera mais um pouco
Faltava o gel no cabelo
Eu respondi estou pronta /ele respondeu – espera mais um pouco / faltava o gel no cabelo
18. Silepse
A silepse ocorre quando há concordância com uma ideia, e não com uma palavra, fugindo da lógica gramatical — ou seja, ela é feita com um elemento implícito. Pode ocorrer nos seguintes âmbitos: de gênero, de número e de pessoa.
Exemplo nas frases: O casal rodopiava no salão, causavam admiração de todos (silepse de número)
Todos os poetas estamos na expectativa da Academia (silepse de pessoa: de primeira pessoa do plural para primeira pessoa do plural, porque o narrador se incluiu)
Ele é uma boa pessoa, muito prestativa (silepse de gênero, concordância com o termo mais próximo)
Exemplo em poetrix: silepse de gênero
MEDRÓPOLE
Dirce Carneiro
São Paulo, São Paulo...
tão bela, violenta, assusta
encanta, fascina, chama...
19. Hipérbato ou Inversão
Hipérbato é um recurso de inversão da ordem direta da frase (sujeito-verbo-objeto-complementos). Um exemplo famoso de hipérbato está na primeira estrofe do nosso hino nacional brasileiro, o tipo de inversão que recebe o nome de sínquise, por ser bastante brusca, enfática.
Quando a inversão é muito violenta, recebe o nome de sínquise e, quando é especificamente da posição do adjetivo, se chama hipálage.
Exemplo na frase: Ouviram do Ipiranga às margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante. A ordem seria: Ouviram o brado retumbante, de um povo heroico, às margens plácidas do Ipiranga
Exemplo em poetrix:
LUAR POR TESTEMUNHA
Dirce Carneiro
Trago à amada
debaixo da lua cheia
Sentimento perene
20. Polissíndeto
Essa figura de linguagem é a repetição de conectivos ligando termos da oração ou períodos. Normalmente, as conjunções coordenativas são repetidas, entre elas, o “e” é a mais comum.
Nem sempre esse recurso pode ser utilizado na redação, considerando que a repetição desnecessária pode deixar o texto cansativo e desvalorizá-lo.
Exemplo na frase: E foi tal encantamento, e tanto cativou, e tanto cuidou.
Exemplo em Poetrix:
DISTRAÇÃO
Dirce Carneiro
E a chance passou
e o mundo trouxe
e de novo não viu
21. Assíndeto
Ocorre quando um conectivo é excluído da frase a fim de trazer uma sequência de informações. Geralmente, é substituído por uma vírgula. É o contrário do que ocorre com o polissíndeto. A maior ocorrência é a ausência do conectivo “e”, embora possa acontecer com outras classes de palavras.
Exemplo na frase: O poema deve ser inspirado, anotado, trabalhado, burilado, e lido em voz alta.(assíndeto da expressão verbal - deve ser)
Exemplo em poetrix:
LIÇÃO DE COR
Dirce Carneiro
Ascultei seu coração
ele batia, não sentia
já sabia, teimei
Ascultei seu coração / ele batia, mas não sentia / já sabia, mas teimei
22. Anacoluto
Trata-se de uma alteração na estrutura da frase, a qual é interrompida por algum elemento inserido de forma “solta”. Alguns estudiosos defendem que o anacoluto é um erro gramatical.
Exemplo na frase: Tudo estava acontecendo conforme o planejado, havia um clima amistoso, parecia que ia chover.
Exemplo em poetrix:
FAVAS CONTADAS
Dirce Carneiro
E agora, eleição à vista
votos na urna ao melhor de cada
por enquanto, céu, chuva não
Figuras de pensamento
• Figuras de pensamento: trabalham com a combinação de ideias e pensamentos. Exemplos: ironia, personificação, antítese, paradoxo, gradação e apóstrofe e outras
23. Antítese
Ocorre quando usamos palavras com sentidos opostos para fortalecer o discurso e deixar um ponto de vista ainda mais claro.
A antítese trata de situações possíveis. Exemplo, na febre sente-se frio, a virtude convive com o pecado, a bondade com crueldade, ser alegre e triste.
A antítese é marco da escrita barroca, tida como a arte do contraste, mas ainda tem espaço na escrita atual.
Exemplo na frase: Onde queres bandido sou herói.” (Caetano Veloso)
Exemplo em poetrix:
É CEGO, COM RAZÃO
Dirce Carneiro
Ah! O amar...
céu, inferno, prazer e dor
não mais a terra, sim o paraíso
24. Paradoxo ou oxímoro
Consagrado pelos filósofos, seus sentidos vão além do uso na escrita.
Apesar de ser parecido com a antítese (os conceitos coexistem), o paradoxo (conceitos excludentes) é uma figura de linguagem usada para transmitir sentidos opostos em uma mesma construção sintática. As duas ideias devem estar na mesma frase para expressar essa contradição lógica e, geralmente, estão lado a lado.
Note-se que os dois conceitos não coexistem, são excludentes, daí o paradoxo.
Exemplo nas frases: É na escuridão que a luz acontece; no vazio se faz a plenitude; do fundo do poço que se emerge.
Mais exemplos: “Mas que seja infinito enquanto dure” (Vinicius de Moraes);“O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa); “Estou cego e vejo” (Carlos Drummond de Andrade); “É ferida que dói e não se sente” (Camões)
Exemplo em poetrix:
POÉTICA
Dirce Carneiro
Em tudo há poesia
o nada tem poesia
poetas são deuses?
25. Gradação ou Clímax
A gradação é uma figura de linguagem que propõe a organização das palavras de acordo com a progressão — ascendente ou descendente — dos conceitos. O clímax é obtido com a gradação ascendente, enquanto o anticlímax é a organização de forma contrária.
Exemplo na frase: Lutaram dezenas, centenas, milhares de pessoas pelo mesmo motivo.
Exemplo em poetrix:
NAVEGANTE
Dirce Carneiro
Busquei a lua, o sol
Constelações eu vi
O universo se abriu
26. Personificação ou Prosopopeia
Personificar é atribuir características e qualidades humanas a objetos inanimados e irracionais.
Exemplo na frase: O gato agradeceu, pulou no colo de sua dona.
Exemplo em poetrix:
NATUREZA
Dirce Carneiro
Arvore chora seus galhos secos
frutos dão-se à terra, a mãe
pássaros louvam a liberdade
27. Ironia
A ironia é utilizada para se expressar de forma sarcástica ou bem-humorada, além de servir como disfarce ou dissimulação.
Exemplo na frase: Em época de campanha, os candidatos amam as criancinhas.
Exemplo em poetrix:
APERTANDO BOTÕES
Dirce Carneiro
Grande trabalho
Suor, verba extra
Votado o salário mínimo
28. Apóstrofe
É uma figura de invocação ou chamamento. Também é usada para indicar surpresa, indignação ou outro sentimento.
Exemplo nas frases: Ô João, vem ver isso! Jesus, tem piedade!
Exemplo em poetrix:
PRECE
Dirce Carneiro
OH! Senhor do Bonfim
cessa a chuva
olha a Bahia!
29. Alusão
A alusão é uma figura utilizada para fazer referência ou citação, relacionando uma ideia a outra.
Exemplo na frase: Eles trabalham como escravos; Ele disse: “Amai-vos uns aos outros”; Está vestindo as cores da bandeira.
Exemplo em poetrix:
NEBULOSA
Dirce Carneiro
A tarde era cinza
contornos na retina
imagem impressionista
30. Quiasmo
O quiasmo ocorre quando existe um cruzamento de palavras (ou expressões), fazendo com que elas se repitam. Geralmente é usado para enfatizar algum feito.
Exemplo nas frases:: “De certos homens, dizia Sócrates, que não comiam para viver, mas só viviam para comer.(Padre Antonio Vieira); E quanto mais se vive, mais se aprende, mais se aprende quando mais se vive; Mais estudava, melhores poemas, melhores poemas, mais estudava.
Exemplo em poetrix:
PASSARÁGUA
Dirce Carneiro
Sim, testemunhei
o beija-flor bombeiro
testemunhei, sim!
Figuras sonoras
• Figuras de som ou harmonia: estão associadas à sonoridade das palavras. Exemplos: cacofonia, aliteração, paronomásia, assonância e onomatopeia.
31. Cacofonia
Na cacofonia, a junção das últimas sílabas de uma palavra + as sílabas iniciais da outra) pode tornar o som diferente e criar um novo significado — ela é percebida ao falar, com o som fazendo parecer algo diferente do que realmente foi dito.
Um exemplo famoso são os versos iniciais de Camões: Alma minha gentil que te partiste” (al maminha)
Exemplo em poetrix:
RAÍZES
Dirce Carneiro
Saudades da terra natal
Gerais dos antepassados
lá tinha pequi
32. Onomatopeia
A onomatopeia é uma figura utilizada com o objetivo de imitar um som ou ruído.
Exemplo em frase: O tic-tac lembrava que o prazo se esvaía.
Exemplo em poetrix:
HAJA CORAÇÃO
Dirce Carneiro
Encontro marcado
tempo premia
tum-tum-tum
33. Aliteração
Aliteração é a repetição do som de uma consoante na mesma frase ou ao longo do texto. É usada para dar ênfase ao texto e para criar trava-línguas. Ela tem a sonoridade como base, o que ajuda a ditar o ritmo.
Exemplos bem conhecidos de aliteração:
Exemplo na frase: “O rato roeu a roupa do rei de Roma”
Exemplo em poetrix:
POENTE
Dirce Carneiro
Pôr-de-sol na praia
perto o belo empluma-se
mar moldura d’ouro
34. Assonância
Uso do mesmo timbre vocálico em palavras distintas, especialmente no final das frases.
Exemplo na frase: “Minha foz do Iguaçu / Pólo sul, meu azul / Luz do sentimento nu (Djavan)
Exemplo em poetrix:
FORTALEÇO
Dirce Carneiro
Não esmoreço
cresco, teço
alvoreço
35. Paronomásia
Consiste no uso de palavras parônimas (iguais ou com sons semelhantes) mas que têm sentidos diferentes.
Também a paronomásia é empregada no trava-línguas.
Exemplo na frase: Não devemos confundir apóstrofe com apóstrofo. (figura de linguagem e sinal gráfico)
Exemplo no poetrix:
PARTIDAS E CHEGADAS
Dirce Carneiro
Emigrantes e imigrantes
terra natal em comum
a saudade das raízes
*****
*METONÍMIA E/OU SINÉDOQUE
Como dito acima (item 4) trataremos aqui mais detidamente da figura de linguagem (ou de estilo) do tipo semântico ou de palavras – a Metonímia e/ou Sinédoque já abordada no item 4.
Recordando: entre as figuras de palavras ou semânticas - a metonímia e a metáfora - a diferença é que na metonímia existe uma relação lógica entre os termos usados, de proximidade, contiguidade, enquanto que na metáfora a relação é subjetiva, de semelhança, similaridade, ambas formadas na mente do emissor e expressa num texto. Nas figuras de retórica há uma sobreposição de significados, pois ao significado original agregam-se outros.
Na metonímia e na sinédoque também usamos figurativamente um termo pelo outro.
Diferença de metonímia e sinédoque:
Antigamente, autores defendiam (há os que ainda defendem) esta distinção, sendo que nas duas é preciso haver uma relação entre os termos usados. Outros autores defendem que os conceitos são tão próximos que julgam desnecessário diferenciar, prevalecendo o termo metonímia englobando a sinédoque. Esta corrente tende a prevalecer. Vamos examinar essas diferenças apontadas.
Na metonímia a relação dos significados dos termos - original e o empregado pelo escritor (o que ele tem em mente) é de qualidade, permanecendo entre os conceitos uma forte relação semântica, de sentido, de contiguidade, ou proximidade, entre os termos. A metonímia se forma pelo uso de um novo nome relacionado ao conceito original ou coisa.
As relações na metonímia são: a causa pelo efeito, o continente pelo conteúdo, o autor pela obra, o lugar pelo produto, o instrumento pela pessoa que o utiliza, etc. guardadas as definições de metonímia.
Na sinédoque a relação é de quantidade, podendo haver ampliação ou redução. Em outras palavras, pelo aumento ou diminuição da significação de uma palavra, quando um implica o mais - e o outro, o menos, ou vice-versa. As relações entre os termos são basicamente as seguintes: parte pelo todo, singular pelo plural, gênero pela espécie, o particular pelo geral (ou vice-versa).
A sinédoque se forma pela parte de algo para representar o todo e vice-versa.
Exemplo 1 - O sonho de todos é ter um teto. (a parte pelo todo – teto no lugar de casa). Relação quantitativa. Houve uma redução de casa. Trata-se de sinédoque.
Exemplo 2 – Quero ter um Matisse (o autor pela obra – um quadro de Matisse). Relação de qualidade. Existe uma contiguidade de conceitos. Não há uma relação de diminuição ou expansão entre os termos Matisse e quadro de Matisse. Um conceito não diminui ou aumenta o outro, não há tal implicação. Trata-se de metonímia.
Exemplo 3 - A juventude é destemida (o abstrato pelo concreto – juventude no lugar de jovens). Proximidade semântica. Relação de qualidade. Trata-se de metonímia.
Como vemos, são diferenças sutis, por isso a tendência de unificar os termos metonímia e sinédoque, prevalecendo o termo metonímia.
Para fins de estudo e consulta, vamos separar as ocorrências em metonímia e sinédoque, lembrando que a tendência é considerar tudo metonímia.
Exemplos de tipos de metonímia
4.1 - Causa pelo efeito: Ganharás o pão com seu próprio suor; Respeita os cabelos brancos
(dinheiro do trabalho, velhice)
Exemplo em poetrix:
ESTAÇÃO
Dirce Carneiro
Cãs falam no silêncio
gritam as primaveras
esconde-se o outono
4.2 - Autor pela obra: Gosto de ler Cecília Meirelles. (obra de Cecília Meirelles – livros)
Exemplo em poetrix:
ECO
Dirce Carneiro
Leio Pessoa
vejo a Tabacaria
nada sou, soa
4.3- Inventor pelo Invento: Esse Zuckerberg está cheio de algoritmos espiões. (faceboock)
Exemplo em poetrix:
EXPLOSÃO
Dirce Carneiro
Voa pelos ares
chuva de dinheiro
seria Nobel?
4.4 - Marca pelo produto: Essa receita precisa de Leite Moça; Sem Bombril não dá brilho; Quero um banho de Jacuzzi. Colocou um band-aid no ferimento. Não se deve cutucar o ouvido, nem com cotonete. Chiclets prejudica os dentes (leite condensado, palha de aço, banheira de hidromassagem, adesivo curativo, aste flexível com algodão, goma de mascar)
Exemplo em poetrix:
DA BIC AO ZÍPER
Dirce Carneiro
Briga-se por nada
por tudo se mata
do amor ao tupperware
4.5 - Matéria pelo objeto: Passou a vida atrás do vil metal. Atletas lutam pelo ouro, prata e bronze (o material "metal" se refere ao dinheiro; ouro, prata e bronze se referem a medalhas)
Exemplo em poetrix:
DÁDIVA SQN
Dirce Carneiro
Ar pago em prata
vidas com NF
escambo triste
4.6 - Concreto pelo abstrato: Ele tem um bom coração (Ele tem bondade)
Exemplo em poetrix:
QI VERDADEIRO
Dirce Carneiro
Tornou-se imortal
cabeça brilhante
estrela no céu dos grandes
4.7 - Continente pelo conteúdo: Quero um copo d’água. (Quero um copo com água)
Exemplo em poetrix:
DA TERRA
Dirce Carneiro
Prato de tapioca
memória de ancestrais
raízes – mandioca
4.8 - A qualidade pelo qualificado: Praticar a caridade (atos de caridade)
Exemplo em poetrix:
TUDO
Dirce Carneiro
Legado perene
Gestos necessários
Praticar o amor
4.9 - Proprietário por propriedade: Vamos jantar no Raimundo. (no restaurante do Raimundo)
Exemplo em poetrix:
DIA SERÁ
Dirce Carneiro
Saudade do normal
Aglomerar, abraçar
Comer no Mineiro
4.10 - Gênero pela espécie: O feminino e masculino precisam compreender melhor a questão da igualdade. . (a mulher e o homem)
Exemplo em poetrix:
LIVRO CAIXA
Dirce Carneiro
Humanidade têm contas
guerras, dívidas, fome
quando se dará conta
4.11 - Morador por morada: Passei a tarde na Tia Anita
Exemplo em poetrix:
DIA DE SER CRIANÇA
Dirce Carneiro
Kiwi, brinquedo novo
Reinventar o lúdico
Hoje o neto vem na vó
Exemplos de tipos de sinédoque (ou metonímia)
4.12 - Parte pelo todo: Ele tem um grande rebanho e vende caro cada cabeça de gado. (cada boi, vaca, bezerro)
Exemplo em poetrix:
DEVANEIO
Dirce Carneiro
Levarei os pés às nuvens
meus cabelos na lua
terei o Universo como teto
4.13 - Singular pelo plural: Todo cidadão é igual perante a lei.(Todos os cidadãos são iguais perante a lei); Jogador em campo usa uniforme (Todos)
Exemplo em Poetrix:
CÓDIGOS QUEBRADOS
Dirce Carneiro
Homem de gravata
mulher de saia comprida
leis revisitadas
4.14- Indivíduo pela classe ou vice versa – Ser o Judas entre a turma; Ser o Cristo da classe
Exemplo em poetrix:
APLAUSO
Dirce Carneiro
Distinção merecidas
subiu a montanha
foi Assis na academia
4.15 – Inovador é o caso da metonímia que ocorre com nomes próprios, quando artistas incorporam aos seus nomes o instrumentos do seu ofício, exemplo de Jacó do Bandolim, Nelson do Cavaquinho, Jackson do Pandeiro, Paulinho da Viola. Ou a incorporação, no nome, do apelido que os tornaram famosos, exemplo de Edson Pelé Arantes do Nascimento, Luis Inácio Lula da Silva.
Dirce Carneiro
Bibliografia: Nova Gramática Portuguesa de Evanildo Bechara
Consultas na internet: sites de Educação e Língua Portuguesa.