O que é Glosa?
Glosa é uma forma de poema utilizada que foi primeiramente registada em Português no "Cancioneiro Geral" de Garcia Resende (1536) que colecionou 880 poema. Um dos formatos é a cantiga, com um mote de quatro ou cinco versos e uma glosa de oito ou dez. Composição poética de origem peninsular, constituída por uma estrofe inicial, onde é apresentado o tema (mote), seguida por tantas estrofes quantos os versos apresentados na estrofe inicial e devendo ser estes incluídos sucessivamente, um a um, no final de cada estrofe, para desenvolvimento do tema da composição, que é sobretudo amoroso.
Lembra-se que o termo glosa é sinónimo de volta e que este possui três aceções diferentes: ora de composição poética; ora de verso, que se repete no final das estrofes que glosam o mote; ora, já numa extensão de sentido, de estrofes, que desenvolvem o tema do mote nas cantigas e nos vilancetes.
A glosa tem grande representatividade, a partir do século XV, nos cancioneiros hispânico e português, dos quais se destaca o Cancioneiro Geral (1516) de Garcia de Resende, sendo sobretudo desenvolvida por poetas palacianos.
Também pode ser referência a um forma usada pelos poetas do Nordeste do Brasil, principalmente os cantadores, em forma de uma ou mais décimas (estrofe de 10 versos) que respondem a um desafio, expresso em forma de mote. O mote é, geralmente, um dístico, ou seja, composto por dois versos. Esses versos se apresentam na glosa de duas formas mais comuns:
1-Os dois versos aparecem no fim da estrofe, compondo a rima, que, na maioria das vezes, segue o esquema ABBAACCDDC.
2-Um verso do mote aparece como quarto verso da glosa, e o outro verso na última posição. O esquema rítmico é semelhante.
3-Mais recentemente, o poeta Paulo Camelo criou e apresentou o que ele denominou Glosa com mote migrante, um poema com mais de uma estrofe (de duas a cinco), onde o mote, em dístico, aparece em posições diferentes, ascendendo nas estrofes das últimas para as primeiras posições.
Também pode ser referência a um forma usada pelos poetas do Nordeste do Brasil, principalmente os cantadores, em forma de uma ou mais décimas (estrofe de 10 versos) que respondem a um desafio, expresso em forma de mote.
Exemplos:
1-Mote no final
Mote
"Devagar, como fogo de monturo,
a saudade invadiu meu coração".
Glosa
Na fazenda, nasci e me criei,
peraltava e fazia escaramuça,
morcegava, no campo, a besta ruça,
jararaca até mesmo já matei.
Não me lembro da vez em que acordei
assombrado com tiros de trovão,
pinotava da rede para o chão
e saía correndo pelo escuro.
Devagar, como fogo de monturo,
a saudade invadiu meu coração".
(Carlos Severiano Cavalcanti)
Mote em Versos Separados
Mote
"Por esses caminhos venho
pedaços de mim deixando".
( "Aos Trancos e Barrancos" Zé Barreto)
Glosa
Nem juntos arte e engenho
de Camões podem cantar
como em vão a tropeçar
por esses caminhos venho.
O amor para mim é lenho
que em meio aos lobos em bando,
aos trancos vou carregando
e a cada mulher que passa
sou tragado na fumaça,
pedaços de mim deixando
Mote Migrante
Mote
“Eu deixei minha rede lá na sala
e parti com vontade de voltar.”
("Despedida" - Carlos Severiano Cavalcanti)
Velha rede
Madrugada, inda noite, a Estrela Dalva
a brilhar como sol no firmamento...
Eu parei no portão por um momento
e voltei caminhar sem mais ressalva.
A saudade cravou-me o seu punhal,
vacilei, mas tornei a retomar
a dorida jornada para o mar
sem vontade, talvez, de completá-la.
Eu deixei minha rede lá na sala
e parti com vontade de voltar.
Esse mito invadia o meu pensar
quanto eu mais caminhava: a capital
era a meta, o destino, e era o mal
que tirou-me o refúgio do meu lar.
O meu peito eu senti a palpitar
e segui nesse afã de conquistá-la.
Eu deixei minha rede lá na sala
e parti com vontade de voltar
mas não mais retornei. E o meu cantar
toma o peito e sufoca a minha fala.
Atirei meu casaco sobre a mala,
e me pus novamente a caminhar.
Essa longa jornada para o mar
escondeu do meu rosto o riso, a fala.
Eu deixei minha rede lá na sala
e parti com vontade de voltar.
Precisava, entretanto, trabalhar
pra poder ser alguém, ganhar a vida
e ter mais liberdade. Essa ferida
em minh’alma eu não sei se vai sarar.
Hoje eu vivo saudoso, a meditar
e, se penso na rede, o peito cala.
Eu deixei minha rede lá na sala
e parti com vontade de voltar.
Outra rede me embala em frente ao mar
e do mar ouço um som que acaricia.
Esse mar me roubou, porém, um dia,
o aconchego do lar, o som da rede.
Essa água não mata a minha sede
e a saudade feroz não alivia.
Eu deixei minha rede lá na sala
e parti com vontade de voltar
a comer rapadura e degustar
água fresca, poder saboreá-la
e sentir-lhe a pureza. A minha mala
inda espera, silente, a decisão
de voltar a meu lar, a meu torrão
sob o sol causticante. Mas aqui
fica um pouco de mim. Aqui vivi
outra vida e prendi meu coração.
(Paulo Camelo)
Fonte de pesquisa:
Glosa (poema) – Wikipédia, a enciclopédia livre
https://www.significados.com.br/glosa/
Imagem: Garcia de resende by Pedro e Inês: biobgrafia de Garcia de Resende.