UMA LITERATURA VOLTADA PARA A VERDADE
Como é difícil escrever com sinceridade! Como o homem que labora intelectualmente precisa exigir de si um posicionamento para realizar um literatura vigorosa, porque honesta. Ocorre que abordar a verdade é como abordar um animal feroz, perigoso, porque o bom-tom às vezes impõe toda uma psicologia de artificialidades para se dizer uma determinada coisa, que se fosse dita de outra maneira levaria ao prejuízo total o indivíduo que a diz. Mas se diante e do alto do púlpito-papel, da tribuna-sulfite, do microfone-almaço ou, mais modernamente, do pergaminho-computador não se falar com sinceridade, ignorando ou evitando a alma que, incendiada , clama por uma possibilidade de expressão – que se fará? Em determinadas ocasiões o desespero é tão grande, a revolta tão solidificada, e a visão das coisas tão discriminativa, de tal modo colocada diante da razão em teste, e as evidências de tal modo elementares, o bem e o mal de tal modo personalizados e distintos – que escamotear isso tudo dizendo, afirmando o contrário do que realmente é, soa como uma descaração enorme, uma aceitação desavergonhada à falsidade, o que denota uma flagrante e desprezível e nojenta falta de caráter! Então, ainda que padeça, é melhor ao homem de letras que denuncie e que defenda a partir de suas habilidades, num compromisso único com a verdade. Joana D’arc fez isso! Savonarola e Jesus Cristo também! E Jorge Amado, e Neruda, e Castro Alves... E Sócrates, e Sartre, e Marx... Por que não nós, os que nos denominamos homens de letras da presente geração, tal como os colegas acima citados , que se não foram (alguns) literatos de papel e pena, usaram larga e sabiamente do verbo – por que não aderirmos à verdade, incondicionalmente?