16.1- O PODER de SEDUÇÃO da Literatura

Olá, meus Amigos.

Ao terminar o último capítulo, fiquei a pensar que temos duas sequências em suspenso:

= ou continuamos o capítulo 32, com o estudo dos VERBOS e da CONSTRUÇÃO da FRASE,

= ou continuamos o capítulo 33, e analisamos um tema sobre Literatura, que ficou em suspenso:

A propósito das “técnicas da Narrativa no século XX”, referimos que há na Literatura um “poder de sedução”.

– Então, penso que deveremos abordar este tema, para, de momento, encerrarmos este assunto, mesmo que mais adiante a ele possamos regressar!

A pergunta que poderemos fazer é a seguinte:

– Em que consistirá esse “poder de sedução”?

Como é que os escritores exercem sobre nós, leitores, essa atracção tão forte que nos domina e nos faz ler tantas páginas com o mesmo interesse, do princípio até ao fim?

Por vezes, até dizemos – Estava tão embrenhada na leitura que nem dei por mim, e a tarde passou sem sentir!

Penso que seria bom abordarmos este tema em particular, e depois sim, voltaremos à Gramática com todas as calmas!

*

Sobre a capacidade de sedução da Literatura, qualquer um de nós poderá perguntar-se:

– O que foi que me atraiu em tal ou tal obra?

* Foi sem dúvida a “história” que nos é apresentada, o ENREDO, ou ACÇÃO.

* Esse ENREDO implica o desenvolvimento das vicissitudes pelas quais passam uma ou várias PERSONAGENS – e por aqui passam caracteres, comportamentos, encontros e desencontros; uma panorâmica sobre um dado momento da nossa vida social... Momento ou momentos que possam ser situados num passado mais ou menos distante, ou na nossa própria actualidade.

A escrita romanesca pinta e descreve, chama a nossa atenção, se não para uma época na sua imensa complexidade, pelo menos para alguns dos seus aspectos particulares, fazendo-nos tomar consciência das singularidades do nosso tempo - ou de um dado tempo - através das diferentes representações da condição humana.

Cada um de nós vive apenas a sua própria história, e tem conhecimento das histórias dos seus próximos... Mas através da Literatura, somos transportados a mundos diferentes!

Como diria Simone de Beauvoir:

“Cada um de nós vive o mundo segundo uma forma de ignorância quanto aos outros, que nos são estranhos.”

Então, a Literatura é uma forma de COMUNICAÇÃO, que traz até nós vivências diferentes. Por momentos, nós, Leitores, estamos na pele do Outro, sentimos como ele, apercebemo-nos de problemáticas de que nem nos tínhamos dado conta...

Cada Autor IMPÕE-nos o seu modo de VER, expresso através do seu modo de CONTAR – e esse modo específico de CONTAR, é o ESTILO, é a ARTE.

Simone de Beauvoir explica-nos isto muito bem:

BALZAC, o famoso escritor francês do século XIX, da “escola REALISTA”, acreditava que nos dava a REALIDADE na sua OBJECTIVIDADE.

Mas, na verdade, ele dava-nos o seu modo de ver essa realidade!

Pois “é impossível um escritor abarcar tudo”!

* Enfim, como leitores, quem diz que o Leitor se IDENTIFICA com a Personagem, também diz que poderá eventualmente, REJEITÁ-LA!

Esse é mais um efeito que a Arte de contar exerce sobre nós:

Ou ADMIRAMOS – ou REJEITAMOS a personagem!

Pois através da leitura, somos “chamados” a viver uma “realidade” outra, e entramos por ela dentro, com admiração e fascínio, ou com rejeição por alguns detalhes em particular: E neste último caso, nem por isso abandonamos a leitura!

É o caso de uma obra como por exemplo “1984”, do inglês GEORGE ORWELL (1903-1950):

Aquele mundo que ele nos apresenta, é horrível! Nós não queremos aquilo! E ficamos alerta para os perigos do Poder – o poder único, o poder ilimitado.

E volto a ANTÓNIO LOBO ANTUNES:

Eu, leitora, nunca estive na Guerra. Não faço ideia do que seja ver cair camaradas com os corpos desfeitos, não faço ideia do que seja a crueldade contra as mulheres... Ou seja – anteriormente, não fazia... Mas após a leitura de “Os Cus de Judas”, eu fico a saber! Fico a saber como os generais dos tempos da Ditadura salazarista, nos seus gabinetes, exigiam mais “resultados” aos militares em campanha!

Em “O Esplendor de Portugal”, António Lobo Antunes apresenta-nos a mentalidade dos “colonos”. Eu, leitora, nunca vivi na África “portuguesa” colonizada; não tenho conhecimento “de facto”... Mas ganho esse conhecimento através da história daqueles irmãos, contada por cada um deles segundo a sua própria perspectiva!

Ou então, poderemos recuar a duas obras que me apaixonam: “Ana Karenina”, ou “Guerra e Paz”, ambas do escritor russo LEÃO TOLSTOI (1828-1910).

Em “Guerra e Paz”, Tolstoi faz passar sob os nossos olhos a Rússia do século XIX! O autor faz-nos ser testemunhas do mundo em que ele viveu! Nós “vemos” passar perante nós, as migrações dos camponeses pobres, vemos a vida dos aristocratas, vemos o horror da invasão napoleónica!

Em “Ana Karenina”, vivemos o drama das mulheres no período final do século XIX!

Vivemos os dramas daquelas personagens, e como cada uma delas os resolveu! E ficamos a desejar que as condições de vida das pessoas melhorem! E que semelhantes condições não se repitam!

A LITERATURA É UMA FORMA DE COMUNICAÇÃO!

Um romance não é um “tratado” científico! Não é uma “fonte histórica”! Mas é uma FONTE de conhecimento humano!

O texto científico, seja qual for o seu tema, e por muito bem escrito que seja, é sempre um texto 'informativo', um texto 'intelectual', um texto dirigido à "razão". Mas um texto literário, não fugindo à sua capacidade informativa, é um texto dirigido sobretudo à "emoção".

O texto literário exige todas as capacidades do Leitor: as capacidades cognitivas de compreensão e análise; mas exige igualmente, essa compreensão emocional que o faz apaixonar-se pela "história" contada.

É esse o poder de sedução da Literatura!

E fico a pensar que, sempre que eu puder, sempre que uma obra me "apaixone", deixarei notas sobre as obras que vou lendo, na secção de "Análise de Obras". Aliás, já tenho vários apontamentos nessa secção.

*

Sobre esta temática, Você poderá encontrar muita informação na Internet.

Poderá, por exemplo, começar por aqui:

= O PODER DA LITERATURA: COMO MUDAR O MUNDO COM LIVROS?

https://bambualeditora.com.br/blog-o-poder-da-literatura/

Myriam

Novembro de 2021

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 03/11/2021
Reeditado em 22/05/2022
Código do texto: T7377932
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