Clarice Lispector e a ressignificação das palavras: além do óbvio gramatical
Clarice Lispector buscou a forma perfeita para representar cada sentimento em seus textos. Seu caráter inovador revela-se em cada experimentação estética que afastou seus textos de serem classificados categoricamente dentro de certo estilo literário, tornando-os algo vivo, pulsante, livre de qualquer amarra a gêneros. Quando o saudoso mestre Antônio Cândido afirmou que o tema de suas obras passava ao segundo plano e o texto em si ao primeiro, podemos entender a importância que as palavras certas tinham nos textos de Clarice. À experimentação estética também se conjugou a pesquisa linguística, já que para a escritora as palavras ofereciam um sentido vivo, além do que lhes diziam a respeito no dicionário. Há em suas obras uma ressignificação das palavras, a fim de buscar uma riqueza e uma profundidade vocabular que pudessem ilustrar suas ânsias e buscas na escrita. Quando o professor Antônio Cândido fala sobre inteligibilidade específica relacionados aos seus textos, nós podemos entender a importância das significações das palavras na obra da escritora pois são elas as responsáveis por criarem para o leitor a realidade (seja fictícia ou não) da história a ser contada. As obras de Clarice apresentam um fluxo contínuo que deve ser sustentado pela conjugação das palavras exatas, para que o ambiente seja correspondente à mensagem almejada, a fim de dividir seus anseios e aflições com outros corações errantes que fossem capazes de compreender o que estava sendo dito além do óbvio das palavras.