DICAS DE ESCRITA - Parte 3 - UM PERSONAGEM PARA CADA HISTÓRIA
Bem-vindos, caros visitantes!
Quando vocês escrevem, como pensam em desenvolver seu personagem? Nas postagens anteriores, falamos sobre a missão do escritor e sobre o que os leitores querem. Hoje, falaremos sobre o elemento principal de sua estória, aquele que age e sofre ações na estória, o PERSONAGEM.
A palavra personagem vem do latim persona, que significa máscara teatral. O personagem, portanto, é aquele que representa um papel, que desempenha uma ação. Estória é ação. Qualquer agente de qualquer ação pode ser o personagem de uma estória. E não há limites para uma imaginação prosopopeica. Eventualmente, animais podem ser personagens de uma estória; objetos inanimados como desde uma agulha até uma cidade, e até mesmo elementos da natureza podem ser personagens de uma estória. Mas, normalmente o personagem de uma estória é um ser humano. E é deste personagem humano que vamos tratar aqui hoje.
Por que os personagens são tão importantes para uma estória? Por que alguns personagens são tão inesquecíveis? Quais suas características mais marcantes?
Um propósito
O que mais define um personagem é seu interesse em algo. Todo mundo quer alguma coisa, e com seu personagem isso não pode ser diferente. Nossas vidas ficam mais interessantes e estimulantes quando temos propósito. Ter um propósito nos move, nos molda, nos define. Seu personagem deve agir na estória com propósito, é isso que levará a estória adiante até seu desfecho, seja ele qual for. Ter o que se deseja não é garantia de obtê-lo, mas as ações que levarão seu personagem a conseguir o que quer é que são a verdadeira alma da estória.
Um conflito
É inegável que evoluímos como pessoas quando entramos em conflito, seja conflito com outras pessoas e suas formas de pensar e agir, seja conflito entre a realidade concreta e nossas expectativas e desejos internos. Seu personagem também precisa de um conflito, uma dificuldade, para que ele evolua, para que ele seja diferente do que ele era no começo da estória. Escritores não devem ter pena de seus personagens. Assim como nós, personagens devem sofrer, devem ser injustiçados, devem ser moldados a ferro e fogo para provarem seu valor. Lembre-se, assim como na vida real, quanto maior for o conflito que seu personagem enfrentar, melhor será a luta, e melhor será a estória que ele terá para nos contar.
Um arquétipo e uma jornada
Ter um propósito nos leva a uma busca, a uma jornada, e lutar diante de um conflito nos leva a enfrentar nossos medos e a conhecer nosso lado mais inconsciente e oculto. Com seu personagem acontece a mesma coisa, o que nos leva a conhecer os conceitos de arquétipo e da jornada do herói. Para um escritor, trabalhar com esses temas já tão difundidos, e, às vezes, tão mal difundidos, pode parecer uma cilada. Por ser um assunto tão manjado, parece que todo escritor não só é especialista em Carl Jung, Joseph Campbell e Christopher Vogler, como deveria superá-los para não parecer clichê. Mas não é clichê nem preguiça você se utilizar de figuras arquetípicas e a jornada do herói para enriquecer seu personagem se você o fizer de maneira original, refinada, inteligente e melhorada. Afinal, o próprio Campbell inicia o prólogo de “O herói de mil faces” confessando que “resta muito mais por ser experimentado do que será possível saber ou contar”. Portanto, não há nenhuma pegadinha em se utilizar de arquétipos e da jornada do herói para seu personagem, contanto que isso não limite sua imaginação. Expanda o que você já sabe e nos presenteie com uma nova interpretação, com um novo significado.
Uma história não contada
Todos nós entramos na vida uns dos outros já com uma bagagem que carregamos de nossa história. Seu personagem também tem um passado antes de iniciar a estória que você quer contar. Você não precisa explicitar ao leitor o passado do personagem, mas você deixará muito mais rica sua estória se você, escritor, tiver uma descrição clara de que seu personagem tem sua própria história. Desenvolva seu personagem, deixe-o verossímil como nós. Ele veio de algum lugar, teve uma criação familiar, viveu em certa época, recebeu influência de certas pessoas, construiu alguns valores. Tudo isso será revelado ao leitor conforme as decisões, pensamentos e emoções que seu personagem demonstrar. Além disso, reserve para seus leitores um suspense sobre algo no passado do personagem, mas que você, escritor, sabe. Todos nós temos nossos segredos e nunca saberemos de tudo a respeito da vida passada das pessoas que conhecemos. Há sempre algo que explica a reação de alguma pessoa, mas a causa é oculta para nós. Faça o leitor se interessar por isso da mesma forma que nos interessamos pelas vidas dos outros. Deixe o leitor curioso. O que será que levou este personagem a ser assim? Que tipo de infância ele teve? Ele teve outras opções de mudar o rumo da sua vida?
Uma visão particular do mundo
Existem muitas formas de se ver o mundo, de encontrar sentido nas coisas. Seu personagem deve ter impressões e expressões que são particulares a ele. Logo de cara, a estória vai ser contada na visão dele. Se o que acontece a ele é real ou não, é a impressão dele que importa. Como ele enxerga o mundo esteticamente, filosoficamente, psicologicamente, emocionalmente? Ele enxerga um mundo monocromático ou multicolorido? Ele vê o mundo à volta com mais pessimismo ou otimismo? Quanto mais seu personagem for fiel à sua própria particularidade, mais honesto ele será e mais o leitor poderá confiar nas decisões que ele tomar. Pessoas possuem personalidade, um conjunto de características típicas do ser humano que lhe são próprias. Escritores sabem que cada um de seus personagens também deve ter uma personalidade própria, é o que o tornará distinto dos demais e o aproximará do vínculo emocional com o leitor.
Um toque marcante
Pense em qualquer pessoa que você conheça. Pode ser um amigo ou parente, ou o dono da padaria, ou seu chefe, ou até mesmo uma pessoa desconhecida que você viu na rua um dia desses. Todas essas pessoas possuem características que as marcam, que as tornam distintas. É um jeito de olhar, de falar, de reagir ao mundo e às pessoas, de se alegrar ou se irritar, um trejeito inconsciente, um tique, uma frase típica. Seu personagem ficará muito mais divertido e marcante se ele tiver essas pequenas marcas que nos tornam únicos e reconhecidos. Certamente, seu leitor não se esquecerá dele.
E com essas pequenas dicas de aprendizagem, concluo esse terceiro diário de bordo. Destaquei aqui que os personagens possuem características arquetípicas, que eles possuem um passado, que eles veem o mundo de seu jeito particular, e que eles deixam sua marca no mundo.
Na próxima postagem dessa série de dicas de escrita, trataremos das características da NARRATIVA dentro de uma estória.
Gostou dessa postagem? Boas leituras, e até a próxima!