3.1- Variedades de ROMANCE:
Já dissemos que as histórias, na sua aparência de histórias de amor, podem ser:
= uma fantasia que ajude a ESQUECER a REALIDADE,
= ou podem ter sido criadas para nos ALERTAR para as REALIDADES da Vida, seja a vida em família, ou em sociedade.
Também já dissemos que para haver uma HISTÓRIA, tem que haver uma ACÇÃO (ou CONFLITO, ou INTRIGA) que envolva as PERSONAGENS.
Assim, temos, por exemplo:
=Os romances sobre a REALIDADE da Vida:
Os romances que reflectem a REALIDADE, com uma história concebida para demonstrar uma certa ideia, ou chamar a atenção para um certo problema:
os AUTORES baseiam-se na sua observação, objectiva, da sociedade.
Por exemplo:
“Madame Bovary”, de Gustave Flaubert (1821-1880 ). Nesta obra, este autor francês chama a atenção para os perigos da educação “romântica” das jovens da sua época.
“Germinal”, de Émile Zola, autor francês do século XIX (1840-1902), é uma história destinada a demonstrar como viviam explorados os mineiros do norte de França; o próprio Zola trabalhou dois meses como mineiro, na extracção de carvão!
“Chora Terra Bem-Amada”, de Alan Paton, um autor da República da África do Sul (1903-1988): é uma história concebida contra o Racismo.
“Se esta rua falasse”, do estado-unidense James Baldwin (1924-1987), um romance pungente, que denuncia o sistema social e económico racista norte-americano.
"O Esplendor de Portugal", do escritor português António Lobo Antunes (1942): nesta obra, Lobo Antunes dá-nos o retrato da mentalidade egoista do colonialista europeu, neste caso concreto, do colonialista português.
E temos as histórias de FUGA à Realidade.
= Romance de Aventuras:
Como a designação indica, é uma história em que uma personagem principal corre mil aventuras. O “romance de aventuras” tem uma longa tradição.
Um grande autor de histórias de aventuras, que actualmente está quase esquecido, foi o italiano Emílio Salgari (1862-1911).
= Romance policial é uma variedade do romance de aventuras.
Há um motivo principal: um acontecimento funesto, em geral um crime, e há alguém que que irá desvendar o MISTÉRIO que o envolve.
= Podemos falar, ainda, do ROMANCE COMO DOCUMENTÁRIO:
Romances de viagens:
“As viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift (autor anglo-irlandês, 1667-1745).
- A TELE-NOVELA da televisão:
é um romance contado através de um meio áudio-visual, a Televisão;
A tele-novela utiliza:
= CENÁRIOS
e
= o desempenho de ACTORES.
= O CINEMA, os FILMES:
O CINEMA é também um meio áudio-visual, Os filmes também contam histórias. Um FILME é também uma forma de NARRATIVA. Tal como no romance em livro, um filme poderá começar a sua narrativa pelo início da história, pelo meio, ou pelo fim.
– Outras FORMAS do ROMANCE CONTEMPORÂNEO:
= O ROMANCE DE NÃO-FICÇÃO:
Actualmente, também se pratica: o "romance de não-ficção":
Monta-se uma narrativa (que em geral até se revela... um tanto... insípida) para falar de uma viagem (por exemplo), e da descoberta de realidades desconhecidas:
Exemplos:
= "O Médico da Amazónia" (Il doto), de Giuseppe D'Este. Este autor conta uma história cuja Personagem Principal vai como médico fazer um estágio numa região remota do Brasil e aí testemunha a acção de devastação e crueldade praticada pelas companhias petrolíferas.
= "Canto Nómada" (The Songlines), de Bruce Chatwin: este autor cria umas personagens que o guiam numa viagem pela Austrália e o ajudam a interpretar a paisagem e os mitos.
= Ou "Jezebela", uma narrativa muito bem engendrada, de João Craveirinha (que também assina Mphumo João Kraveirinya), autor português de origem moçambicana, que cria um fio condutor para mostrar a realidade multicultural do povo moçambicano.
Este tipo de narrativa, o "romance de não-ficção", admite um certo pendor pedagógico, pois em geral é muito pragmático.
As personagens são um instrumento para demonstrar o objectivo (o tema) da obra.
Podemos, pois, dizer que a “não-ficção” é um “documentário”...
= O ROMANCE DE AUTO-NARRATIVA, de pendor auto-biográfico, quase diríamos “psicanalítico”:
O autor, de forma mais ou menos fantasiada, conta sobre a sua vida... e reflecte sobre ela...
=Falta-nos referir uma variedade que esteve muito em voga no século XIX, e que voltou a ter grande aceitação e procura na segunda metade do século XX: o ROMANCE HISTÓRICO:
No ROMANCE HISTÓRICO, um AUTOR do nosso tempo PRESENTE conta uma história, ou acontecimento, do PASSADO; ou traça a biografia de alguma figura do PASSADO:
o ROMANCE HISTÓRICO é uma RECONSTITUIÇÃO, com mais ou menos verosimilhança, de FACTOS VERÍDICOS do PASSADO. Claro que esta variedade de romance envolve muita fantasia; no entanto, é muitíssimo interessante. O Autor, após consultar FONTES fidedignas, re-cria os acontecimentos antigos.
Exemplos:
O autor português João Aguiar (1943-2010) em "A Voz dos Deuses" (publicado em 1984), re-cria a vida de Viriato, um guerreiro da Península Ibérica, que viveu em meados do século II aC, e lutou contra os Romanos. Este é de facto um "romance histórico".
Mas "Mário", publicado em 1868, não é um "romance histórico". Na verdade, este romance fala da Guerra Civil que entre 1828 e 1834, em Portugal, opôs os Liberais e os Absolutistas. Mas o seu Autor, Silva Gaio (1830-1870), ao escrever este romance, estava a falar do seu Tempo, do Tempo em que ele próprio viveu: ele escreve como testemunha dos males e sofrimentos de uma guerra civil. QUER DIZER: Para nós, actualmente, talvez este romance funcione como um "Romance histórico", pois fala-nos de um tempo passado; mas na verdade, ele foi escrito por um Autor que era contemporâneo desses acontecimentos e deles quis "dar testemunho".
Há, ainda, uma variedade literária que não é bem uma história, mas sim um relato de viagens mais ou menos aventurosas dos seus autores:
A LITERATURA DE VIAGENS tem grandes exemplos:
“O livro de Marco Polo” (Marco Polo, viajante e mercador italiano, 1254-1324).
"Peregrinação", do português Fernão Mendes Pinto (1510-1583). Esta obra, "Peregrinação" - é um dos "livros de viagens" mais lido e conhecido da Literatura Portuguesa. Só foi publicado em 1614.
© Myriam Jubilot de Carvalho
2020