MISTÉRIOS DA CRIAÇÃO LITERÁRIA - POR QUE VOCÊ ESCREVE?
Em 2006, o professor e bibliotecário pernambucano, José Domingos de Brito lançou uma coleção de livros composta de cinco volumes chamada Mistérios da criação literária, sendo o primeiro e segundo volumes intitulados "Por que escrevo?" e "Como escrevo?", com perguntas fundamentais aos escritores sobre os mistérios que envolvem o processo de criação literária.
O primeiro volume traz uma série de depoimentos de escritores e poetas, como: Dalton Trevisan, Carlos Drummond de Andrade, George Orwell, Clarice Lispector, Lya Luft, Jean-Paul Sartre, João Cabral de Melo Neto, José Saramago, Júlio Cortázar, Manuel Bandeira, Rachel de Queiroz, Truman Capote, entre muitos outros, respondendo a essa pergunta tão íntima, repleta de significados pessoais para cada um e, muitas vezes um tanto desconfortável para alguns.
Confira agora algumas respostas:
"A literatura foi o caminho que eu encontrei para enfrentar essa bela tarefa de viver". (Ariano Suassuna)
"Escrever para mim é indagar." (Lya Luft)
[...] "escrevo quando dá vontade, com ternura. Às vezes, fico semanas sem pegar na caneta. É claro que com o passar do tempo vou ficando angustiado. Preocupado. Será que morri?" (Dalton Trevisan)
"No meu caso, num certo sentido, é o desejo interior de dar um testemunho do meu tempo, da minha gente e principalmente de mim mesma: eu existi, eu sou, eu pensei, eu senti e eu queria que você soubesse. No fundo, é esse o grito do escritor, de todo artista. Creio que o impulso de todo artista é esse. É se fazer ver. Eu existo, olha pra mim, escuta o que eu quero dizer: tenho uma coisa pra te contar. Creio que é por isso que a gente escreve." (Rachel de Queiroz)
"Antes eu dizia: Escrevo porque não quero morrer. Mas agora eu mudei. Escrevo para compreender. O que é um ser humano?" (José Saramago)
"Por que escrevo é um negócio complicado... Eu tenho a impressão de que a gente escreve por dois motivos. Ou por excesso de ser --- é o tipo do escritor transbordante, como a maioria dos escritores brasileiros; é uma atitude completamente romântica --- ou por falta de ser. Eu sinto que me falta alguma coisa. Então, escrever é uma maneira que eu tenho de me completar. Sou como aquele sujeito que não tem perna e usa uma perna de pau, uma muleta. A poesia preenche um vazio existencial. Às vezes, eu escrevo porque quero dizer uma determinada coisa que eu acho que não foi dita; às vezes porque me interessa que conheçam meu ponto de vista. Às vezes, escrevo também por prazer." (João Cabral de Melo Neto)
"Porque a criação só pode encontrar seu acabamento na leitura; porque o artista deve confiar a outro a tarefa de concluir o que ele começou; porque somente através da consciência é que ele pode se ter como essencial a sua obra e toda obra literária é um apelo. Escrever é apelar ao leitor para que ele faça passar à existência objetiva o descobrimento que empreendi por meio da linguagem." (Jean-Paul Sartre)
[...] "Escrevo porque existe uma mentira que pretendo expor, um fato para o qual pretendo chamar a atenção, e minha preocupação inicial é atingir um público. Mas não conseguiria escrever um livro, nem um longo artigo para uma revista, se não fosse também uma experiência estética." (George Orwell)
"Tenho a impressão de que se eu soubesse responder a essa pergunta deixaria de ser escritor. Não haveria condição. Não saberia dizer, não. Está além da minha compreensão. Esta pergunta é tão grave como se perguntasse: Por que vive? Por que ama? Por que morre? Talvez eu escreva para atender a essas três presenças que são as únicas que existem na vida de um homem. No verso de Eliot: 'Birth, copulation and death'; eu diria 'nascimento, amor e morte'. Não sei por que escrevo. Eu nasci, virei homem e vou morrer." (Fernando Sabino)
"Eu escrevo para salvar a alma." (Fernando Pessoa)
"Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que foi essa que segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E, no entanto, cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever." (Clarice Lispector)
"Posso dizer sem exagero, sem fazer fita, que não sou propriamente um escritor. Sou uma pessoa que gosta de escrever, que conseguiu talvez exprimir algumas de suas inquietações, seus problemas íntimos, que os projetou no papel, fazendo uma espécie de psicanálise dos pobres, sem divã, sem nada. Mesmo porque não havia analista no meu tempo, em Minas."(Carlos Drummond de Andrade)
Mas... e você? Por que você escreve mesmo?
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Brito, de Domingos José. Por que escrevo? Coleção Mistérios da Criação Literária. Vol 1. 1 ed. São Paulo: Escrituras, 1999.