A CARTA PRAS ICAMIABAS

“Pedra mágica do discurso”

NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

(Carlos Drummond de Andrade)

Para Carlos Drummond de Andrade “No meio do caminho tinha uma pedra”. Se pensarmos o livro Macunaíma como um caminho, poderemos dizer que, nesse caso, a pedra é o capítulo IX, a “Carta pras Icamiabas”. Isto porque, além de ocupar o meio do livro, a “carta” representa uma parada obrigatória. Sem tomar o sentido negativo que a palavra possa sugerir, um obstáculo à leitura de Macunaíma.

A “Carta pras Icamiabas” é o ponto em que vários leitores e estudiosos se detiveram desde a publicação do livro Macunaíma e até mesmo antes, quando Mário de Andrade submeteu seus escritos ao julgamento de amigos, como foi o caso de Manuel Bandeira. Muito se disse a respeito dela e muito o próprio Mário de Andrade escreveu sobre ela.

Um bom resumo do que disseram alguns estudiosos sobre a “Carta” seria o que nos dá Maria Augusta Fonseca em seu texto A carta pras Icamiabas: “Ao longo dos anos, os estudos abrangentes de Macunaíma têm dispensado atenção ao capítulo IX. Para Telê P. Ancona Lopez, é “ponto alto do texto e da prosa modernista”, como pastiche, arremedo de estilos, discurso do poder. Gilda de Mello e Souza acentua a importância da Carta na estrutura da obra como “um comentário satírico da escolha desastrada do herói” (trocar as filhas de Vei por uma portuguesa). Rastreando também a ligação entre capítulos, mas sem expandir-se, Cavalcanti Proença associa a linguagem rebuscada de Macunaíma ao discurso pernóstico do estudante no capítulo X (Pauí-Pódole). Alfredo Bosi ressalta o estilo paródico do parnasianismo. Haroldo de Campos, em seu longo estudo, confere importância estética à Carta, mas inclui o texto entre as “elaborações metalinguísticas dispersas” de Macunaíma.”

Há também a opinião de Alfredo Bosi, crivada de palavras que Macunaíma com certeza gostaria de acrescentar à sua Carta: “A “Carta pras Icamiabas”, tão longa e pontilhada de intenções paródicas, é a expressão complexa dessa irrisão do academicismo bandeirante, de suas prosápias e sestros, fingindo o autor uma percepção selvagem, de fora; e aqui o modelo dos cronistas vernáculos é, ao mesmo tempo, imitado e invertido.” (op. cit., p. 179)

Mas, se estamos comparando Macunaíma a um caminho, devemos olhar um pouco para o livro como um todo.

Vejamos então, ainda usando a comparação inicial, algumas das coisas que um “viajante” vai encontrar no “caminho Macunaíma” .

No capítulo I, há uma amostra da cuidadosa estruturação do texto, nessa pequena descrição que chama a atenção pela musicalidade dada pela aliteração do “p” que vai diminuindo como a água que pára; além disso, o inusitado da afirmação “o longe estava bonito”, causa estranhamento pela substantivação do advérbio: “A água parara para inventar um ponteio de gozo nas folhas do javari. O longe estava bonito...”. (op. cit., . p. 10)

Mais adiante, no capítulo III, há esse trecho, carregado de humor e sensualidade, em linguagem que se aproxima do coloquial, porém, com expressões como “folhagem do fogo da urtiga”, em que se nota a predominância da função poética: “Então pra animá-lo Ci empregava o estratagema sublime. Buscava no mato a folhagem do fogo da urtiga e sapecava com ela uma coça coçadeira no chuí do herói e na nalachítchi dela. Isso Macunaíma ficava que ficava um lião querendo. Ci também. E os dois brincavam que mais brincavam num deboche de ardor prodigioso.” (op. cit., p. 24/25)

Logo em seguida, no capítulo IV, encontramos essa lenda que fala do surgimento da lua e que é pouco conhecida como são, infelizmente, as lendas do nosso folclore: “Quando foi ali pela hora antes da madrugada a boiúna Capei chegou no céu. Estava gorducha de tanto fio comido e muito pálida do esforço. Todo o suor dela caia sobre a terra em gotinhas de orvalho novo. Por causa do fio geado é que Capei é tão fria. Dantes Capei foi a boiúna mas agora é a cabeça da Lua lá no campo vasto do céu. Desde essa feita as caranguejeiras preferem fazer fio de-noite.” (op. cit., p. 33)

Depois da carta-pedra, seguindo o caminho Macunaíma, encontramos uma personagem de outro livro de Mário de Andrade. Ela está lá, inteira, na passagem trazendo talvez para um leitor mais sensível, a saudade de outra leitura: “Nem bem saiu da pensão topou com uma cunhã clara, loiríssima, filhinha-da-mandioca bem, toda de branco e o chapéu de tucumã vermelho coberto de margaridinhas. Chamava-se Fräulein e sempre carecia de proteção.” . (op. cit., p. 89)

Encontra-se mais adiante essa outra história dentro da história: “No tempo de dantes, moços, o automóvel não era uma máquina que nem hoje não, era a onça parda.” (op. cit., p. 129).

E mais além a personagem abandonada sem explicação no antes do caminho: “Deixaram a linda Iriqui se enfeitando sentada nas raízes duma samaúma e avançaram cautelosos.” (op. cit., p. 22), é retomada no agora, 118 páginas, 12 capítulos e muitas aventuras depois, como se não houvesse se perdido: “Entrou no mato bem, légua e meia e foi buscar a linda Iriqui,” (op. cit., p. 140)

Estes são apenas alguns exemplos escolhidos ao acaso para demonstrar que muitas são as possibilidades de estudo que nos oferece este livro que, por ser uma obra literária e, portanto, um objeto artístico, permite ao leitor que a olhe a partir de diversos ângulos e nela penetre por diversos caminhos.

Um desses caminhos foi a leitura apresentada pelo filme “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter”, estrelado pelo ator Grande Otelo, outro pode ser a explicação da falta de caráter de Macunaíma. Alguns críticos se debruçaram sobre esse assunto, um exemplo é Darcy Ribeiro no texto Limiar de Macunaíma: “A questão do caráter, ou da falta dele em Macunaíma me intriga mais ainda. Não seria ele assim, tão sem juízo e compostura, para contrapor-se ao senso comum da gente séria, ajuizada, bem comportada, ganhadora de dinheiro, virtuosa e servil? Os que fazem e conservam esse mundo feio e triste, tal qual é? O herói trickster, safado e moleque, aos olhos dos próprios índios — que já não são lá gente muito séria — convertido em Macunaíma, resulta numa gargalhada frente a tanta bobice circunspecta como as do mundo que rodeava Mário”. (op. cit., p. XIX)

Pode-se acreditar que algumas vezes Macunaíma adota uma postura mais consciente do que engraçada, como quando resolve contar sua história ao papagaio de modo a preservar a memória de seu povo, já que não restaria, depois de sua ida para o céu, nenhuma pessoa que pudesse contá-la. Além disso, e no caso do comentário de Darcy Ribeiro, afirmar que os índios não são pessoas sérias pode parecer uma afirmação carregada com um tanto de preconceito.

Não ter nenhum caráter já é por si só um caráter. O caráter de uma hipérbole, a hipérbole de um povo que sabe se valorizar, que consegue rir do seu opressor e de si próprio, que tem defeitos — e muitos — mas sabe que não é o único povo a tê-los. Para comprovar a afirmação, podemos citar a insistência de Macunaíma em contradizer o “mulato da maior mulataria” a fim de defender sua história e a história de seus ancestrais no capítulo X. Pauí-Pódole.

Quanto às hipérboles, o livro todo está pontilhado delas. São marcadas principalmente pela desgeografização construída nas fugas de Macunaíma, quando este atravessa rios, fronteiras e estados como quem atravessasse o quintal das casas de um bairro residencial.

O de onde do “AI! QUE PREGUIÇA !” que tanto marca a presença do herói desde o início do livro, é outra porta de entrada que se pode apontar no texto como objeto de estudo. A respeito desse assunto afirma Telê Porto Ancona Lopez em nota de rodapé: “AI! QUE PREGUIÇA...Desabafo-chave do herói Macunaíma, a expressão parece, à primeira vista, encerrar-se em si mesma, (.......). Entretanto, há razões para conjecturar que, ao cunhá-la, Mário de Andrade teve motivações mais complexas, ligadas a seu interesse pelas manifestações do caráter nacional na língua. (......) “Há outro animal que os índios chamam Aig e nós Preguiça” (......) A sonoridade chama a atenção: (........) A Mário, (...), não devem ter escapado as possibilidades de exploração de mais um amálgama entre o tupi e o português.” (op. cit., p. 6)

A malícia e sensualidade é outro aspecto a ser visto e, como um talvez incentivo podemos citar, dada pelo próprio Mário de Andrade, a explicação da sugestiva expressão “agora estão se rindo um pro outro” , que aparece várias vezes no livro: “O “agora estão se rindo um pro outro” é dum reconto caxinauá.” ( op. cit., p. 495)

Para concluir, podemos afirmar que, ao final do estudo de Macunaíma, qualquer que seja a via de entrada para o texto, não é o Monstro Ururau quem possui a muiraquitã e sim o leitor. A pedra preciosa e mágica está iconizada no livro. Mário de Andrade não só falou sobre a pedra, ele fez essa pedra no corpo do texto e, por isso, quem percorre o caminho Macunaíma termina por encontrar a muiraquitã, que nos dá de presente um Mário de Andrade sorridente, alegre e por vezes tão moleque, malandro e malicioso como o próprio Macunaíma.

A respeito dessa alegria vale a pena invocar Darcy Ribeiro que afirmou: “Quem negaria que Macunaíma é o texto mais jocoso e mais gozoso que se escreveu em nossa língua? Ou em outras? Sei lá eu. Para mim nem Rabelais se iguala a Mário. É visível o prazer com que ele compôs sua rapsódia — muito sorri escrevendo, confessou — se dando liberdades inimagináveis antes dele, tanto para fantasiar, brincalhão, como para questionar, implicar, ironizar.”. (op. cit., p. XX)

Embora o livro como um todo seja, como já demonstramos, digno dos estudos aprofundados que se tem feito e com certeza ainda se fará sobre ele, não podemos negar que a “Carta” merece sempre um olhar cuidadoso por parte de quem quer que seja que resolva estudar Macunaíma.

Não é gratuitamente que esse capítulo IX chama e chamou a atenção de tanta gente. A “Carta pras Icamiabas” é, sem dúvida, uma quebra na narrativa que nos faz pensar em Caminha e em Oswald de Andrade. Faz pensar também em Gregório de Matos e em Luíz Fernando Veríssimo. E até mesmo nos cartunistas como Angeli que, às vezes com muita criatividade, ironizam nossa cidade, nosso estado, nosso país e nossas próprias vidas. Daí a afirmação de que a “Carta” é a pedra no meio do caminho, a “pedra mágica do discurso”, como diz Eneida Maria de Souza.

Através do próprio Mário de Andrade, por suas cartas, principalmente a Manuel Bandeira, é possível conhecer a opinião de algumas pessoas a respeito da “Carta”. Um exemplo é esse trecho bem humorado: “Tenho me divertido é com o caso da Carta (.....) Osvaldo gosta muito dela. P.Prado também (........), diz que Prudentico, Rodriguinho também não gostam dela, (.......) Tarsila gosta da Carta. Tou com vontade de fazer uma estatística.” .( op. cit., p. 503)

Na “Carta pras Icamiabas”, Macunaíma pede um dinheiro que não tem nenhuma chance de obter; já que, como nos alerta Maria Augusta Fonseca, a carta é escrita a índias analfabetas e em uma língua desconhecida das destinatária. Além disso, por falta aparente de um mensageiro bilingüe, provavelmente a carta nem sequer chegará às mãos das “caríssimas súbditas”.

A carta é na verdade mais um retalho da colcha folclórica e cultural que forma o texto como um todo. Mário de Andrade não deixa quanto a isso nenhuma dúvida quando se “defende” de forma genial da acusação de plágio: “Copiei sim, meu querido defensor. O que me espanta e acho sublime de bondade, é os maldizentes se esquecerem de tudo quanto sabem, restringindo a minha cópia a Koch-Grünberg, quando copiei todos. E até o Sr., na cena da Boiúna. Confesso que copiei, copiei às vezes textualmente. Quer saber mesmo? Não só copiei os etnógrafos e os textos ameríndios, mas ainda, na Carta pras Icamiabas, pus frases inteiras de Rui Barbosa, de Mário Barreto, dos cronistas portugueses coloniais e devastei a tão precisa quão solene língua dos colaboradores da “Revista de Língua Portuguesa”. Isso era inevitável pois que o meu...isto é, o herói de Koch-Grünberg, estava com pretensões a escrever um português de lei.” E prossegue, se defendendo: “O sr. Poderá me contradizer afirmando que no estudo etnográfico do alemão, Macunaíma jamais teria pretensões a escrever um português de lei. Concordo, mas nem isso é invenção minha pois que é uma pretensão copiada de 99 por cento dos brasileiros! Dos brasileiros alfabetizados.” (op. cit., p. 525)

Se, como já dissemos, o livro pode ser comparado a um caminho e a “Carta” à pedra que há no meio desse caminho, podemos afirmar que esse capítulo tem a qualidade de causar no leitor o estranhamento de que nos fala chklóviski. E podemos, ainda vendo sob a ótica da comparação, tentar analisar as diversas reações de um viajante que se depara com uma pedra no meio do caminho, uma grande pedra, impossível de não ser vista, uma pedra que obriga uma parada para maiores análises.

O caminhante pode afastar a pedra como um obstáculo à sua passagem e, só depois, seguir em frente. A esse tipo de viajante podemos comparar Tristão de Ataíde, de acordo com referência feita por Haroldo de Campos: “O livro lhe parece “longo demais”. Acha-o “cacete muitas vezes, como na imensa carta, em estilo médico-purista, que o nosso herói escreve às suas súditas”. (op. cit., p. 371)

Outros viajantes podem parar, olhar para a pedra, apreciá-la e, depois, seguir em frente sentindo que a parada foi um intervalo da caminhada, um merecido repouso, agradável e útil, para reconstituir as forças em meio a uma caminhada não árdua, porém instigante e curiosa. Assim pode ter sentido Haroldo de Campos, de acordo com Gilda Mello e Souza, porque na sua opinião ele, em seu “Morfologia de Macunaíma”, entre outras coisas: “não levou em conta o fato da seqüência de Vei constituir, juntamente com a carta às Icamiabas, o centro do livro, estando portanto colocada na posição estratégica que, segundo Jakobson, marca em geral o clímax da ação; (...) não percebeu — como aliás grande parte dos amigos e contemporâneos do escritor — que a carta às Icamiabas desempenhava uma função importante na estrutura da obra; por isso tomou-a como um capítulo autônomo e ornamental, como pura exibição de virtuosismo lingüístico,”. (op. cit., p. 274)

Haverá ainda aquele caminhante que, ao topar com a pedra nela tropeçará, baterá o dedão do pé e, com as estrelas da dor brilhando no espírito, encarará a pedra como um transtorno, algo desagradável em um caminho que deveria ser aprazível e livre de obstáculos. Este, mal olhará para a pedra. E quando olhá-la o fará com rancor e desejará removê-la. Dessa forma se sentiu talvez Manuel Bandeira que, de acordo com o próprio criador do “caminho Macuaníma”, não gostava da pedra: “No resto os argumento de você são de ordem puramente sentimental e não de ordem crítica e são inaceitáveis. Não gosto porque não, porque é pretensioso, porque me aporrinha são argumentos sem valor intelectual.” (op. cit., p. 495)

E, finalmente, haverá aquele que, em função talvez da pedra, ou até sem influência dela, simplesmente encontra-se sem condições de avaliar o caminho e dele se desagrada como um todo. Para esse a caminhada será árdua e improdutiva, nada poderá ver que alguma atração lhe cause. Talvez nem conclua a caminhada e, se o fizer, chegará ao final apenas com um enorme sentimento de alívio e um imenso desejo de cobrar, por meio de críticas impiedosas, do criador de tal caminho, a dura travessia à qual foi obrigado. Assim sentiu com certeza João Ribeiro: “Se o Macunaíma fosse um livro de estréia, o autor nos causaria pena, como a de um próximo hóspede do manicômio”. (op. cit., p. 185)

Mas, além de todos esses viajores, pode haver aquele para quem a pedra é uma pedra preciosa que merece ser olhada com atenção pois suas cintilações é que fazem o brilho de toda a caminhada. Assim provavelmente sentiram muitos dos que enveredaram pelos caminhos de Macunaíma. Não fosse isso não teríamos tantos estudos a respeito dessa pedra que é o capítulo IX: “A Carta pras Icamiabas”.

Lembrando agora Paul Valéry em suas afirmações a respeito do fazer poético e lembrando que Macunaíma, embora não seja um poema, é também uma obra artística, é certo dizer que essa pedra preciosa nela iconizada não foi retirada da terra sem trabalho. Ela foi fabricada com todo o cuidado, polida, lapidada. Caprichosa e intencionalmente elaborada por Mário de Andrade para brilhar diante do leitor.

Uma prova dessa afirmação é que o livro teve sua primeira redação feita em quatro dias seguidos, durante as férias que Mário passou na “chacra”. Isso é dito por vários críticos e estudiosos e pelo próprio Mário de Andrade. Porém, os ditos quatro dias aconteceram em 1926 e a primeira edição foi dada à luz apenas em 1928. Nesse intervalo, Mário muito burilou seu texto original, como deixou bem registrado em cartas a seus vários amigos.

Um exemplo é a carta a Manuel Bandeira: - “Onde você me despertou bem a crítica e resolvi fazer que nem você fala é no caso de Ci. Vou fazer um capítulo só pros amores dela. O resto passa pra outro capítulo. Essa crítica foi uma revelação luminosa nesta carta. Vai melhorar enormemente o caso. Na Carta pras Icamiabas não cedo até agora mais do que cedi. Reduzo um pouco e isso mesmo porque já sentia que estava comprido demais. Você conseguiu fortificar o sentimento.” (op. cit., p. 495)

Considerando-se ainda que o livro é essa colcha de “cultura brasileira em dialogia” que nos deixa ver todo o conhecimento de Mário a respeito de folclore; como um exemplo temos a própria presença das icamiabas, música; Mário de Andrade nos autoriza a isso quando chama seu texto de rapsódia e a Carta de intermezzo, Brasil; então não é Macunaíma um índio brasileiro?, literatura e vida. Podemos acreditar que a elaboração de Macunaíma começou muito antes das férias famosas.

Portanto, não há perigo de erro em dizer que essa pedra preciosa que se encontra iconizada no texto exigiu trabalho árduo, como é de costume na criação artística; o esforço físico de um homem que trabalhou e se divertiu muito para criar um Macunaíma malandro, que amou a vida doidamente e virou estrela porque “Não vim no mundo para ser pedra”. Mário também não, uma vez que, graças à sua arte, assim como Macunaíma, Mário de Andrade virou estrela, estrela da Literatura brasileira.

QUARENTA ANOS

“A vida é para mim, está se vendo,

Uma felicidade sem repouso;

Eu nem sei mais si gozo, pois que o gozo

Só pode ser medido em se sofrendo.

“Bem sei que tudo é engano, mas sabendo

Disso, persisto em me enganar...Eu ouso

Dizer que a vida foi o bem precioso

Que eu adorei. Foi meu pecado ...Horrendo

“Seria, agora que a velhice avança,

Que me sinto completo e além da sorte,

Me agarrar a esta vida fementida.

“Vou fazer do meu fim minha esperança,

Oh sono, vem!...Que eu quero amar a morte

Com o mesmo engano com que amei a vida.

(Grã Cão de Outubro) (op. cit., p. 218) Abril de 99

OBJETIVO:

Fazer uma leitura de Macunaíma como sendo um caminho, comparando o livro ao caminho do poema de Carlos Drummond de Andrade e, dentro dessa comparação, mostrar a “Carta pras Icamiabas” como sendo a pedra que havia no meio do caminho.

No caso do texto Macunaíma, mostrar que, em o livro sendo um caminho e a carta uma pedra, ela é uma pedra mágica, a “Pedra mágica do discurso” ou até mesmo a própria muiraquitã, iconizada no texto.

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Mário de (1893-1945)

Macunaíma / Mário de Andrade; edição crítica, Telê Porto Ancona Lopez. (1996), S. Paulo: Scipione Cultural.

Divina de Jesus Scarpim
Enviado por Divina de Jesus Scarpim em 11/11/2020
Reeditado em 30/01/2021
Código do texto: T7109520
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