TRIBOS... (verdadeiros índios aqui excluídos)

Adoro os achados, nunca os perdidos!

Se descuido de alguém ou não, a página da revista escolar carioca estava dentro de um dicionário de alemão, num sebo... paulistano, bairro italianado do Bexiga, pode? Deve ser o que aparece em calendário no primeiro dia de janeiro: a tal da (raramente usada) Confraternização /e Paz/ Universal, único feriado mundial, ainda assim vagamente 100%... A ordem alfabética das tribos é por minha conta, desestruturando o artigo didático inicial com nove bonequinhos coloridos. Acrescentei algumas coisas. Também sei pesquisar, ora bolas!

Ainda não me situei nem sitiei. Sou daqueles que saem para a indústria longínqua antes do sol, aulas noturnas e a volta para casa quase... no outro dia. Que nome teria um grupo que eu organizasse e chefiasse? “Cansados & Cia. Ilimitada”. Leitores concordam?

CLUBBERS – São amantes de música eletrônica e não passam um final de semana sem ir à boate. Seu vestuário se caracteriza por roupas berrantes e coloridas, acessórios modernos e penteados excêntricos. ---- Movimento surgiu na Inglaterra, meados da década de 90, sem motivo social de inclusão, apenas hedonismo (Grécia Antiga, filosofia do prazer, supremo bem da vida), amor à estética e à diversão na noite.

EMOS – São fãs do emotional hardcore, segmento do punk (movimento surgido em meados da década de 70) que mistura letras românticas e som pesado. Usam roupas negras, cabelos lisos, com franja sobre os olhos pintados, misturam acessórios do punk com ícones do universo infantil, expressam abertamente suas emoções, escrevem diários e poesia e pregam a tolerância quanto à opção sexual. --– Abreviação de emocore. Movimento nasceu em meados dos anos 80. Adolescentes “tristes e incompreendidos” da classe média; pouco sociáveis, “sofredores” na vida, escutam as tais musiquinhas melosas e ruidosas, de letras confessionais, com vontade de chorar...

FUNKEIROS – O que os identifica é o gosto pelo funk, mas também têm gíria própria. O vestuário inclui casaco com capuz, cordão, calça cargo, cabelo descolorido e cavanhaque pintado para os meninos e, para as meninas, calça de cintura baixa justíssima, shorts curtos e tops que deixam à mostra a barriga.

GÓTICOS – Cultivam a melancolia como filosofia de vida. Usam roupas escuras e maquiagem muito carregada, sempre em contraste com a pele branquíssima, que parece anos-luz distante dos raios de sol. –-- Influência de literatura e cinema de terror e cultura BDSM (erotismo sádico). Em comum, a aparência dark, isto é, escura e estilo andrógino, maquilagem que ressalta palidez, batom negro ou roxo. (Um Baudelaire, Ariano de 9 de abril, simbolista do século XIX, renascido?) Modernamente, góticos: fé em religiões diversificadas, em geral com base cristã. Origem do termo: em godos, tribo do este da Alemanha, que tiveram importante papel na queda do império romano do Ocidente – godo, sentido pejorativo, “sinônimo” de bárbaro. A arte ou estilo gótico vem lá da França, espalhada depois pela Europa ocidental, inspiração nos últimos anos da Idade Média, época super sensitiva, século XII, que englobava burguesia e universidades, novas ordens religiosas, os horrores da Peste Negra e da Guerra dos Cem Anos, muitas ilusões e desilusões... Renascimento gótico, final do século XVIII, Inglaterra, iniciozinho do romantismo, nostalgia dos tempos medievais, culto das ruínas – inspirações da novela gótica: cemitérios, castelos, ruídos estranhos, portas que rangem sozinhas, igrejas medievais em ruínas, passagens subterrâneas, sombras, fantasmas, seres enterrados vivos, vilões vampiros, estátuas sangrando, famílias amaldiçoadas. Com o tempo, representantes literários foram Shelley, Lord Byron e Bram Stoker (“Drácula”, publicado em 1897; em Portugal, Herculano escreveu “O presbítero”.

MAROMBEIROS – Frequentam a academia diariamente e adoram exibir os músculos sarados. Gostam de alimentação natural e estão sempre de dieta. O vestuário dos meninos inclui camisa justa e bermudão, enquanto no das meninas os destaques são o short e minissaia.

METALEIROS – Curtem o rock pesado e usam piercings, muitas correntes grossas e tatuagens enormes. Os cabelos são sempre compridos e desgrenhados. --– Tribo urbana... porque geograficamente da cidade. Início dos anos 70. Herança de outras subculturas (ou contraculturas?), compartilhamento com aspectos dos rockers (roqueiros), hippies (paz, amor e liberdade), góticos (escuridão) e punks (rebelião). Rejeição a tribos urbanas como banalidade ou ausência de ideais. Desrespeito à religião organizada, culto a satanismo, paganismo e Wicca.

OTAKU – São os amantes das animações japonesas, que costumam participar de encontros trajando-se como os personagens dos filmes e desenhos que admiram. –-- Originalmente, a palavra, gíria japonesa, significava pessoa que não saía de casa onde não parava de fazer jogos e ler mangás. Generalizou-se hoje para... ‘friji’, do inglês ‘freak’, sentido de ‘estranho, extravagante, excêntrico, raro ou fanático’.

PATRICINHAS E MAURICINHOS – Vivem em função da moda e estão sempre ‘arrumadinhos’, nunca saindo de casa sem um bom perfume ou um fio de cabelo fora do lugar. --– Pura urbanidade... porque a moda de tal e tal roupa das grandes cidades são ‘levadas’ ao interior através da televisão, mídia popular.

SURFISTAS – A prancha é sua companhia inseparável. Podem ser identificados pelos bermudões largos, os óculos escuros e os cabelos compridos, às vezes descoloridos. --- Achados traços ao norte do Peru de culturas pré-incas, desenho em cerâmicas de homens sobre madeiras deslizando sobre o mar. Observação nas ilhas “Hawái”, 1778, pelo explorador inglês James Cook; surf decaiu e renasceu no século XX, recuperado com a afluência de turistas e militares estadunidenses no Havaí, popularizado a seguir da Califórnia a Austrália, criando o germe de uma subcultura.

Góticos /novelas pré-românticas/ não assim tão atraentes, mas é a tribo desta relação que eu escolheria – o mistério do sobrenatural – se fosse mais jovem... Bancar o vampiro (ou monge maldito?) no pescoço de uma frágil e adorável loura legítima. Diz-se dos godos o primeiro povo a venerar a mulher, instituir a monogamia, a santidade do casamento e a proteção do sexo frágil. Frágil??? F-r-á-g-i-l??? Fr.........?

Desisto de ser gótico.

FONTE:

“O beabá da escola” – Revista NÓS DA ESCOLA – Rio, SME, n. 50/2007.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 12/09/2020
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