VERSO POPULAR NORDESTINO - PARTE III

6-DA CLASSIFICAÇÃO DO FOLHETO - Folhetos despretensiosos de colocações literárias. Segundo o professor ANTONIO SOARES AMORA, "a classificação, sistema de conceitos e não de palavras, tem de possuir qualidades lógicas fundamentais: conter em si os fatos existentes e estar aberta a fatos que venham a existir". Os folhetos mostram mais qualidade do que classe (grupos ou divisões de uma série ou conjunto: seção, ordem, ramo, categoria). --- No livro "Classificação popular da literatura de cordel", de LÊDO MARANHÃO DE SOUSA ("Col. Cultural Popular, Vozes", 1976): "Folhetos de conselhos de eras, santidade, corrupção, cachorrada ou descaração, profecias, gracejo, acontecidos, carestia, exemplos, fenômenos, discussão, peleja, bravura ou valentia, ABC, Padre Cícero, Frei Damião, Lampião, Antônio Silvino, Getúlio, política, safadeza ou putaria e propaganda; romances de amor, sofrimento, luta e príncipes-fadas-reinos encantados. Classificação popular, divisão em folhetos e romances, conforme o número de páginas, folheto de 8 a 16, romance de 24, 32, 48 e 64". Classificação popular não fabricada em laboratório e sim criada pelos depoimentos dos entrevistados: muitas palavras sinônimas, Getúlio e política se confundem, diferença entre discussão (bate-boca entre dois contendores) e peleja (entre dois cantadores), dois cangaceiros de igual peso, religiosos idem. Não necessidade de classificar os humildes livrinhos, deixá-los ingênuos, à própria sorte - o público leitor conhece suas qualidades através dos conteúdos e por sabedoria própria, sem precisar de técnicas pedagógicas. O "rumanço", na fala do povo do mato, é um folheto igual aos outros, conhecido pelo enredo de "estórias de amor", não pelo número de folhas - não folhetos para protesto, pois aí perderia sua característica literárias de entretenimento. (BH, SLMG, n. 606, maio/78) ----- 7-DA AUTENTICIDADE DO FOLHETO - Entrevista do folclorista VERÍSSIMO DE MELO ("Jornal do Brasil", jul./78), "O poeta de cordel é conservador", indagado sobre problemas de deformação no tocante a literatura de cordel: "Problema sério o aparecimento de inúmeros folhetos com as mesmas características, porém escritos por intelectuais, professores universitários e estudantes, porém o cordel - ou folheto, como prefere CÂMARA CASCUDO - caracteriza-se por 3 elementos: narrativa, popular e impressa. Popular, nunca - conhecemos hoje os autores, mas daqui há 100 anos, cadê a autenticidade? Cordel escrito por erudito deixou de ser cordel". CASCUDO admite narrativa em prosa, à maneira de "Sátiras e epigramas de Zé Areia", escrito por VERÍSSIMO DE MELO, editado por CARLOS LIMA. ("Col. Folhetos de cordel", Natal, 1972) Autenticidade em folclore é tema controvertido; da mesma forma, bonecos de barro pintados, elementos kitsch, perdem a originalidade; idem, no cinema, cangaceiros, tropeiros e flagrados ao vivo. Descaracterização, pelo menos quanto à forma, capas ilustradas com desenho em policromia, sem xilogravura, com figuras e paisagens, títulos grandes e tamanho forrado comum, como por exemplo "Zé Bico Doce, o rei da malandragem", de PAULO NUNES BAPTISTA, e "História do príncipe formoso", de RODOLFO COELHO CAVALCANTE- às vezes até poesia misturada com.prosa.

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PROCUREM conhecer o livro teórico "A ideologia do cordel", de IVAN CAVALCANTI PROENÇA; também "Deus e o diabo na literatura de cordel", Revista de Cultura Vozes, 1964.

LEIAM meus trabalhos "Cantadores, repentistas e violeiros", "O cordel e a comunicação", "O cordel e a religião" e "O cordel - Pesquisas antigas" - Parte IV.

FONTE:

"Reflexões sobre verso popular", livro de ALEIXO LEITE FILHO, escritor e folclorista - Caruaru, set./1978.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 17/12/2019
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