VERSO POPULAR NORDESTINO - PARTE II

4-POLÍGONO DOS CANTADORES - Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, por especialistas, "Atlas do Folclore do Brasil": mapas das manifestações típicas da cultura pop nacional + inserção de origem dos cantadores. A primeira notícia de cantadores violeiros foi no sertão da Paraíba, expansão para os sertões dos Estados limítrofes, só anos depois nas zonas agresteiras. ORLANDO TEJO, jornalista-poeta-advogado, no livro "Zé Limeira - poeta do absurdo", afirma que foi no município de Teixeira que a viola foi introduzida como instrumento para cantoria. INÁCIO DA CATINGUEIRA, paraibano, cantava acompanhado ao pandeiro. O não-menos creditado FRANCISCO BARBOSA COUTINHO FILHO, folclorista-historiador-sociólogo-humanista e repentista popular, pesquisou e fez uma relação onomástica dos cantadores - dos 125 cantadores catalogados no seu livro "Violas e repentes" somente DOMINGOS MARTINS FONSECA e JOSÉ PRETINHO são do Piauí, os demais assim catalogados: Ceará, 6; Pernambuco, 54: Rio Grande do Norte, 7; Paraíba, 53; Alagoas, 3 - todos nascidos no interior dos Estados - "Polígonos dos Cantadores", estes sertões. Em "Antologia ilustrada dos cantadores", FRANCISCO LINHARES e OTACÍLIO BATISTA afirmam que "a poesia, atravessando a fase colonial, veio alcançar apogeu na pequena Paraíba de AUGUSTO DOS ANJOS e JOSÉ AMÉRICO, musas do longínquo Parnaso. --- Apesar de ZÉ DUDA DO ZUMBI ter vivido a maior parte da vida em Recife, era paraibano e ADERALDO em Fortaleza era natural do Crato/CE. OS cantadores surgiram naquelas regiões no início do século XIX. De bom alvitre, consultar o escritor LUÍS DA CÃMARA CASCUDO sobre as origens dos cantadores, tão apreciados ainda em 2019 pelo povo brasileiro. ("Jornal de letras", Rio, maio/77) ----- 5-DO FOLHETO DE CORDEL - Cordel, sistema de se colocar os folhetos expostos à venda nas barracas, presos a um cordel, o comum da região é falar "literatura de cordão". O poeta imagina uma estória e a descreve em estrofes, de 6 ou 7 linhas com versos setessilábicos, modo mais aceito pelos leitores, intercalando 3 versos de rimas no caso de sextilhas e 4 em 7 linhas, sendo este estilo só conhecido no Nordeste, talvez criação regional. Quanto à ficção, assunto do cotidiano quando desperta a atenção da comunidade, tipo crime com barbaridade, vandalismos, prostituição, roubos, calamidades públicas, morte de pessoas ilustres, desafios de cantadores - variam de 6 a 10 versos. De início, invocação mística de um Ser divino para ajuda na inspiração para a narrativa; em seguida, localização geográfica e distribuição dos personagens no enredo, dentro da situação econômica e sócio-cultural-religiosa. Em alguns folhetos, uma pausa de reflexões, como faziam os clássicos e a escola machadiana, continuar a leitura em arejamento mental. Ou deslocamento de quadros para depois continuar a narrativa - se romântico, "herói de capa e espada": se estoico, herói como exemplo de fortaleza / influência da literatura antiga, filmes, artista infalível, preciso, irreversível... O interesse do povo ´é excentricidade de uma ação, digamos, o valentão possui uma queixada de jumento, enfrenta multidão armada e venceu; a resistência de um animal que correu 40 dias e noites para atender a uma situação constrangedora; a criatividade do autor é sempre auto-desafiante. Ao final, moralismo e regras do "bom viver", agradecimento ao leitor e imprescindível acróstico. Capa variável de acordo com o enredo - casal abraçado, foto de artista etc. - de preferência, uma xilogravura. Título em duplicidade - "A força do amor materno ou "O preço da ingratidão" - reforça o desejo da leitura; ou título bem extenso. Dimensão do livrinho - dificilmente além de 30 folhas, 16 X 11 centímetros, in-fólio (pesquise, caro leitor), papel jornal do mais barato, capa em papel de cor. Há publicações em reedição, capa colorida, tamanho grande, perda da originalidade do folheto legítimo, deturpação do enredo original (alterado para versão de acontecimentos da Idade Média, memória trovadoresca), nome do editor, autor omitido (nem sempre por morte - alegam anonimato) - comum a fase sócio-política das guerrilhas sertanejas nordestinas, chamada"Tempo do cangaço". --- O primeiro trabalho baseado nesse tipo de literatura foi o "Romance d'A Pedra do Reino e o príncipe Vai e Volta", de SUASSUNA - no folheto VIII, " Terceiro império": "Em seguida, José Vieira pega un filho de dez anos, coloca-o na Pedra dos Sacrifícios e decepa-lhe o braço do primeiro golpe. A vítima, ajoelhando-se, bradava, de mãos postas (???): Meu pai, você não dizia que me amava?" Assim falou o protagonista do livro que era um filósofo-imbecilizado, espécie de paranoico. ("Jornal da cidade" - Recife, ag./1975)

(Segue.)