O CORDEL E A COMUNICAÇÃO - PARTE V
1-----Repentista famoso da arte popular no Nordeste - irmão de outros violeiros de fama - DIMAS e OTACÍLIO -, LOURIVAL BATISTA PATRIOTA, o "Louro do Pajeú", mora com os 8 filhos numa modesta casa em São José do Egito, alto sertão pernambucano - para sobreviver, corre o Brasil inteiro, viola nas costas.
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2-----Jornal MOVIMENTO - Estamos aqui para conversar um pouco. / Poeta LOURIVAL - Querem verso? / M - Queremos saber um monte de coisas da sua vida... versos também. Qualquer um. Diga aí o que o senhor gostar. - LOURIVAL pega um folheto, na capa "Versos de LOURIVAL BATISTA". - Certo cantador cantando com ele terminou o verso com a seguinte deixa: "Sou igualmente o dragão / Do rio negro falado". Ao que LOURIVAL respondeu: "Pra ser dragão tás errado / Mas Lourival já te explica / Tira letra apaga letra / Tira letra e metrifica / Tira D apaga R / Bota o C vê como fica"... - LB - Aquele do engraxate vocês já conhecem? "Um cantador engraxate / A nossa arte relaxa / Nem engraxa bem nem canta / Nem canta bem nem engraxa / Procura graxa não tem / Procura verso e não acha." Outra vez, elogiando o fazendeiro Tércio Rafael, pai do juiz doutor Rafael, outro poeta que tinha prá essas bandas de cá, eu fiz o seguinte trocadilho: "Eu vou convidar o Tércio / Para ver se Tércio vem / Melhoraria de sorte / Ficaria muito bem / Se Tércio mandasse um terço / Dos terços que o Tércio tem." / M - Esses versos são feitos de improviso, na viola? / L - São na viola. Se fosse assim (mostra o folheto), não era tão admirado. O que acham inédito é porque é na hora que canta, surge o personagem do momento - se fosse escrito, era fácil. / M - Quando começou sua vida de violeiro? / LB - Com 10 anos, fazia quadrinhas; aos 15 anos, comecei a me revelar, fazer versos na viola. Meu pai foi sempre contra, queria que a gente estudasse, e lutou, lutou, vendeu o que tinha e me botou prá Recife, onde cursei o primário e cantava com os cantadores. Abandonei até o colégio, na época o Dom Vital, e saí cantando . Meu pai soube, foi ao Recife e proibiu, botou-me de novo no colégio, acabei primário em 1933 e saí com a viola, definitivamente profissional... Mas desde 1930 eu já usava viola, de viola 46 anos, 61 de idade. / M - O senhor saiu de Itapetim somente para estudar? / LB - Foi, pai tinha muito gosto que eu me formasse em Direito, era a loucura dele ver um filho advogado, e vendeu tudo que tinha e me mandou prá o Recife em 1930. Fui com João Mariano Valadares (político em São José do Egito) num caminhão que ele tinha na época, só quem tinha um caminhão era ele. No Recife, fiquei na casa de um cantador, José Ferreira de Lima, que morava na Ilha do Leite; ele ia à cantoria à noite, eu ás vezes gazeava aula prá ir ver ele cantar. Sei que enquanto pai não chegou no Recife, que ele foi depois, em 31, com a famílias toda, eu morei na casa desse cantador. / M - O senhor saiu da escola prá onde? / LB - Fui viajar, saí direto já com a viola. Saí do Recife a 2 de setembro de 33, cheguei a Itapetim a 7 de setembro de 33 viajei a pé do Recife, atravessando a Bahia, Rio Grande do Norte, saí em Serra Negra, cheguei a pé. Não viagem direta, cantei com diversos cantadores no caminho. Mas do Recife saí com Luís Ferreira de Melo. Aí comecei a cantar por aqui, e o povo achou bom e tal, e me chamou prá cantar com Pinto, Luís Marinho. Aí, não deixei mais.
(Segue.)