O CORDEL E A COMUNICAÇÃO - PARTE III

1---DISTINÇÃO entre produção de VERSO ESCRITO X VERSO IMPROVISADO: literatura do verso popular apresentada em folhetos ou folhas soltas, pelos mercados e pelas feiras, constituindo o acervo da LITERATURA DE CORDEL, designação imprópria, mas era assim chamada pela maneira de expor livrinhos à venda, escanchados num cordão. amarrado de um lado a outro dos toldos, nas feiras do Nordeste. X produção do verso improvisado pelos cantadores , que andam de boca em boca, transcrito em livro de folcloristas e estudiosos, gravado em discos e fitas cassetes, constituindo a LITERATURA ORAL, designação extensiva a forma escrita de lendas, fábulas, mitos etc. Não chamar literatura de cordel de um modo geral, incluindo o verso popular cantado, recitado - antologias e ideologias sobre o assunto enfatizam só os folhetos, em imensa biobibliografia dos autores, reservadas as descrição dos cantadores. / 2---FOLHETISTA X CANTADOR - Os folcloristas e admiradores dos versos populares, distanciados do Nordeste, falam em cantadores e folhetinistas sem observarem distinção. Cantador é designativo de improvisador repentista - as pelejas descritas nos folhetos ou foram feitas por eles ou por determinado folhetista. O jornalista EDGAR DE ALENCAR, informado pelo cantador CHICO BURITI, citou versos de uma peleja de SEVERINO PINTO com MILANÊS, sem saber que a referida contenda foi escrita apenas por Milanês. / 3---A famosa peleja de CEGO ADERALDO com ZÉ PRETINHO foi escrita por FIRMINO TEIXEIRA DO AMARAL - mais adiante, Alencar se refere a LOURIVAL BATISTA, chamando-o de LOURIVAL PEREIRA e cita um comportamento estranho ao famoso repentista de São José do Egito, Pernambuco: "A cantadora Zefinha retrucou violentíssima e Lourival confundiu com pesada e impublicável reprimenda." Novamente confusão de cantador com folhetista. / 4---O respeitável mestre de cordel, IVAN CAVALCANTI PROENÇA, inicialmente em livro, elaborado para tese em pós-graduação de curso de Letras, Literatura Brasileira, também por insegurança de informação, escreveu: "Ainda sobre o assunto, consultar "A chegada de Lampião no inferno", de RODOLFO COELHO CAVALCANTE, folheto que recentemente serviu de ponto de partida e apoio para a importante peça dirigida por LUÍS MENDONÇA, com igual título." Toda pessoa familiarizada com folhetos sabe que este folheto é de autoria de JOSÉ PACHECO e o de Rodolfo é "A chegada de Lampião no céu". Enganos são naturais em quem pesquisa valores anônimos - o experimentado SEBASTIÃO NUNES BATISTA, descendente de cantadores e folhetistas famosos dos sertões nordestinos, os tradicionais NUNES DA COSTA, na "Antologia da literatura de cordel", afirma "JOSÉ CAVALCANTI E FERREIRA, conhecido como DILA SOARES, nasceu na fazenda Cabeça de Negro, em Bom Conselho, Pernambuco, 1937", tendo o ilustre xilógrafo de Caruaru nascido no município de Bom Jardim, / 5---SOBRE AUTENTICIDADE - O folclorista VERÍSSIMO DE MELO declarou em entrevista: "Tenho observado o aparecimento de folhetos tipo cordel com as mesmas características formais , porém escritos por intelectuais, professores, universitários e estudantes - o cordel ou folheto, como prefere CÂMARA CASCUDO, emérito folclorista potiguar com respeito quase divino, caracteriza-se por 3 elementos fundamentais: poesia narrativa, popular e impressa - escrita por intelectual , nunca folheto autêntico; conhecendo os autores, fácil separar hoje o joio (não autênticos) do trigo (imprescindível origem), mas... e daqui a 50 ou 100 anos? / 6---RISCOS MAIORES - A inautenticidade do folheto é a colocação de "Luzeiro Editora Limitada" e/ou "Prelúdios", ambas de São Paulo, capas coloridas tipo estória em quadrinhos, a exemplo de "História do príncipe formoso", de Rodolfo Coelho Cavalcante, e "Zé Bico Doce - o rei da malandragem", de Paulo Nunes Batista - estrofes colocadas duplamente nas páginas e, do meio para o fim, em prosa. Autenticidade nunca! / 7---TRADUTORES ESTRANGEIROS - Quanto ao conteúdo do folheto, FLÁVIO MOREIRA DA COSTA escreveu: "A peleja de Joaquim Jaqueira e Manoel Barra Mansa, recolhida originalmente por ANTÔNIO SENA ALENCAR, é um dos pontos altos da literatura de cordel nordestina, boa as traduções de Ernest J. Barge e Jean Feidel, ilustrações de Dança Canzana, para a primeira aventura internacional, pelo menos em livro, de nossos cantadores." - dificuldades com simplificações do texto original. / 8---DA CLASSIFICAÇÃO - Em relação aos folhetos de feira, no livro "Classificação popular da literatura de cordel", de LIÊDO M. DE SOUZA em SLMG sob o título "Da classificação ao folheto": deixar os humildes e ingênuos à própria sorte, sem precisar de regras técnicas pedagógicas. / 9---PAPEL CIVILIZADOR - Os humildes folhetos motivaram muita gente a se interessar pela aprendizagem da leitura e insinuou a muitos intelectuais - escritores e pintores - nos escritos de romances, peças teatrais e teses de graduação; folheto, veículo de comunicação e expressão entre as povoações sertanejas. FLORESTAN FERNANDES, no livro "O folclore em questão", só fala dos folhetos antigos, como se os livrinhos tivessem parado no tempo e no espaço, / 10---FAMOSOS FOLHETISTAS - Citam-se SILVINO PIRAUÁ DE LIMA (quem primeiro publicou folheto no Nordeste, 1848-1913), JOÃO FERREIRA DE LIMA, LEANDRO GIOMES DE BARROS (o mais divulgado), JOÃO MARTINS ATHAYDE, JOSÉ PACHECO DA ROCHA, FRANCISCO DAS CHAGAS BATISTA, PACÍFICO PACATO CORDEIRO MANSO, JOÃO JOSÉ DA SILVA, JOSÉ BERNARDO DA SILVA, RODOLFO COELHO CAVALCABTE, FRANCISCO SALES AREDA........

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FONTE:

"Algumas considerações sobre o folheto", de ALEIXO LEITE FILHO, folclorista, professor universitário e escritor - BH, SLMG, ano XV, n. 822, 3/7/82.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 07/12/2019
Código do texto: T6812952
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