Um olhar sobre o fazer poético
Edson Gonçalves Ferreira
Para começar o assunto, saliento que sou suspeito para falar de poesia, já que, há algumas décadas --- Meu Deus, quantas? --- chamam-me de poeta. Poesia, para mim, não é a reunião de palavras aleatoriamente, em um linha que, depois, é chamada de verso. Tampouco poesia é apenas o verso metrificado. Afinal, grandes versificadores jamais foram poetas e grandes poetas nem sempre são grandes versificadores, palavras não minhas, mas de um sábio.
Com poucas palavras, explico que para fazer um verso, você pode estudar na gramática e, depois, contando as sílabas, construir sua quadra e, até mesmo, sua trova e, depois, ficar todo feliz dizendo-se poeta. Poesia, porém, é para mim, antes de tudo, um estado de espírito. Um texto poético, contudo, tem que provocar a beleza, tem que comover. Não é à toa que o Aurélio registra: “Poesia: aquilo que desperta o sentimento do belo”.
Assim, quando criança tive os primeiros contatos com os poetas, ainda no Grupo Primário onde as professoras exigiam que decorássemos poesias, fiquei encantado por conhecer Castro Alves, Fagundes Varela, Cecília Meireles, Olavo Bilac, Raimundo Correia, entre outros. E, depois, quando cometi a primeira poesia, aos dez anos de idade, fazendo apenas uma trova e fui homenageado, senti que precisava ler muito e trabalhar a minha alma que tinha sede do Belo.
Desde menino, convivi com homens ligados às Letras como: Pedro X. Gontijo, Ataliba Lago, Petrônio Bax, Sebastião Benfica Milagre, José Arimatheia Mourão, todos amigos de meu pai que era músico e, também, com os franciscanos, pois eu me tornara coroinha aos cinco anos de idade e, portanto, havia um lugar maravilhoso e cheio de letras e músicas para eu matar a minha sede: o Convento dos Franciscanos.
Ali, do lado, comecei, depois, na minha adolescência, a escrever para o jornal A Semana e, por mais incrível que pareça, ali também surgiu um suplemento literário chamado Diadorim que, liderado pelo generoso e fantástico poeta Lázaro Barreto, deu-me a oportunidade de exercitar a minha sede de poesia e, com as graças do bom Deus, ocupava espaço ao lado de Adélia Prado, do próprio Lázaro Barreto, de Osvaldo André de Melo, de Olga Savary, entre outros.
Hoje, homem feito, mais apaixonado por Poesia ainda, leio e releio os grandes poetas como Fernando Pessoa e as poesias que escrevo e que recebo. Acredito que a poesia é capaz de salvar a nossa humanidade, principalmente neste século XXI onde a tecnologia nos consome demasiadamente. Afinal, os grandes homens são movidos tanto pela emoção quanto pela razão.
No entanto, voltando ao fazer poético, não creio que devamos desprezar os versos de ninguém, porque existem momentos em que o poeta é extremamente feliz e produz versos maravilhosos, capazes de fazer uma estátua chorar, mas creio que devo reafirmar que, antes de escrever, devemos ter um espírito crítico, muito crítico para que a nossa poesia seja aquele momento indescritível no qual as palavras comovam até Deus, o maior de todos os poetas.