PALESTRA SOBRE EDUCAÇÃO
Gravei. Duas noites. Adaptei para repetição escrita.
1---ESCOLA MÉDIA, situada entre a escola elementar/fundamental (ou primeiro grau), ditas primeiras letras, e o ensino superior, de aprimoramento cultural e especialização profissional - regular e ideal faixa etária da adolescência desde o período medieval ocidental, forma típica na época renascentista.
2---FORMAÇÃO DA CULTURA OCIDENTAL - Gregos elaboraram em Atenas a concepção ocidental da personalidade: desenvolvimento das potencialidades físicas e espirituais do homem. Tudo influenciado pelo regime social do país, onde o trabalho manual era menosprezado porque de escravos, época de jovens serem educados-formados-preparados para a política, forma mais elevada da conduta humana. ----- Até a guerra gregos X persas, a preocupação era a formação de guerreiros e de governantes: ginástica, poesia e oratória. A partir do século V, os sofistas constituiram o primeiro grupo profissional de professores - dedicação ao ensino, auferindo os meios para a subsistência (salário, gente!), no currículo aparecendo ginástica, gramática, retórica e disciplinas científicas, como matemática, geometria, astronomia e música. ----- PLATÃO criou um sistema de ensino de acordo com a casta social a que a pessoa pertencesse, capacidade individual e aptidão intelectual (não exatamente hereditariedade social ou de nascimento) - em sua concepção, só os jovens da casta dos filósofos teriam curso completo de estudos teóricos, os já citados e mais estudo profundo da filosofia, considerada "divina música". No reino imaginário da utopia, ele fundou a Academia nos jardins de Academo - filosofia, a forma mais alta do saber humano, educação razoavelmente terminada aos... 50 anos de idade. ----- Floresceu também outra, fundada por SÓCRATES, que objetivava a formação do orador e do político, muita retórica e a filosofia era apenas um ingrediente da boa formação intelectual e moral. ----- Após a derrocada das instituições políticas helênicas, devido à conquista romana, o currículo escolar, após "alfabetização", reunia disciplinas literárias e científicas, que compunham a "encicilios paideia" com algumas variações quanto ao número das disciplinas, isto de acordo com a escola e o mestre - as escolas eram particulares, desde as origens, taxas pagas pelos alunos ("E o salário, óóó..."), renda variável conforme o mérito do professor e êxito obtido pela escola. Só na fase final da República romana, a tradição escolar dos gregos foi lembrada, prestigiada e inoculada entre os romanos, até então era educação rigidamente familiar e prática. Entretanto, devido à índole romana de agricultores, comerciantes e conquistadores, preferiram currículo do tipo isocrático (negação ao platônico), escolas como centro de ensino retórico, fase final da formação com tirocínio jurídico e político (OAB veio muuuito depois) - durante o período imperial, artes eram administradas num processo contínuo, das primeiras letras até os exercícios de retórica, ensino jurídico de nível superior /para os interessados, filosofia com mestres particulares/. A escola pública era ministrada devido à necessidade de se formarem funcionários para a máquina administrativa do Império. No fim do mundo antigo, VARRÃO definiu o ensino elementar e médio num conjunto de 9 disciplinas: gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, astronomia, música, arquitetura e medicina, denominadas "artes liberais", aprendidas (gregos e romanos) pelos filhos de homens livres, para formar legítimos cidadãos.
PARTE II
3---PRIMÓRDIOS DA ESCOLA SECUNDÁRIA OU MÉDIA NO PERÍODO MEDIEVAL - A escola, ao início da Idade Média, constituiu importante novidade, nada conhecida na Antiguidade, pois teve mestres... sem verdadeiras escolas. Base do currículo veio da civilização pagã - aí, surgiu a escola no sentido próprio da palavra, não apenas lugar onde o mestre ensina, mas "um meio moral e social, impregnado de ideias e sentimentos envolvendo mestres e alunos" (DURKHEIM). "Não só locais de instrução, mas verdadeiras agências educacionais, em forma colegial de comunidades de vida, estranha ao caráter escolar greco-romano" (OTTO WILLMANN) - agora, artes liberais com espírito religioso, ministradas em ambiente comunitário (na escola antiga, uma escola para cada discilina, como gramática, retórica etc.: alunos andarilhos). ----- Currículo medieval tomado da civilização greco-romana, artes liberais em número de sete: gramática, retórica, dialética, geometria, aritmética , música e astronomia. ----- Influência do Cristianismo sobre a concepção de artes liberais - duas partes: Antigo e Novo Testamento, Letras Profanas e Letras Divinas, currículo total para a formação de monges, estudantes já chegando "alfabetizados" (gramática, perícia da bela expressão através do estudo de poetas e prosadores ilustres). Na Abadia de Reichenau, sul da Alemanha, por exemplo, no começo do século IX, o curso de gramática durava 4 anos, autêntico curso de humanidades e de cultura geral, e os não candidatos a monges se retiravam da escola... A palavra 'liberales' provém de 'liber', livro - artes liberais aprendidas em livros. Estudos liberais realizados por qualquer pessoa, de qualquer nivel social - liberdade do homem. ----- Por conveniência didática, divisão da educação medieval em dois períodos: de 476 d. c. até 1150, reconhecimento oficial da primeira universidade, a de Bolonha, feito por Frederico Barbaroxa em 1158 - três tipos de escolas: a-paroquial - curso de primeiras letras, isto é, aspirantes ao sacerdócio aprendiam a ler-calcular-cantar / b-episcopal, situadas nas cidades onde se localizava a casa do bispo / c-monástica ou diocesana, espécie de seminário menor ou maior, onde estudavam as artes liberais e disciplinas religiosas, em destaque a Sagrada Escritura - essa escola assumiria relevo social a partir do século XII, com reanimação de cidades, comércio e renascimento cultural (na primeira parte da Idade Média, sociedade convulsionada com invasões e lutas internas em regime essencialmente agrário, centro vital deslocado das cidades para castelos /praças fortes contra ataques de invasores ou adversários políticos/ e mosteiros /focos de espiritualidade e refúgio das letras/ - os coitados camponeses, nas aldeias. ----- Escola monástica, interna do mosteiro, atendia à formação literária e religiosa dos pré-monásticos, ao poucos chegando filhos/filhas das famílias para monges e monjas educarem nas letras profanas e divinas - o curso de artes liberais precedia o de "lectio divina" ou da Sagrada Escritura, já aparecendo um ensino médio ou escola secundária. Escolas monásticas florescendo em toda a Europa, monges beneditinos civilizadores do mundo ocidental - Cambridge, na Inglaterra, sob ponto de vista educacional também Idade Beneditina. ----- Na Itália, desde o ano 1000 grande surto econômico - repito, animação de cidades, restauração do comércio e luta pelas liberdades humanas, no século XII escola municipal ao cuidado de professores leigos - e a partir da retórica municipal, o renascimento do direito romano e surgiram as faculdades de direito - multiplicadas escolas municipais na Europa como sinal de restauração da urbanidade, aumento da população e novas necessidades sociais, após séculos de invasões e guerras. Século XII, escolas de ofícios, formação para profissinais de artesanato, comércio e indústria incipiente. Movimento também de traduções de obras filosóficas e científicas. ----- A escola episcopal, das artes liberais e teologia, tomou impulso com o progresso - muitas escolas em Paris, lento processo de laicização profissional, mestres sem pretensão sacerdotal ou obrigações canônicas. Nesta origem, surgirão faculdades de artes e de teologia - no século XIII, o trio de escolas verdadeiramente superiores, teologia-direito-medicina - faculdades de artes lentamente serão de filosofia, ciências e letras. ----- Desde o início da Idade Média, curso de artes liberais divididas em duas partes distintas: literárias e matemáticas ou científicas, o conjunto muitas vezes chamado de filosofia, ensino filosófico já desaparecido no ocaso do mundo antigo no sistema educacional romano - o verdadeiro legado romano foi o da jurisprudência, que depois se apagou ante o predomínio das leis dos povos germânicos, reduzido o curso de artes ao ensino da literatura, a dialética virou um ramo da retórica e as matemáticas empobreceram, visto que na prática só interessavam para a astronomia para no cômputo litúrgico (a partir da demarcação da data da Páscoa) e a música (para cantos religiosos). Mais tarde, ainda século XII, aumento do saber devido a traduções das obras científicas de gregos e árabes. ----- Voltando no tempo, ALCUÍNO apresentou no século IX um programa de ensino: o Trivium abrangia gramática, dialética e retórica, as matérias da linguagem e do discurso, chamadas "artes sermocinales"; o Quadrivium, aritmética, geometria, astronomia e música teórica, disciplinas aplicáveis a quatro espécies de "res", coisas reais: número, espaço, esfera celeste e hamonia, chamadas "artes reales ou physicas". Em resumo, curso de LETRAS e curso de CIÊNCIAS. ----- Desde o início da Idade Média, a disciplina mais importante do currículo era a gramática, verdadeiro curso de cultura geral em 4 anos: morfologia e sintaxe. No fim do século XII, glossários dos vocábulos mais usuais e gramáticas versificadas no século seguinte - o estudo da gramática incluia os bons autores, VIRGÍLIO como o principal poeta, suplantado no século XII por OVÍDIO - também historiadores. Muitas leituras não nos textos originais e sim em excertos e antologias (florilégios). Perdida a importância social da retórica, os 'dictatores' ensinavam a redação de cartas e formulários. ----- Quanto à dialética ou lógica, até o século IX, livros de SANTO AGOSTINHO; a partir daí, escritos de BOÉCIO e versões que realizou. ----- O ensino do Quadrivium vivia de parcas noções apresentadas por obras matemáticas... ----- Depois do século XII, progresso batendo na porta, o interesse pela dialética superou o gosto pela gramática e o século XIII trouxe o ideal platônico, preferência de filosofia a estudos literários, um novo interesse pelos estudos matemáticos e científicos, antes de GALILEU. ----- No fim da Idade Média, vieram guerras, a Peste Negra, epidemias de fome, revoltas populares, crise religiosa, decadência dos costumes clericais e imoralidade pública refletindo na vida escolar de forma lamentável. Mesmo num tempo crítico, surgiram o Humanismo e a Imprensa de GUTEMBERG. A linguagem erudita dos clássicos greco-romanos e obras pagãs antigas misturadas a DANTE, PETRARCA e BOCACCIO... A imprensa foi a maior revolução cultural depois da invenção da escrita, livros multiplicados rapidamente e vendidos a baixo custo - o saber, não mais apanágio apenas das classes privilegiadas. ----- Dois fatos provocando efeitos imediatos na vida escolar - crise educacional, pois escolas são cidadelas de tradição e não aceitam de cara novidades culturais; portanto, choque entre anquilosados (cristalizados) e inovadores das letras - agora ler em classe ou em casa, não somente ouvir e memorizar. ----- Outra forte repercussão na vida escolar foi o deslocamento do eixo cultural do norte ao sul da Europa com o Renascimento italiano, de que o Humanismo é um dos aspectos, a difusão dos idiomas nacionais (construção formal ou gramatical), os descobrimentos de novas terras as grandes descobertas e a fragmentação cristã entre católicos e protestantes.
PARTE III
4---HERANÇA ESCOLAR DO HUMANISMO RENASCENTISTA - Escola média comelando a configurar-se na Idade Média. As crises no século XIV, Humanismo, e no XV, Imprensa, enfrentados e resolvidos no decurso dos séculos XV, XVII e XVII - nos dois primeiros, triunfo das ideias humanísticas e fixação do currículo clássico para as escolas médias e no terceiro, novos métodos para o estudo de línguas e conhecimentos mais reais. ----- No século XVII, palco e cenário de de novas ciências , aparecimento do método experimental nas investigações científicas, surgimento da física e da astronomia modernas - tudo isto só bem mais tarde, em fases posteriores, introduzidos no currículo escolar, em geral só a partir do século XIX, na era industrial e tecnológica. ---------- O IDEAL DO CLASSICISMO - Para a volta ao "antigo", isto é, à Antiguidade Clássica, ideal político das cidades-estados-italianas, semelhantes àquelas gregas, , logo passaram a exigir da escola o preparo de bons cidadãos e refinados cortesãos peritos a falar para um auditório mais crítico e severo, porém sensível à retórica do orador hábil. Foi na Inglaterra que deu melhor resultado, instituições políticas permitindo à casta dos nobres as habilidades retóricas nas lides parlamentares. ----- Os humanistas italianos do século XV elaboraram os novos currículos das escolas católicas sem quebra das convicções, procurando harmonizar o ideal estático do Humanismo com a concepção cristã de vida - ainda no conceito grego, desenvolver a personalidade em todos os aspectos, harmonizando vigor e beleza do corpo com finura intelectual e força do caráter. Seguir "imitando" os antigos, obras na prosa e na poesia, nos monumentos... daí o entusiasmo pela literatura e monumentos artísticos do passado distante - exaltação do paganismo... Cursos humanísticos e livros de ensino para as classes populares. Humanismo, movimento de elite, escolas formando nobres e ricos burgueses. ---------- EDUCAÇÃO POPULAR - Escola dos humanistas, escola secundária e aristocrática, educação harmonizada com a Reforma (a Católica e a Protestante), resultado positivo do lado social. Nas regiões de LUTERO e de CALVINO, o amor e interesse pelos clássicos na educação popular de tipo elementar e secundário - LUTERO organizou escolas secundárias e escreveu manuais. ----- Do lado católico, os jesuítas foram os grandes mestres do Humanismo. difundiram ginásios clássicos através da Europa e outros continentes, ensino sólido de letras e ciências matemáticas, suas escolas muito procuradas por nobres e ricos burgueses, abertas também a alunos pobres. Fundador Santo Inácio de Loiola, a Companhia de Jesus atendia ao nível médio e superior - nos países católicos, para atender à necessidade de educação popular elementar, outras instituições religiosas. Na Itália, a Ordem das Ursulinas, devotadas a meninas pobres, ensino elementar e médio - primeira ordem religiosa feminina consagrada exclusivamente à educação. no século XVII, SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE e irmãos das igrejas cristãs criaram escolas técnicas e profissionais, de artes e ofícios para meninos pobres, orfanatos e casas de correção para jovens delinquentes, assim como a primeira escola normal da Idade Moderna. ---------- EDUCAÇÃO PÚBLICA - A escola média começou a ser custeada pelos cofres públicos e mantida pelo Estado nos países protestantes, visto que o movimento luterano destruíra a rede de escolas paroquiais e monásticas existentes desde a Idade Média. No século XVIII, na Alemanha, começou a educação pública estatal com os reis da Prússia, FREDERICO GUILHERME I e FREDERICO II, o Grande. Na França, só com NAPOLEÃO o ensino público oficial. Educação verdadeiramente democrática, nos States, no século XIX. ---------- PROGRAMAS E MÉTODOS - Humanistas educadores criaram programas de estudos para os ginásios clássicos no século XV italiano e depois nas áreas de influ}encia católica ou protestante. ----- No século XVII, atenção de educadores para métodos de ensino e enriquecimento do currículo - da preocupação com didática ou metodologia, surhiu a pedadogia moderna - do Trivium, história e línguas clássicas. ---------- ESCOLA MÉDIA NA ERA INDUSTRIAL - O realismo pedagógico ou lições-de-coisas... Ciências e ensino profissional. Em 1747, na Alemanha, escola técnica com noções de matemática, arquitetura e desenho... e instruções sobre o cultivo da amoreira, do bicho-da-seda... escrita comercial ou mineração. Ué, utilização de miniaturas de prédios, navios, lojas, arados etc., como material didático. Comprovada na prática da indústria e do comércio a necessidade doensino de ciências, aí surgiu a reforma educacional que preconizava um currículo eminentemente científico.
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FONTE:
"Noções sobre a história da escola média", de Ruy Afonso da Costa Nunes (Segunda parte do livro "Estrutura e funcionamento do ensino de primeiro e segundo graus", org. Moyses Brejon).
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