FOLCLORE INDÍGENA

1 - MERGULHO NO MUNDO DESTE FOLCLORE - A ciência não sabe tudo, não

explica tudo - só sabe e explica o que foi muito estudado a os cientistas

conseguiram provar... Até hoje, astrônomos observam o Universo e colocam

dados novos no computador após descobertas contemporâneas que podem mesmo

invalidar conhecimentos considerados definitivos... No céu, estrelas,

planetas, galáxias, cometas e constelações... Sabe-se, por exemplo, que

a Lua é um satélite da Terra e não um guerreiro de prata e as explicações

de nossos índios e de outros povos não são “pura ignorância”. Eles dizem

que nas noites muito claras o guerreiro de prata vem à Terra para casar

com as mais bonitas moças de cada tribo - determinada estrela no Cruzeiro

do Sul é NAIARA, da tribo dos maués, e outra mais acima, é JANÃ, dos

aruaques; cada estrela é uma índia que casou com a Lua... Cada povo

explica o mundo de acordo com suas necessidades e a nossa civilização

explica a vida humana e seu relacionamento com a natureza através da

precisão científica. Não esquecer que nem sempre houve ciência e a de

hoje teve uma certa origem nas mitologias de gregos e romanos, na

sabedoria dos antigos judeus e dos primeiros cristãos, nos pensamentos

dos alquimistas medievais e em muitas outras formas “não científicas”. -

--------- MITOS e LENDAS são as maneiras criadas para ‘explicar’ o

Universo. Muito confundida com o MITO, a lenda dele se distancia pela

função e confronto. ----- O MITO pode ser um sistema de LENDAS,

gravitando em torno de um tema central, com área geográfica mais ampla e

sem exigências de fixação no tempo e no espaço. Daí, LENDAS são estórias

que surgiram há muitos anos entre os povos de cultura ‘ainda’ considerada

primitiva, passadas de geração em geração até nossos dias, um tanto

modificadas por quem as reconta, principalmente o homem branco.

2 - PIRI-PIRI - Comprei ao acaso um produto qualquer para dar um

cheirinho especial a todos os móveis da casa. Nunca antes me imaginei

entronizado em preocupações (como direi?) domésticas, mas em minutos

ouvi o grito de “Você é o maior” - sim, mas após elogio, a ‘bomba

nuclear’, tão falada ultimamente: “Que cheiro chamativo é este?” Dizem

que é mais fácil cair das nuvens que de um sétimo andar... Banquei o

inocentezinho, o desatencioso, o bem intencionado ‘quase’ santo,

esquecendo estar diante de uma detalhista atenciosíssima. Olhei o rótulo

- “PRIPRIOCA”. E repeti o meme de uma novela: “Não estou disposto. Dá

licença?” Estranhamente, ELA não se abalou, percebeu em segundos que

desta vez o “Doutor Sabe-Tudo” não sabia era nada... e era verdade. Na

hora do almoço, EU só receberia a comida após ler em voz alta o resultado

da pesquisa... que minha (doce?!) mulher fizera e nem notei. -----

“PRIPRIOCA ou PIRIPIRIOCA (Cyperus articulatus), erva da família

ciperácea, aromática e medicinal da Amazônia. Parente do junco e do

papiro, as raízes liberam uma fragrância leve, amadeirada e picante com

notas florais. O óleo essencial é avermelhado e muito valorizado na

indústria farmacêutica e cosmética, perfume tradicional; fibras e rizoma

(camadas como a bananeira) )são utilizados em artesanato, pois o odor

exuberante afasta mofo. Entretanto, é prejudicial para mulheres

grávidas. ----- ORIGEM POPULAR - PIRI-PIRI, importante guerreiro, vivia

numa aldeia indígena no coração da floresta amazônica - ELE exalava um

cheiro que atraía todas as jovens da tribo e tinha o poder de desaparecer

quando em perigo e especialmente para se livrar da horda feminina aos

seus pés. Certa vez, a filha do pajé,desesperadamente apaixonada, pediu

a SUPI, eu pai, que lhe ensinasse um feitio para capturar PIRI-PIRI. A

resposta foi amarrar os pés dele com seu cabelo em uma noite de lua

cheia. Pressentindo o perigo, o índio desapareceu numa nuvem e nunca

mais retornou. No lugar de onde partira, brotou uma planta exalando o

mesmo perfume de PIRI-PIRI.”

3 - UMA LENDA FOLCLÓRICA: A MANDIOCA - Em nosso país continental,

podemos enumerar uma infinidade vegetal que está literalmente no relato

indígena; açaí, cupuaçu, pitomba, umbu... frutas nativas da região

amazônica, as mais populares no meio da “estranja”... No entanto, nenhum

outro elemento vegetal brasileiro tem tantas estórias como a MANDIOCA -

os primeiros registros portugueses se referem à visão de “uma raiz à

feição do inhame” - Pero de Magalhães Gandavo, na primeira obra publicada

sobre o Brasil em 1576. Desde Caminha, minúcias sobre experiências e

receitas para o preparo de farinha-mingaus-bejijus-caldos, quando no

Brasil comia-se de tudo, cardápio incluindo peixe macaco, abacaxi,

batata baroa... e principalmente mandioca, o “pão da terra”, alimento

substancioso, obrigatório e indispensável, para nativos e europeus recém-

chegados. Original cultivo pelos grupos indígenas do Norte e do Oeste

brasileiro, disseminado pela Mesoamérica antes mesmo das esquadras

européias, cerca de 100 espécies de mandioca, 80 delas brasileiras, raiz

conhecida por nomes diferentes - aipim, macaxeira etc., base alimentar

com sucesso na África e na Ásia.

Aqui, duas LENDAS contadas de gerações a gerações, em varadas versões ao

longo do Brasil:

1-Segundo os índios TUPINAMBÁS, (a talvez albina) MANI nasceu diferente

as demais índias - branca como um lírio e a mais bela índia que aparecera

na tribo. Todos a amavam ardorosamente pois um espírito branco, certa

noite, contou ao pajé que MANI era um presente de TUPÃ, o deus maior dos

indígenas. Um dia, sem se saber como, ELA adoece e morre. Foi enterrada

no jardim e todos os dias iam ver-lhe a sepultura, e choravam tanto,

tanto, que suas lágrimas molhavam a terra. Depois de alguns meses, na

cova de MANI cresceu uma planta diferente, branca como a indiazinha e a

branca Lua, que passou servir de alimento para toda a tribo: assim

surgiu a MANDIOCA. // 2-Outra versão mais complexa e elaborada em

detalhes... - Há muito tempo a filha de um poderoso chefe índio TUXAUA

(ou falante da língua ARUAK, do Xingu) foi expulsa da tribo pois ficara

grávida misteriosamente, ninguém sabia quem era o pai da criança, daí ELA

foi morar numa velha cabana longe da aldeia até dar ã luz um menina muito

bonita e muito branca a que chamou de MANI. A notícia se espalhou e o

velho índio viajou para ver a neta e voltaram juntos para a aldeia. A

criança nasceu amada por todos, andou e falou precocemente, mas aos 3

anos morreu de repente. A mãe a enterrou perto da cabana e chorou

durante horas, suas lágrimas pingando no chão da floresta, no lugar onde

a indiazinha estava enterrada. Miraculosamente, no local surgiu da terra

molhada uma planta de raízes grossas que, descascadas, tinham a cor

branca e em forma de chifre, que se tornou o principal alimentio dos

índios da Amazônia: a MANDIOCA significa “corpo de MANI”. Ela é a mãe

da fartura - se um trabalho não dá frutos, é o momento de invocar MANI,

doadora do alimento e da fartura, que tem o poder de devolver a

abundância. Ritual - traje cor de terra; talismã - colar de sementes

vermelhas. Caminhe descalço(-a) pela terra e plante uma semente que dê

frutos, seja paciente, a semente precisa romper a casca, depois a terra e

só então verá o sol - espere em paz, regando sempre... para colher um bom

fruto.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 11/09/2018
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