"O PAVÃO MISTERIOSO", UM CLÁSSICO DE CORDEL

1---HISTÓRICO - Folheto ilustrado pelo pintor Wellington Virgulino e lançado em luxuoso álbum pela editora Guariba, de Recife O pressuposto autor da estória teria sido o poeta paraibano José Camillo que nunca chegou a publicar um livro - cantou o poema para João Melquíades Ferreira da Silva que o publicou, primeira edição em 1938; muitas outras á venda em vários pontos do Nordeste, principalmente no Mercado São José, em Recife, uma editada em Joazeiro, outubro de 1975 (como demorou, hein?), João como autor e proprietárias as filhas de José Bernardo da Silva. Nenhuma certeza sobre a origem da estória, provável inspiração em "Mil e uma noites", no "Decamerão" e, talvez, motivação mais próxima, na visita que o graff-Zepellin fez a Pernambuco em maio/1930 - cantadores do Nordeste sempre lidaram com aventuras orientais e a ficção de Júlio Verne

2---INTRODUÇÃO - "Eu vou contar uma história / de um Pavão Misterioso / que levantou voo na Grédia / com um rapaz corajoso / raptando uma condessa / filha dum conde orgulhoso."

3---NARRATIVA - Começa quando EVANGELISTA, rapaz que residia na Turquia, se apaixona por uma linda jovem que morava na Grécia (ali pertinho hoje, bota avião de verdade nisso...), através de um retrato (sem os "milagres" da photoshop atual) trazido por seu irmão João Batista, viajando em férias por países desconhecidos, que trouxe, a pedido, "algo inteiramente diferente que servisse para um rapaz solteiro". Quando João estava quase voltando de navio para casa, foi avisado de um fato extraordinário: no dia seguinte, a filha de u conde, apenas se mostrando uma vez por ano, ia aparecer. Belíssima, o rapaz comprou-lhe uma foto por um conto de réis (achou barato) e levou para o irmão, que perdeu a cabeça, vendeu sua parte nos negócios para o outro e partiu para a Grécia onde ficou oito meses esperando para vê-la. Mas como entrar na casa do conde? "No outro dia saiu / passeando Evangelista / encontrou-se na cidade / com um rapaz jornalista / perguntou se não havia / na praça algum artista. / Respondeu o jornalista / tem o doutor Edmundo / na Rua dos Operários / é engenheiro profundo / para inventar maquinismo / é ele o maior do mundo." Encontrando o engenheiro, Evangelista propõe: "Eu amo a filha do conde / a mais formosa mulher / se o doutor inventar / um aparelho qualquer / pago o que o senhor quiser." Seis meses de trabalho, o engenheiro criara um aparelho voador, assim descrito pelo enamorado: "O grande artista Edmundo / desenhou uma invenção / fazendo um aeroplano / de pequena dimensão / fabricado de alumínio / com importante armação.' - "Movido a motor elétrico / depósito de gasolina / com locomoção macia / que não fazia buzina / a obra mais importante / que fez em sua oficina." - "Tinha cauda como leque / as asas como pavão / pescoço, cabeça e bico / alavanca, chave e botão / voava igual ao vento / para qualquer direção." O próprio engenheiro fala: "Eu diz um aeroplano / da forma de um pavão / que arma e se desarma / comprimindo num botão / e carrega dez arrobas / 3 léguas acima do chão." ----- O engenheiro cobrou cem contos, rapaz achou barato, pagou duzentos e ainda ganhou um "lenço enigmático" para passar no nariz de CREUSA, se ela gritasse. Com o "pavão misterioso", ele conseguiu entrar no paláio e logo no quarto da moça que acordou e gritou, desmaiando sob o efeito do lenço. Contou ao pai o que acontecera e este lhe deu uma manteiga amarela para passar na cabeça do rapaz, se ele voltasse, e ela assim o fez sem este perceber. ----- O romance ainda conta a prisão de Evangelista, que conseguiu fugir, alegando que ia mudar de roupa, para o alto da árvore onde estava o pavão; dali, voou para o palácio, entrou, Creusa estava arrependida, e - já apaixonada por ele -, queria fugir de eterna prisioneira no palácio. O conde apareceu, ela colocou o lenço em seu nariz, pai desmaiou e o casal montou no pavão e fugiu para a Turquia, onde casariam. Alegres, quando chegou um telegrama chaando a condessa, pois o pai falecera, teria herança a receber e amãe desejava conhecer o genro desconhecido. A moça mostrou o telegrama, almoçaram; depois, ela em traje de noiva, palma, véu e capela; os convidados a acharam muito novinha, com buquê de flores, séria como uma rainha. O pavão levantou voo. Em Atenas a população esperava pela volta do aeroplano-pavão ou o cavalo do espaço que imita avião. Chegara, na tarde do outro dia o noivo se hospedou na casa do engenheiro, amigo de confiança, e a condessa veio, feliz, ao encontro do casal.

4---Wellington considera que, mesmo no livro de cordel em forma de luxo, não há nenhuma deturpação da arte popular, "desde que secoserve integralmente o texto". São 7 desenhos em preto e branco, a melhor maneira de se aproximar de uma ilustração popular, através da gravura - também uma apresentação do livro e dos desenhos pelo jornalista e poeta Mauro Motta.

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LEIAM meu trabalho "Pavão / Pavoa".

NOTAS DO AUTOR:

PAVÃO MISTERIOSO - Trilha sonora da novela SARAMANDAIA (realismo fantástico: símbolos e metáforas), de DIAS GOMES, versão original em 1976 e reprise em 2013. // OUTRA VERSÃO - Livro "O general está pintando" (novelas), de HERMILO BORBA FILHO.

PAVÃO - Na Grécia Antiga, era um dos animais de Hera, a deusa do casamento, e acreditavam que seu corpo não corrompia com a morte. Cultuados na Antiguidade como ave do Paraíso, o "animal de cem olhos”, mais tarde símbolo até no Cristianismo - visão de Deus pela alma - cores exuberantes, pavão associado à beleza e à perfeição: muitas vezes desenhado no cálice eucarístico representando a ressurreição. Na Índia, até hoje é ave sagrada e protegida pelos monges.

FONTE:

Rio, jornal O GLOBO, 22/12/75.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 03/06/2018
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