O POETA-LEITOR

Por entender que o processo que ocorre no ato de leitura é similar ao da inspiração (já que ocorre com o leitor um natural "estranhamento" frente à proposta que o texto contém), é que eu trato o receptor também como poeta. Porque se ele não tiver este "feeling do sentir" e/ou não se abeberar dessa novidade psíquica que ocorre a partir do instante em que se instaura o estado de contemplação que a Poesia nos remete, o receptor jamais entenderá o poema (com Poesia), devido à sua incapacidade para decodificar, usufruir e entender a peça poética. Todavia, nem todas as pessoas conseguem apreciar a arte poética com similar comportamento ao do poeta-autor quando se instaura nele a centelha inicial da espontaneidade, que lhe ilumina o espiritual, e, como se fora do nada, concebe e cria o poema. Sim, porque há viventes que definitivamente não gostam ou não apreciam a Poética. No leitor, a proposta do Belo estético reproduz-se à sua moda, segundo a sua visão de mundo. Então, em estado de Poesia, o leitor “faz e/ou reproduz” o poema à sua maneira; vale dizer, segundo o seu entendimento. Enfim, é o efeito do que a proposta pejada de “lucidez enternecida” gerou no espiritual do receptor. Para o praticante da Poesia, este receptor é especialíssimo. Eu o recebo, na intenção de louvar e agradecer, como o "poeta-leitor". E ele é o meu desconhecido íntimo...

– Do livro inédito A VERTENTE INSENSATA, 2017/18.

https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/6337608