MATÉRIA MORTA ATÉ QUE O POETA-LEITOR A VIVIFIQUE

Creio que se pode melhorar o mundo através do aperfeiçoamento das pessoas. Parece-me que a Poesia pode ser um instrumento factível para este fim, mesmo que tenhamos em conta e esteja assente o cânone de que a peça literária, genericamente, não se destina a interferir no mundo da realidade ou dos fatos. Sim, creio que os poemas necessitam de muita transpiração, além da inspiração ou espontaneidade inicial. Curiosamente, é o "transpirar" que fixa a forma ou o formato estético definitivo do poema. É muito conveniente lembrar que são dois os momentos de criação da peça poética, sequenciais ou não ao ato criacional inicial. Especialmente para os criadores que “não se julgam gênios" ou aqueles que entendem, por modéstia ou concepção, ainda "não se acharem prontos" para o cometimento do ato de poetar. Porém, o mais deplorável é que a maioria dos autores iniciantes ou não, fica somente no ato inicial da chamada "inspiração"... E os poemas perdem quanto ao esteticismo e beleza da peça poética. É bom ressaltar que para mim o poema (que é a materialidade da Poesia) nunca está pronto, porque o entendo matéria viva, em permanente reelaboração. Também porque o amadurecimento do poeta-autor ocorre, mesmo que sazonalmente, porém durante toda a sua vida. Há momentos de inanição e outros de adensamento quanto à temática, a qual se vivifica através do conteúdo verbal da peça poética. Tempo, muita leitura, e experimentação constante parecem ser o segredo do boa peça verbal. Tenho um poema com o qual briguei por 24 anos, até que o senti estética e definitivamente terminado. Somente então o publiquei em livro solo, mas já o havia posto a público por seis vezes, em obras coletivas. Trabalhemos unidos e em confraternidade, especialmente o poeta-autor e o analista crítico. Este profissional ajudará a dar um formato mais apurado ao conteúdo que se deseja apresentar ao grande público. Acredito neste processo de hibridismo em confraternidade. Até porque o poema é matéria morta sem os olhos e a cuca possessiva do poeta-leitor...

– Do livro inédito OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/17, páginas iniciais.

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