DIALÉTICAS BARROQUIANAS

SÉCULO XVI - Modificações político-sociais e grande revolução cultural na Europa na segunda metade do século XVI: na pintura, a Renascença. e na religião, a Reforma Protestante /Holanda e cidades do Reno e Báltico/, novas forças burguesas rompendo com o medievalismo católico. Na Península Ibérica, não terreno propício pela forte resistência da Contra-Reforma, movimento amparado pela Companhia de Jesus, fundada em 1540, em perseguição a protestantes, abrangendo intelectuais. Poder absolutista de monarcas não admitindo crítica. Tribunais de Inquisição já um tanto ‘antigos’: Espanha 1340, Portugal 1536 - índex, relação de livros proibidos. Contudo, o homem europeu, espírito aventureiro e desejo de riqueza com duas preocupações distintas: a conquista material, resultante da política das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante da Contra-Reforma. Duas manifestações literárias no Brasil: a literatura informativa (riquezas materiais - ouro, prata, ferro, madeira etc.) X a literatura dos jesuítas (trabalho de catequese).

RENASCIMENTO - domínio da linha reta e pura, clareza e nitidez de contornos X BARROCO - conciliação do ideal medieval, espiritual e supra terreno com os valores da Renascença, ou seja, humanismo, gosto pelas coisas terrenas, satisfações mundanas e carnais... --- Tensão e oscilação entre: clareza-obscuridade, bem-mal, Deus-Diabo, pureza-pecado, candura-sensualidade, sublimidade-miséria, atos de constrição-blasfêmias, alegria-tristeza, Céu-Terra.

SÉCULO XVII - Época de dúvida e de conflitos espirituais-filosóficos-morais - constante dualismo humano: paganismo X cristianismo-misticismo, espírito X matéria, sobrenatural X terreno. --- Esse dualismo ou dialética é o reflexo da tentativa de conciliação dos postulados místicos e ascéticos da Contra-Reforma e do Concílio de Trento (1545/1563), que codificou a doutrina católica e adotou normas rígidas para clero e fieis, com os postulados sensoriais e terrenos do Renascimento, ou seja, Teocentrismo X Antropocentrismo. Conciliar o espírito católico medieval teocêntrico + o paganismo clássico antropocêntrico do século XVI, ou seja, síntese dos opostos: espiritualizar carne-corpo-matéria e materializar o espírito. --- Logo, algum pessimismo e fase mais religiosa, o homem voltado para Deus, o que representa retorno ao espírito medieval. Predominam a imaginação e o subjetivismo.

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BARROCO, literatura de contradições-impasses-dilemas: “dualismo ‘quase’ radical, porém unidade harmoniosa como yin-yang. Todo ser possui em si o germe de seu oposto; logo, apenas aparente oposição entre CULTISMO e CONCEPTISMO”.

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ESTILOS E TENDÊNCIAS DO BARROCO: 1.CULTISMO, CULTURANISMO ou GONGORISMO (visível influência do espanhol GÔNGORA - 1561/1627)_- Predomínio na poesia. Culto maior da forma que do conteúdo, linguagem rebuscada-culta-extravagante, pormenores em jogo de palavras. O cultista escreve para os olhos: gozo dos sentidos, poesia e prazer lúdico. --- 2.CONCEPTISMO - Predomínio na prosa. Raciocínio lógico, filosófico, racionalista, dissertativo, dialético, retórica aprimorada, jogo de idéias e de conceitos. Um dos principais cultores do Conceptismo foi o espanhol QUEVEDO, daí o termo QUEVEDISMO. O conceptista escreve para o cérebro: conhecer a essência das coisas e conceituá-las, doutrina mística discursiva para convencer e ensinar. --- Outras nomenclaturas: SEISCENTISMO, anos 1600 (sob domínio espanhol de 1580 a 1640) - culto da forma em Portugal (até 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana, em pleno governo do Marquês de Pombal, aberto aos novos ares da ideologia burguesa iluminista que caracterizará a segunda metade do século XVIII) / MARINISMO - influência exercida por MARINI (1569/1625) na Itália / EUFUÍSMO -derivado do título do romance “Euphues, or the anatomy of wit’, 1578, autor JOHN LYLY (1554/1606, na Inglaterra / PRECIOSISMO - culto à forma extremamente rebuscada na corte de LUÍS XIV, o Rei-Sol, na França --- obra “As preciosas ridículas”, de Molière (1622/1673) - no Hotel de Rabouillet, Paris, construído em 1588, se reuniam os intelectuais as época / SILESIANISMO ou SALESIANISMO - caracterizados os escritores da região da Silésia, na Alemanha --- poeta alemão ANGELUS SALESIUS.

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Características da arte barroca em geral - literatura, música, pintura, escultura e arquitetura: desequilíbrio, exotismo, instável como o homem que a produziu, alucinações, excesso de desespero, ânsia de captar todas as emoções da vida efêmera. --- Na literatura, predominam estilisticamente os seguintes recursos: uso constante de antíteses-paradoxos-oxímoros /refletindo o dualismo, as contradições do homem, o racional e o irracional, apreensão da realidade pelos sentidos/; metáforas /como brilho e riqueza das palavras e o luxo das artes plásticas/; hipérboles /grandiosidade, pompa, intensidade da vida humana/; supervalorização das sinestesias ou sensações, principalmente a visual; sinestesias; prosopopeias /personificações de coisas/; anáforas-epístrofes-paronomásias; gradação sinonímica, em abundância, frases interrogativas e prefixos negativos /reflexos de incerteza e dúvida/; trocadilhos vocabulares; perífrases; ordem inversa. (CAMÕES, um angustiado pré-barroco.........) --- Nas artes plásticas: substituição do espaço pelo movimento e linhas criadoras; assimetria e perspectiva; fusão de claro/escuro, luz/trevas; exagero nos detalhes e nas minúcias, altos-relevos; cenas de batalhas sangrentas de fuzilamentos; formas femininas sensuais; anjos roliços.

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O primeiro poeta brasileiro publicado: em 1705, MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA, livro com o doce nome de “Música do Parnaso”. --- Do cultismo, imagens sensoriais, poema “Cravo na boca de Anarda” - “Décima --- Quando a púrpura formosa / desse cravo, Anarda bela, / em teu céu se jacta estrela, / senão luzente, olorosa: / equivoca-se lustrosa, / (por não receber o agravo) / de ser nessa boca escravo) / pois é, quando o cravo a toca, / o cravo, cravo da boca, / a boca, boca de cravo.” --- Verdadeiro pintor verbal, rica sensibilidade! Complexo processo metafórico, soma de: “púrpura”, cor (visual) do cravo, no “céu” - rosto dela + (como) “ estrela... luminosa, “luzente (luminosa), olorosa” (aromática). Logo, um ‘quase’ equivoco entre a flor e os lábios da mulher: a flor toca-lhe a boca e se confunde... - “cravo da boca” = “boca de cravo”. Cravo (dicionário do “tio” Aurélio) - flor, uma especiaria e um instrumento musical - texto em sugestões visuais-gustativas-sonoras (não táteis, pela moral ainda pudica da época). --- No Classicismo, visão lógica, impessoal e equilibrada do ser humano, a mulher-amada, perfeita, distante, não perecível X agora, no Barroco cultista, complexidade e ilogicidade da vida humana, a mulher-desejada, solicitada para o prazer amoroso, perecível, somente perfeita e bela durante a breve mocidade - não mais a eterna estátua grega e sim como a rosa bela e perfeita apenas por um dia; daí, duas posições antagônicas: ou gozar os prazeres ou voltar-se para Deus como o único refúgio ou segurança. --- Símbolos que traduzem a efemeridade, instabilidade das coisas e fugacidade do tempo: fumaça, vento, neve, chama, água, espuma, fogo - concepção barroca de mundo, visto como metamorfose contínua.

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BARROCO NO BRASIL - Século XVII e primeira metade do século XVIII: consolidação de uma aristocracia colonial; cada vez mais comerciantes estrangeiros; transformações sociais-econômicas-culturais provocadas pelas invasões holandesas e francesas; apogeu e declínio da cana-de-açúcar no Nordeste; ação dos bandeirantes e descoberta do ouro, principalmente em Minas Gerais. --- Grande expressão do barroco no Brasil - GREGÓRIO DE MATOS GUERRA, baiano, nascido em 1633, primeiro poeta efetivamente brasileiro, isto é, com sentimento nativista, mas ainda sem isolar a Colônia da Metrópole. Do poderoso crítico social, poemas que refletem a sociedade brasileira da época; obra lírica (amorosa e sacra), religiosidade e sátira mordaz - a caracterização dos tipos sociais de seu tempo lhe granjeou enorme fama, perseguições e temporário exílio. --- Talento da persuasão foi o padre ANTÕNIO VIEIRA, mais famoso orador sacro do Brasil-Colônia, conceptista e não gongórico, uso de silogismos ou pergunta-resposta (ele mesmo, no alto do púlpito), circunstâncias de causa e efeito, desenvolvendo a idéia no sentido da persuasão retórica, raciocínio final complexo. Importantes documentos históricos, cerca de 500 cartas, em linguagem mais simples, sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, a Inquisição, os cristãos-novos e a situação da Colônia. Dezesseis volumes de quase 200 sermões publicados entre 1679 e 1748 e três obras de profecias - atritos com o Santo Ofício (1649), prisão temporária, talvez por acreditar na possível volta de Dom Sebastião, desaparecido em Alcácer-Quibir, tal fato profetizado (?) na Bíblia. “Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal” - pregado em 1640 na Igreja de N. S. da Ajuda, quando os holandeses cercavam a cidade de Salvador. --- Silogismo - Argumento formado a partir de duas proposições, as premissas, para obter uma terceira, a conclusão. Exemplo: Todos os homens são mortais; Pedro é homem; logo, é mortal.

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A crítica impressionista do século XIX observou como um dos principais aspectos da estética barroca o sentido religioso, místico, exuberante e de caráter ascensional, a presença de Deus se agigantando em detrimento do próprio homem, isto em todas as artes, refletindo o espírito e a cultura da época. --- Em esculturas, não vemos cenas macabras e horripilantes e os trabalhos de maior relevo são os do ALEIJADINHO, principalmente em Congonhas do Campo - Minas Gerais: imponentes estátuas de doze profetas.

LEIAM meus trabalhos “Andorinha”, “Os sinos do Brasil Colonial” e “Dona Gregória é de morte...”

FONTES:

Pot-pourri de recortes de livros didáticos, sem identificação possível.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 08/07/2017
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