COMENTÁRIOS SOBRE UM "ZÉ", BRASILEIRO QUALQUER
(E se eu fosse “José Rubemar”???)
Poema JOSÉ, de CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE:
Reflexões existencialistas sobre o futuro e as incertezas. Época: II G M e ditadura Vargas.........
Sentimento do mundo, a espera no coração do poeta, agora se projeta para fora.
Sentimento de solidariedade e identificação do poeta a um homem do povo, JOSÉ, encarnação do próprio poeta ou de qualquer ser humano semelhante a muitos, sofrendo todas as dificuldades e dores da vida, vivendo teimosamente, sem nenhuma perspectiva, nem mesmo ‘para onde ir’... “José, para onde?” - porém, embora despejado de qualquer esperança, continua vivendo e lutando.
Nome simples, comum, vulgar, símbolo do ‘zé-todo-mundo’; em todo caso, um ser humano... na realidade de um universo cada vez mais agressivo, campo de problemas (a maioria complicados teoremas ‘quase’ insolúveis), dúvidas terrivelmente angustiantes e de impasses --- não realizado e atuante, um frustrado, um solitário, desencanto em relação à vida, falta de perspectiva do homem, alguém sem objetivo, daí desesperançado.
Versos em redondilha menor porque tal ritmo se adéqua perfeitamente à intimidade, singeleza e espontaneidade das ideias.
Estrofe 1 - questionário a José: o que fará de sua vida? - basicamente sem nome (=João-ninguém), escarnece dos outros e por certo os outros dele, protesta, manifesta-se contra --- “você que é sem nome” = sem títulos, sem riquezas etc. --- “...a noite esfriou” (repetição na segunda estrofe) - sofrimento físico de abandono.
Estrofe 2 - JOSÉ nitidamente abandonado: segunda estrofe - versos 12 a 14 - “tudo acabou / todo fugiu / tudo mofou” --- poeta deseja figuradamente intensificar o sentimento de abandono, tornando-o um sofrimento quase físico - tudo lhe falta, até discurso (trabalho perante o povo), nada é permitido - beber, fumar, cuspir -, nada veio, nem a fantasia utópica, tudo se encheu de mofo.
Estrofe 3 - posses dele são utópicas ou desejo vão de maior quantidade, não reais: abstinência de alimentos, negativa produção de minério, incoerências-contradições.
Estrofe 4 - possibilidades de alterar o destino, porém muitas vezes já é tarde para determinadas coisas - por exemplo: de que vale a chave se não mais existe porta? - “Com a chave na mão (...) Minas não há mais. E agora, José?”
Estrofe 5 - ritmo dançantes nos 7 primeiros versos - obstinado, não se dá por vencido - “Se você gritasse, (...) se você morresse... Mas você não morre, / você é duro, José!” - extremo da possibilidade sugerida como extrema mudança de destino: a solução seria a morte para um forte, com saúde?
Estrofe 6 - nitidamente abandonado: versos 1 a 7: “Sozinho no escuro (...) que fuja a galope,” --- sem teogonia, sem relação com a divindade, sem deuses, sem credo, sem religião - “José, para onde?” - José sem nada, sem norte, sem rumo... --- questionamento constante, “E agora, José?”, o levaria a refletir?
F I M