O ALTER EGO FALA SEM PENSAR

O ego não é capaz de se comunicar em linguagem poética, somente o alter ego, aquele que se não impõe limites nem se restringe quanto à terminologia de sua fala, construção gramatical e disposição inicial dos versos. Estes registros, em algumas vezes, insanos ou inusitados, afloram pejados de intensa emoção, como quem chega dos territórios do inconsciente ou dos campos do Nada, tomado de surpresa e inquietações, em sua tentativa de superar o momento hostil e as vicissitudes que o acompanham. O senhor alter ego – mercê de sua natural codificação de linguagem – tem uma sinceridade de propósitos e uma franqueza que nos deixa muitas vezes boquiabertos e nos faz cair de joelhos, mãos postas, impotentes frente ao Absoluto. Talvez a impotência de ser ele-mesmo e por falar sem pensar o que sente... Aquilo que Fernando Pessoa firmou para a posteridade, ao assinar o poema: Fernando Pessoa-ele-mesmo-o-outro.

– Do livro OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/17.

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