UMA AULA SOBRE CAMÕES

PARTE I

PETRARCA - mundo exterior não atinge o poeta // CAMÕES - o que importa em tudo é a morte: poeta desesperado --- Dinamene, mulher nas águas que a afogaram: “Alma minha gentil que te partiste...” - sofrimento eterno pela mulher eterna, agora no céu. // “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, efemeridade das emoções e da vida - um dos temas que mais o perturbou foi o DESCONCERTO DO MUNDO (PETRARCA não fala em “absurdo”) - injustiças; maus têm prêmios, bons são castigados; na ambição e tentativa de guardar bens que acabam no nada da morte; sofrimentos constantes que aniquilam as prováveis conquistas; conflito violento entre o ser e o dever ser; problemática individual esbarra no nihilismo --- “Quem pode ser no mundo tão quieto / ou quem terá tão livre o pensamento / (ao) / ver e notar do mundo o desconcerto?” // CAMÕES, solução mística simples: descobrir um pensamento (Vontade Divina) atrás do desconcerto aparente do mundo / o melhor é crer em Cristo (não solução racional), / Poeta subjetivo - natureza tipo “canção de amigo”: barcarolas, confidente, fontes claras, pássaro triste, natureza renascentista; natureza noturna e romântica, escuridão, vogais fechadas e escuras. // Conflito dos três estilos: a---coloquial - linguagem cotidiana (menos importante), cartas não-literárias e autos; /fundamentais, a seguir/ / b---engenhoso - herança do Cancioneiro Geral - conceituoso, adaptado à glosa de mote /próprio ou alheio/ mais ou menos breve (composições curtas, redondilhas): quanto melhor o desenvolvimento, melhor o engenho do autor; jogo de palavras, entonação; dualidade, dupla significação de uma única palavra (exemplo: pena, especialmente na sextina - dor, castigo, pena de escrever); substancializou uma qualidade do objeto (cabelos de ouro = ouro); linguagem hermética, polissêmica, metáfora; poesia do século XVIII, conceptista; beleza da dama não vem da natureza, ela é que distribui o belo à natureza (neo-realismo platônico), o belo ideal - platonismo camoniano, mais que estrutura, é uma linguagem / c---clássico - lado oposto, palavra é comandada e serve para cingir e imitar o sentimento, explanar o discurso interior, comunicando fluir emocional; corpo da palavra ilustra conceito e pensamento; expressão, serva do objeto; estilo engenhoso, adjetivações, onomatopeias, aliterações, o colorido, a descrição; imagem, recurso descritivo; estilo clássico expõe doutrinas abstratas e estados emocionais; palavra é transmissora de experiências /estilo engenhoso analítico, sintético e clássico/. Estilo clássico desenvolvido após assimilado, quase Romantismo // Sua LÍRICA, sobretudo poesia amorosa: amor (influência de PETRARCA) / mulher (poeta se põe diante e abaixo da mulher: PETRARCA) - criação subjetiva mental, porém não união carnal; ideia e não mulher concreta; representa o que poeta não tem: existe como ausência. // LAURA é a mesma, viva e/ou morta - diferente de Vênus - mulher inacessível e intocável ao poeta (casada); ausência e amor não correspondido; calmo, sem episódios ou esperanças; dois pólos: poeta-sujeito, amada-objeto. // CAMÕES - vida e amor perturbados pela não-sorte vida em desacerto, próximo ao absurdo - se amor correspondido, vem a morte e acaba o amor; mudança em todos os sentidos: amor e não-amor, felicidade e infelicidade, juventude e velhice; desconcerto do mundo, constatação do absurdo do mundo. // Dedicou “Os Lusíadas” ao rei D. Sebastião, o que valeu ao poeta uma pensão de 15 mil réis ao ano, mas nunca recebeu o benefício com regularidade; morreu na miséria, num hospital, enterrado como indigente. Escrevera a um amigo: “E assim acabarei a vida, e verão todos que fui tão afeiçoado à minha pátria, que não somente me contentei de morrer nela, mas de morrer com ela.” --- 1572, publicação de “Os Lusíadas” / 1578, morte de D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir / 1580, passagem de Portugal para o domínio espanhol e morte de Camões. // OBRA LÍRICA - Vênus afronta-se com a mulher amada (PETRARCA): mulher possível de tato, amor carnal, desejo, ele vil por causa desta mulher. CAMÕES, mais contido na lírica, mais carnal na epopeia: em “Os Lusíadas”, prêmio dos nautas foi a contemplação das ninfas nuas na ilha dos Amores (homem, ser superior: paixões valorizadas - essa exterioridade contrariando os princípios da moral cristã);

Vênus, afirmação do sensível (diferente de Laura, que é negação) - Vênus quebra o feudalismo (diferente de Laura, ela suzerano, ele vassalo)

PARTE II

“OS LUSÍADAS” - Feitos de armas e viagem - ilustres varões que deixaram as praias de Portugal, enfrentando o mar desconhecido; viagem marcada por guerras e perigos; descoberta do caminho para as Índias, colonização em terras asiáticas, ampliação do reino português e do catolicismo, combate aos mouros. Heróis portugueses colocados de todos os outros heróis antigos. / Portugal, uma cultura em desenvolvimento. Povo português representado por uma galeria de personagens históricos. / Supervalorização do homem, capaz de vencer até mesmo aos deuses - aventura em busca de novos horizontes, expansão marítima e poder territorial. // TRÊS colunas básicas do RENASCIMENTO (final do século XV e século XVI) no poema:

a--UNIVERSALIDADE - não limite a um espaço geográfico ou comunidade, mas expansão da cristandade a novos horizontes e aventuras de descobrimentos transoceânicos. Homem = humanidade. / b--ANTIGUIDADE - estética e modelos do clássico pagão greco-romano / c--HUMANIDADE - ampliação dos limites do mundo medieval - novo conceito do homem ocidental: ciência+técnica+ação - homem como centro de tudo: ANTROPOCENTRISMO, o super-homem do século XVI lança-se por mares desconhecidos à procura de novos mundos // POEMA , estrofes 1-2-3 - SELEÇÃO VOCABULAR - ambiência sugestiva que fala da expansão do povo português: armas, barões, mares, perigo, reis, navegações, vitórias, vale mais alto, “nuca de antes navegados”... / ELEMENTOS FÔNICOS - a) estrofação - total de 1102 estrofes oitavas decassílabas , 8816 versos -- b) rima soante (total semelhança de sons a partir da sílaba tônica) e pobre (mesma classe gramatical - exemplo: adjetivos “gloriosas-valiosas”) -- c) sintaxe - primeira e segunda estrofes - ordem direta das orações corresponde à ordem lógica das ações // ESTROFES 1 E 2 - poeta cantando espalhará por toda parte, ajudado pelo ENGENHO /faculdade conceptiva do poeta/ e pela ARTE /poder de realização artística/: as armas (feitos de guerra) e os barões (nobres navegantes), que de Portugal chegaram até a Índia); também reis que fizeram a história de Portugal (novo império português fundado em terras africanas e asiáticas) e heróis mortos (porém inesquecíveis) / ESTROFE 3 - “Cesse tudo o que a antiga Musa canta, / que outro valor mais alto se alevanta” - heróis portugueses dos séculos XV e XVI a quem até os deuses obedeceram. // SITUAÇÃO do poema nos quadros da CULTURA - valorização do homem renascentista e elementos da cultura HUMANISTA, o ANTROPOCENTRISMO. Conceito do homem integral, senhor do mundo e sedento de conhecê-lo totalmente. // CAMÕES, o autor - amplo conhecimento geográfico, histórico, náutico, social, literário e científico da cultura do seu tempo - o genial CAMÕES.

PARTE III

HOMENAGEM no livro “Apontamentos de história sobrenatural

Poemeto “Fragmento de ode” --- Camões, / Seu nome retorcido como um búzio! / Nele, sopra Netuno...” --- MÁRIO QUINTANA

FONTE:

Um velho caderno universitário (1972), achado num baú.

F I M